existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
17
Nov 07
publicado por alemvirtual, às 20:54link do post | comentar | ver comentários (2)

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Estavas em Constância. Atrás de ti, o Tejo e um pouco abaixo, à esquerda, o Zêzere. Estavas mesmo na confluência, no encontro e no abraço dos dois rios.

Foi em Maio, dia 6. Dia da Mãe.

 

Agora, repousas bem no alto, num jardim sobranceiro ao rio e a alta torre da Igreja parece assinalar, desde longe a quem passa, a tua presença ali. És a flor mais bela que passou por Constância. A Vila-Poema ficou contigo, poema vivo que habitou entre nós. Era o único lugar ao qual confiar a tua doçura. Constância vela o teu sono.

No Zêzere reclinas a cabeça e o Tejo acaricia-te os pés. Os rios sussurram baixinho canções de embalar. Há paz. Nada perturba o sono eterno da menina (o nosso poeta diria donzela), da estrelinha azul.  

De vez em quando, uma lágrima furtiva, silenciosa denuncia a imensa dor que nos ficou...

 

"roga a Deus que teus anos encurtou

que tão cedo de cá me leve a ver-te

quão cedo dos meus olhos te levou"

 

 (do nosso bem-amado poeta Luís de Camões)

 

Hoje fui correr no Parque da Paz. Nunca mais lá tinha voltado. Tu sabes...

As recordações inavdiam-me e invadem-me ali ou noutro lugar. Memórias soltas, avulsas, na ânsia de tudo fazer presente. De tornar presente o passado que não volta. Pensamentos e frases incoerentes verbalizam palidamente a riqueza que me legaste. A luta pela vida. Eu luto e corro. Gestos mecânicos, automatizados porque já nada é feito naturalmente.

Falo de ti. Adoro falar de ti. Até a quem não te conheceu.

Preparo-me para a aventura a que tu adorarias assistir. Correrei com a esperança que tu me vejas e acompanhes.

No dia 2, três meses e um dia depois de te ter deixado em Constância, irei correr por ti. Eu e quem mais quiser fazê-lo.

Um dia, talvez tenhas uma Corrida com o teu nome...multidões correrão, apoiando simbolicamente, a luta pela dignidade da vida, contra o cancro e contra a dor. Será uma "luta" pelo acesso aos cuidados paliativos. Um dia, chamaremos a atenção para isso.


11
Nov 07
publicado por alemvirtual, às 17:37link do post | comentar | ver comentários (2)

3ª Edição da Corrida da Saúde, a minha segunda participação, nesta prova.

 

O ano passado corri os 6 Km, enquanto junto ao Hospital Amadora-Sintra, a Margaret e o Luís aguardavam. Hoje, não vi o seu sorriso de orgulho, nem ouvi os seus incentivos mas correu comigo porque esteve no meu coração e, sempre, no pensamento.

Na mini (6 Km), este ano, participaram 5 pessoas que me são muito queridas: o Miguel (meu filhote, por isso merece este destaque, a Mafalda, a Filipa (a namoradinha do Miguel), o Daniel e o Luís. Este ano, fui eu a ficar toda orgulhosa por ter conseguido levar o Miguel à caminhada. Não foi tarefa fácil, mas com o incentivo de poder ganhar o carrito, ele lá foi. Aliás, fomos quase todos. A "troupe" quase ficou completa...

 

A manhã começou agitada. Ando sempre a trezentas rotações por minuto (como costumo dizer)...Ah! se corresse assim!!

 

Dar comida aos cães apanhar roupa, estender roupa, servir o pequeno almoço, orientar a mais pequenita, tomar banho, vestir...ufff!! fico cansada só de recordar...e mais cansada estava quando entrei no carro.

Saímos de casa e eu ainda sem saber se conseguiria aventurar-me nos 15 Km. Fomos a Lisboa buscar o Miguel,a um ponto, a Filipa a outro e o Daniel a outro. Alguns enganos e  sentidos proibidos inesperados, fizeram-nos tomar a estrada rumo à Amadora, cerca das 9h 30 minutos.

Chegámos quase às dez horas. Eu e o Daniel adiantámo-nos e em passo de corrida (foi o único aquecimento que fizemos) fomos ao encontro da nossa equipa para receber os dorsais. Fiz o percurso inverso, cada vez mais em cima da hora de partida, mas a "malta" da caminhada já estava próxima.

"Há tempo para uma foto?"

"Não. Vai ".

