existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
28
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 14:02link do post | comentar | ver comentários (1)

 

Ainda sem treinos.

Ainda com muita "ferrugem" nas dobradiças.

Ainda com muito alcatrão nos pulmões.

 

Vou partir da estaca zero e calçar umas sapatilhas. Devem agarrar-se à estrada de tal modo que, os mal pesados 44 kg,  se transformarão numa tarefa hercúlea de arrastar o esqueleto alguns metros.

 

Seja como for, dentro de poucos dias, quero estar a chegar à Meta, após ter corrido (21,097.5 metros), o que corresponde à distância da Meia Maratona.

 A prova será realizada em Setúbal, dia 11 de Maio e eu QUERO estar lá.

 

Que probabilidades de conseguir? Não quero saber. Vou tentar.

 

Se isto fosse uma corrida de cavalos, ou de galgos, ou um combate de boxe ou...haveria apostas e, algum louco, apostaria em mim. No mais fraco. Às vezes, os fracos também vencem. Acasos do destino? Sorte de principiante? Os deuses protegem os loucos.

Eu sou louca quanto baste.

Em Dezembro, na Meia Maratona de Lisboa, eu e a Ana, gastámos 1h 56 ou 58 minutos (já nem me lembro). Em Maio, posso até terminar ao pôr do sol, ainda assim, o importante será terminar. Mas se não chegar ao fim, paciência. Valeu a intenção com que me proponho participar nesta prova.

 

Até no fracasso podemos descortinar vitórias.

 

DEPOIS DO TREINO

 

 

Fui a correr até à pista, cerca de 800 m (ou pouco mais). À terceira volta na relva, pensei que não ia conseguir mais. Tal como previa, o corpo era pesadíssimo, pés feitos de chumbo, pernas de cortiça e a respiração...ai a respiração...malditos cigarros!

Mas quanto mais me custava, mais eu insistia.

Recomeçar é bem pior que começar qualquer coisa pela primeira vez. Há sempre termos de comparação. Sentia-me abaixo de cão.

Entretanto junta-se a mim, um senhor. Sempre que o vejo corre comigo e oferece-me flores. Um malmequer, uma rosa, uma papoila...

Fiz algumas voltas com ele, embora o ritmo fosse elevado de mais para mim (não há muito tempo era ele que se esforçava por me acompanhar).

Vou de novo para a relva. Penosamente lá me arrasto mais um tempo.

Entretanto vejo chegar a minha amiga SANDRA.

Foi um bálsamo. Não sei como, mas voltei a encontrar aquela agradável sensação de me sentir livre a correr. E eu estava quase a desistir, pois sentia-me presa. Presa no meu corpo, presa nos pensamentos, presa a isto, presa àquilo...presa em mim.

 

A vida é um sofrimento, mas tem momentos gratificantes. Talvez até de quase felicidade. Momentos de ternura. Recordações. Passado. Presente. Beijos. Olhares. Encontros. Reencontros. E encontros adiados.

 

 

Só parei porque impus a mim própria um tempo limite. Corri 59´ e 06´´´.

 

Tenho pressa...

Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de de febre a arder

Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer

Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão

E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vem levantá-lo do chão
ninguém vem levantá-lo do chão

Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

 

 

 

 


26
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 21:25link do post | comentar

Outros anos, comemorei o 25 de Abril integrando comemorações oficiais. O hastear da bandeira, uma banda filarmónica, discursos, um almoço, mais discursos, distribuição de cravos, cantigas de Abril...

 

Este ano, rumei, não em direcção à liberdade, (essa conquisto-a um pouca cada dia) pois em sentido global, militares valorosos, há muito a conquistaram para mim, mas em direcção à homenagem que a expressão criativa e, sobretudo, a amizade ditaram que acontecesse.

 

A minha filhota tinha amigos. Não muitos pois era selectiva e, entre conhecidos e amigos, sabia ir uma grande distância. E quando os momentos difíceis batem á porta, apenas os fortes permanecem.

 

A Diana era amiga.

 

Ontem, dia 25 de Abril, inaugurou a sua primeira exposição de pintura a título individual.

Fazia questão que estivesse presente. Tinha "uma surpresa". Eu, imaginava umas palavras em memória da Margaret. Mas não era apenas isso. Tinha uma pintura, representando uma época simbólica demais, importante demais, para que possa ser expressa em palavras. Só nós a entendemos. Foi  "a época mais feliz da sua vida".

