existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
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Mai 07
publicado por alemvirtual, às 17:07link do post | comentar | ver comentários (7)

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Há muito tempo que não corro. Há muito tempo que não escrevo.

Parece que passou uma eternidade, mas passaram apenas duas semanas. Como dizia Natália Correia num seu belíssimo soneto "tudo é eterno num segundo" .

Há apenas uns dias atrás, buscava alento e conforto na corrida e em algumas palavras que tentavam exorcizar fantasmas. Não sei se conseguia, mas tentava. Tinha coragem e força para isso. Participava nas corridas e era feliz nesses momentos. Agora, creio que corria, mas era numa fugida louca da realidade. Numa corrida sem tréguas contra o desânimo que eu impunha a mim mesma.

 

Hoje, não posso escrever. A realidade é sofrida em demasia para caber em palavras. O presente tão presente e o futuro tão incerto que não permite ser expresso numas quantas frases soltas.

 

Não sei quando voltarei a correr. Não sei se voltarei a calçar umas sapatilhas e a sair por aí, contra o vento e os pensamentos negros que teimava em deixar atrás da porta fechada.

 

Comecei uma outra corrida e, agora, quero ver portas abertas e barreiras caídas. Porém só vislumbro portas fechadas e barreiras erguidas. Nesta corrida não preciso de sapatilhas e o treino faz-se à medida que os minutos se escoam e as horas dão lugar a outras horas...

 

Perto de mim, há uma pessoa que não desiste, que teima em vencer e em viver: é a minha filha. Faz uma corrida solitária contra um invasor mortífero. Luta desigual, mas luta heróica da sua parte. Gostaria que todos a conhecessem e que o seu exemplo de vida, de coragem, de abnegação, pensando nos outros mesmo quando o seu sofrimento é atroz, fosse lição de vida para muitos. Quantos desperdiçam a própria vida...quantos desejariam poder viver...

Talvez um dia, quando o tempo permitir algum distanciamento tente pôr em palavras a sua história de vida. Ficará sempre aquém do seu testemunho maravilhoso de fé e coragem. Será um pálido reflexo do ser angelical que Deus quis me dar por filha, mas dá-la a conhecer será o mínimo a fazer, tentando infundir coragem a quem se sentir desalentado.

 

Aguardo um milagre e não quero perder o fôlego na sua súplica. Como quando comecei a correr..."se correrres e não conseguires falar é porque estás a ir depressa demais". Mas eu quero uma estrada para o céu para nela correr e ainda que chegue ofegante, bastar-me-á que num derradeiro sopro de vida, consiga alcançar a minha prece.

 

Aqui, neste mundo virtual, a quem existir com fé, peço que se juntem a mim em oração nesta luta pela vida.

 

Por ironia, a última prova em que participei foi precisamente numa corrida contra o cancro...

 

Bem hajam.

 

Ana Paula Pinto

 


07
Mai 07
publicado por alemvirtual, às 09:45link do post | comentar | ver comentários (18)

 

Sob um sol fulgurante lutando contra uma réstia de neblina matinal, se fez uma corrida de esperança perene...

Em cada passada se evocavam  batalhas travadas e vencidas, lutas perdidas, risos e lágrimas sentidas ao sabor da crueldade de uma doença que, no dia 5 de maio, teimámos em vencer. Naquele que foi um pequeno contributo para um dos maiores desafios da humanidade na área clínica, 3000 pessoas uniram-se, vestiram uma camisola ilustrada pela mão de quem convive diariamente com esse inimigo silencioso, de quem vê a sua juventude ensombrada pelas paredes frias de um hospital e mostraram que não se pode "fechar os olhos ao cancro" (este era o slogan dos bonés distribuídos gratuitamente).

 

Foi na véspera do Dia da Mãe. Quantas mães ali estiveram presentes...quantas corriam pelos filhos...pelos maridos...pelos pais e pelas mães...

 

Eu corri, ou melhor, andei mais que corri. Arrastei-me durante aquele percurso, lindo, luxuoso, singular como é o Parque das Nações, naquele momento, o Parque de Todos os Sonhos. Até da água do Tejo, que se espraia já sobre as areias do mar, se levantaram sonhos e povoaram a calçada onde corremos.

Doía-me o pé, coxeava, era a imagem do esforço, mas nada comparável a um outro esforço, a uma outra coragem que tão bem conheço...

E foi ao encontro desse outro olhar de coragem, desse outro esforço constantemente renovado que partimos...

A ela lhe entreguei o meu boné e a camisola com que tinha corrido.

Nela encontrei o mesmo sorriso rasgado nuns olhos cada vez mais tristes...

 

 

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À espera do "vulcão de água"

 

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Ao lado direito, sobre uma ponte no rio, já os mais adiantados corriam pela esperança

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Um aspecto do largo do Pavilhão de Portugal, onde nos inscrevíamos, recebíamos t-shirts e bonés, gelados, água e diploma

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Os braços intrincados desta árvore, fizeram-me lembrar o labirinto que se percorre para vencer o cancro...por detrás de cada nó, uma flor aparece...para não perder o alento, para mostrar que há vida...

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"Não feche os olhos ao cancro"

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Portalegre...Casa do Poeta José Régio...

 

Cântico Negro...

"Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

 

(Essa é a nossa vida e o cancro)

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Um sorriso, à chegada...

Foi por ela que corri

 

Será por ela que, na terra sua eleita, irei tentar os 30 km...tudo para lhe ver mais um sorriso

 


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