Nesta lufa-lufa, preguei o meu dorsal com o único alfinete de que dispunha, coloquei o chip no sapato e lá fui eu. Já o tiro de partida tinha soado, mas com cerca de 5000 participantes, ainda tive que esperar para poder passar a zona de partida.

A estrada ganhou vida.

Ao longe, via a imensa massa humana que a cobria, inteiramente,  perdendo-se de vista no ponto em que se começa descer. Como animal colorido, pulsante de vida, pronto a explodir por não conter mais em si, aquela força avassaladora...E eu ainda ali, perto do início...Correr, só em ziguezague e esgueirando-me nos intervalos ou por cima do passeio. Acho que é a parte mais divertida...todos devem pensar que corro muito, quando me vêem abrir caminho (gosto disso). Não sabem é que gastei 1h 23´ 48´´ para cumprir os 15 Km! (Bem, nada mau, atendendo à falta de treinos, aos cigarros - que recomecei, infelizmente- e à má alientação que agora faço).

 

Voltando à prova...

 

Foi duro o percurso. Subidas e mais subidas. Graças a Deus que, conforme diz o povo "o que se sobe também se desce", mas eu discordo, ou se é verdade, nem dou por isso... Agora, as subidas que dou por elas, dou...e eu gosto de subidas! Se fosse mais nova, adoraria fazer percursos de montanha.

 

Toda a prova disse "disparates" e gracejos. Acenei às pessoas à janela, às que estavam à beira da estrada, às que batiam palmas e às que não batiam...Aplaudi, incentivei, conversei quase todo o percurso.

Com alguns dos meus companheiros do Clube do Sagento da Armada, fiz deste dia, um dia quase de festa. A imagem que passamos aos outros deve ser animadora e o meu grupo é sempre tão soildário e carinhoso comigo...

 

Como tem vindo a ser hábito as minhas "chefinhas" do Clube que estão lesionadas e não podem correr muito, vieram ao meu encontro perto da da chegada. Adoro quando elas fazem isso...

Cheguei ainda em "bom estado". Mentalmente fiz o balanço e considerei positiva a minha prestação. Creio que corri melhor, sentindo-me sempre leve porque sabia que o Miguel e o resto do "pessoal" estava à minha espera. Sobretudo ele.

 

Reunimo-nos, em vão procurando uma sombra. Nem os sol quente fez demover os participantes. Todos, incluindo o nosso grupo, aguardavam o tão famigerado automóvel. Entre nós, era grande a expectativa. Penso que quando se ganha, ainda que o prémio seja irrisório, se fica feliz. Imagine-se um carro!!

Pois, mas infelizmente para nós, o número sorteado não correspondia a nenhuma das nossas senhas...que pena...fica para o próximo ano.

Mas eu, em tom de brincadeira sentenciei:

"Com este percurso, para o ano, só se correr por 2 CARROS! "

 

Não, a sério...mesmo sem carro e sem prémio algum, vale a pena ir correr por uma boa causa. E que causa poderá haver melhor que a Saúde?

 

Que o Hospital Amadora Sintra (Fernando da Fonseca) continue a promover estas iniciativas. E que outros lhe sigam o exemplo.

Promover acções de aproximação das instituições de saúde aos cidadãos, neste caso particular, incentivando a adopção de hábitos de vida saudável, são objectivos dignos do maior louvor.

 

A opinião da mais pequena:

 

Eu gostei da prova. Por dois números não me saiu o automóvel, infelizmente. Gostava que no próximo fim--de-semana houvesse outra prova igual, para ver se saía o automóvel.

Mafalda

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A partida

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Os "chefes" do meu Clube e a Mafalda

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Em plena caminhada, a Mafalda e o Luís (o pai babado)

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Os meus caminhantes: a Mafalda, a Filipa e o Miguel

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O Miguel "tipo" a disfarçar...a Filipa com muita elegância

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O descanso merecido do Daniel, após 1h 14´, nos 15 Km

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À chegada

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Aqui, de costas, até parece que engordei!!

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O MIguel

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A Mafalda e a Filipa

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Dispersando, após o sorteio

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A foto de "família"


05
Nov 07
publicado por alemvirtual, às 13:36link do post | comentar | ver comentários (2)

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Foi a prova mais bonita e animada em que participei.

Mesmo antes da partida, ainda pensava que seria um feito impossível de concretizar. Algo épico, correr X Milhas, digno de figurar entre as maiores façanhas da minha vida...Não estava minimamente confiante nessa capacidade, não me apetecia acreditar, nem tão pouco esforçar-me por conseguir.