 

Fora do contexto da temática da exposição "Com destino a...", a tela da Margaret destacava-se.  As palavras da Diana emocionaram todos os presentes. "Dedico esta exposição à minha grande amiga Maggie (era assim que lhe chamava). Ela está sempre presente. As nossas viagens seguiram caminhos diferentes, mas encontro-a em cada passo"

 

"Com destino a..."está patente em Torres Vedras, numa galeria em frente à Escola Secundária. A tela da Maggie, já está no Entroncamento, no seu quarto de solteira.

 

Obrigada Diana.

Parabéns.

 

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a Diana e a Maggie

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a lápide com a medalha que conquistei na primeira ( e única) meia-maratona e que lhe foi dedicada

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uma das obras mais elogiadas

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a "amálgama" de flores que todos os dias invadem a sua sepultura

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as flores que hoje lhe coloquei

 

 

JÁ É TEMPO, SR. PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE CONSTÂNCIA E MEU AMIGO, ANTÓNIO MENDES, DE AUTORIZAR A COMPRA DA SEPULTURA E A COLOCAÇÃO DE UM REVESTIMENTO, NÃO ACHA?

 

A MARGARET ( E OS OUTROS QUE EM CONSTÂNCIA REPOUSAM) MERECEM MAIS QUE ESTE PUNHADO DE AREIA.


23
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 22:26link do post | comentar

 

Momentos de quase desistência, de rendição às adversidades que surgem. Às inevitáveis e àquelas que poderíamos evitar (se tivessemos o dom da proemonição); às controláveis e às que humanamente não se podem controlar;

Momentos que nem são de revolta porque falta energia para tal. Apenas momentos de apatia e entrega.

Há sempre alguém que vela. E o mergulho no abismo é adiado. Talvez só um pouco. Adiado por agora. Faz-se um parêntesis. Apaga-se o pensamento. Castiga-se o corpo em esforços físicos quase além das suas capacidades. Até à exaustão.

 

Na caixa do correio, um envelope almofadado. O nome do destinatário corresponde ao meu. O remetente indica alguém amigo, afastado apenas pelos quilómetros que interpus entre nós.

Abro o envelope e vejo um livro. Leio o título. Não será exactamente "para mim", mas é o suficiente para libertar a avalanche de sentimentos contidos à força. A dedicatória enternece ainda mais aquela inesperada oferta.

 

O cair da tarde, traz consigo outros momentos de ternura. A desistência fica adiada. Por momentos, ganha-se de novo coragem.

 

Obrigada Celestina - amiga de longa data - pelo livro e pela sua mensagem.

Obrigada Adelaide - amiga recente - pela tua presença e pelas tuas palavras.

 

Obrigada ao meu filho, por ser a pessoa adorável que é. 

Obrigada, ainda, a uma outra pessoa.

 

E, sobretudo, obrigada a quem vela por mim.

 

 

O livro começa assim:

 

Em memória de

Aaron Zev Kushner

1963-1977

 

E David disse: enquanto a criança ainda estava viva. jejuei e chorei, pois dizia, Quem sabe se Deus se compadecerá de mim, de modo que a criança viva? Porém, agora que está morta, por que jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei até ela, mas ela não voltará para mim.

 

Samuel II 12: 22 - 23

 

 

 

 


21
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 14:03link do post | comentar | ver comentários (1)

 

Ouvia a chuva furiosa que caía.

 

As bátegas fustigavam a janela do quarto. O vento uivava através das frestas da porta. Deitada, encolhida sobre si mesma, sentia o apelo da corrida. Era um chamamento suave, uma voz cativante. Mas uma outra voz sobrepunha-se e ecoava mais distintamente na sua alma. Para quê?

 

- Não vais à corrida? - perguntaram-lhe.

- Não. Corria porque tinha motivo. Agora, não  tenho motivo, nem para viver.

 

Há obstáculos a vencer. Barreiras erguidas que minam a vontade. Como a ferrugem corrói o metal.

E ficou ali.

 

 

Na véspera, muitas horas antes do anoitecer, já o seu equipamento, cuidadosamente dobrado, tinha sido preparado. As meias preferidas, gastas pelo uso, mereceram alguns sorrisos. Nada disto seria preciso na manhã seguinte. Não lhe iria dar uso e as peças seriam de novo guardadas na gaveta.

 

Outra vez a voz. Agora num sussurro diferente. Há motivo. Tens motivos. Ainda não é tarde demais.

 

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". E as vontades mudam, mais rápidas que o próprio tempo.

 

Cerrou os olhos e juntou-se a eles na praia. Afinal, era lá que queria estar, embora negasse essa vontade. A negação é muitas vezes o nosso refúgio.

Quase sentia o alvoroço reinante, antes do tiro de partida. Quase sentia o vento cantante na crista das ondas. Encrespando-as. Libertando gotículas salgadas acima da espuma da água. Quase sentia o vaivém da água salgada lançando-se moribunda na areia da praia. Quase ouvia o namoro em murmúrios plangentes das vagas do mar nas dunas da praia.