Cheguei ao local da partida, onde todos já estavam em pleno período de aquecimento, havia algum tempo.

Muita gente na rua em Vila Real de Santo António. Uma banda animava o ambiente e o aquecimento fez-se ao som da música.

 

Com o equipamento do Clube do Sargento da Armada e o dorsal 450, alinhei junto dos meus amigos e colegas de equipa que me iriam acompanhar durante toda a prova. A nossa "chefe" tinha repetido vezes sem conta "Vais com eles. Não desistes. Não avanças demais. Nem ficas para trás. Sempre com eles." E assim foi. Eu com eles e eles sempre comigo. Foram o meu apoio e o meu ânimo. As minhas forças e as minhas pernas. O físico e o psíquico numa tentativa de equilíbrio. Eles sempre comigo, sempre lado a lado. Sempre de mãos dadas. Obrigada Isabelinha e Pacheco.

 

11 horas, soou o tiro de partida. Não sei ao certo quantos foram os participantes, mas talvez mais de meio milhar.

 

O percurso é lindo. Sentindo o mar por perto corremos ao lado dos terrenos pantanosos e alagados do Guadiana. Cegonhas e gaivotas. Pombos e outras aves eram uma mostra da riqueza da vida por aquelas paragens.

O sol brilhava num céu imaculadamente azul. Forte demais neste Novembro mais primaveril que outonal. Recorremos a todos os abastecimentos de água, estrategicamente colocados de 4 em 4 Km.

Ao longo de todo o percurso muita gente a assistir. Alguns parados por condiconamento de trânsito, mas todos bem dispostos, gritavam palavras de incentivo em espanhol e em português...batiam palmas e sorriam.

Reinava um clima de companheirismo e alegria nos corredores. Gracejos e risadas tornaram os quilómetros da prova diminutos, a distância pareceu desvanecer-se e o relógio ter avançado demasiado depressa.

Via-se o rigor com que a prova tinha sido organizada: no policiamento, na abundância de água, na cobertura televisiva e fotográfica, nas centenas de placas nos coletes onde se lia "Organização".

 

Chegámos à ponte ao minuto 45. Aí o Daniel deixou-nos. Era o quilómetro oitavo e o ritmo do nosso grupo era vagaroso demais para a sua juventude vigorosa. Comecei a vê-lo distanciar-se naquela subida...Orgulhosa da sua capacidade respondi ao Pacheco quando ele me perguntou : "O miúdo?". "O miúdo já lá vai. Corre muito"...

Continuámos no nosso passo lento, conversando, acenando aos carros que passavam e contando pequenas histórias.

Os quilómetros sucediam-se. Chegámos a Espanha e já as nossas amigas e colegas de equipa, Adelaide e Magnífica (que por estarem lesionadas não participaram) nos aguardavam na rotunda que antecede aquele que era o meu "papão" da corrida: a subida até Ayamonte. Tinha ouvido cobras e lagartos. "Não vou conseguir, pensava. Ainda se fosse ao início..." Mas consegui.

Cá em baixo estendia-se um maravilhoso cenário de ilhotas pantanosas e pequenos nichos de canaviais. O rio era mais azul que o céu. Dei graças por aquela beleza. Por poder ver e por ter subido. Por estar a descer uma avenida ladeada de maravilhosas  rosas vermelhas que fazem lembrar o amor e aquecem ainda mais o coração. Por estar viva. Por poder correr. Agarrei a minha estrelinha de cristal azul e pensei que quando chegasse ao fim, me atiraria para o chão a chorar. Que iria desfalecer de saudade e de angústia por não poder telefonar para um número a dizer "Cheguei". Mas não. Nada disso aconteceu.

Entrei no estádio e recebi um saco com duas sanduíches, uma maçã, uma água, uma t-shirt e uma medalha. Com a medalha ao pescoço, beijei os meus colegas e disse apenas "Obrigada".

Voltei e telefonei ao meu filho. Agora é só a ele, mas sei que ela sorriu o tempo todo.

"Cheguei".

"Boa, mãe. Quanto tempo?"

1 hora e 31 minutos.

Foram, sem dúvida os melhores tempos dos últimos tempos da minha vida.

Quando não imaginava ser possível...

X Milhas do Guadiana a lembrar X Motivos para viver...

A Vida. A Família. Os Amigos. O Céu. O Sol. O Mar. As Gaivotas. A Música. A Corrida. A minha Estrelinha Azul.


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