Na face molhada das lágrimas caídas, a chuva lavava os sulcos deixados. 

 

Confundiu-se com um bando de gaivotas e voou ao longo da costa. Esta já era uma experiência conhecida. No ano passado, o mesmo bando tinha-a acolhido. Desta vez, porém, voava mais alto, uma gaivota diferente. O ano passado, tinha-a vislumbrado, por breves instantes. Pensara ter delirado. Tinha-a visto num relance. Mas não. Ela lá estava, ora planando acima do bando, ora perdendo-se de vista na linha do horizonte. Uma gaivota perdida e uma gaivota que não era uma gaivota. Estranha invasão no bando de autênticas gaivotas. Todas gaivotas reais. Duas, para além do tangível, do voo matinal, empreendido todos os dias, daquele bando de penas brancas e pretas.  

Quase podia correr na areia molhada da praia. Fustigada pelo vento. Aquecida pelo sol, espreitando por entre clareiras de nuvens. Encharcada pela fúria diluviana de súbitos caprichos da natureza. A inconstância desta manhã de domingo. Alternando entre a luz e a escuridão. Como ela, ora voando no céu, ora correndo na praia.

Quase podia ter sido assim. Quase podia ter acontecido.

Há quases...

 

Quase podia ter sido.

 

Pouco a pouco, a outra voz impõe-se. Não grita. Não se cansa. Mas persiste.

Cala-se, mais uma vez, a voz do desânimo. Amordaça-se por algum tempo. O tempo pode ser breve...A outra venceu. Tem vencido sempre. Está de atalaia. Procura outras palavras e novas razões para vencer com os mesmos motivos.

 

Quase podia ter corrido. Haverá um outro domingo. A areia ou o asfalto; a serra ou os vales estarão sempre à sua espera. São pacientes. O tempo não importa. E os motivos permanecem.

 

 

O acessório não precisa existir. E o essencial existe. Essa "essência" palavra alguma a pode roubar.


15
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 14:21link do post | comentar

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(aqui, um pouco inchada e marcada da radioterapia)

 

Uma amiga da minha filhota, mandou-me um mail, cujo endereço descobriu através do blog. Pedi-lhe autorização e transcrevo algumas partes (OBRIGADA):

 

(a Lília pediu-me para colocar esta música; nesse tempo, passavam a vida a cantá-la

http://br.youtube.com/watch?v=u0B-hJ_gotc

 

"Encontrei o seu blog e, tenho que confessar que só agora tomei consciência que a Margarette partiu mesmo..

Jamais esquecerei o primeiro dia em q a vi ( no liceu ).. Tinha 14/15 anos.. Era linda.. aqueles olhos rasgados.. o que a distinguia de todos os outros era a forma de vestir… Infelizmente ainda somos avaliados pelo que vestimos e não pela pessoa que somos.

Muitos riam, muitos gozavam mas, a Margarette nunca baixou os braços, seguia sempre com a cabeça erguida! Essa era a qualidade que mais admirava nela! A capacidade de ser ela própria sem se importar com o que os outros pensavam. Nunca tive consciência que isto pudesse acontecer apesar da doença… não à Margarette.. a minha melhor e mais verdadeira amiga.. "

 

......

 

"Em anexo estão duas fotos, as quais achei que gostaria de ver.. a primeira foi tirada na ultima vez que a vi.. não sei precisar mas penso q foi no inicio do ano passado.. Ela veio passar a tarde comigo e, deu-me a noticia q há muito esperava ouvir.. disse-me: "Lília já não estou doente.. deixei de tomar a medicação, afinal não tinha aquela doença que me roubou anos… Estou a trabalhar, estou bem"… Fiquei tão feliz por ela.. Nunca imaginei que seria a ultima vez q estava a abraçar.. Mas, hoje ao olhar para trás, tenho a sensação que ela o sabia… Trazia na mala uma folha com msg trocadas entre nos em algumas aulas.. coisas banais mas q nos faziam voltar ao que nos costumávamos chamar "os melhores tempos das nossas vidas".. Passámos uma tarde muito agradável a relembrar os velhos tempos.."

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Jornal Primeira Linha, 19 de Março de 1997

 

Reportagem sobre a banda da qual a Margaret fazia parte. Apenas com 14 anos, tocava baixo na banda, tendo actuado em vários locais, incluindo as Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância.

 

Para lá deste estilo de música (que eu detestava) de influência punk-rock, a Margaret tocava trompete na Banda Filarmónica do Entroncamento, desde os 8 ou 9 anos de idade.

Tocava piano desde os 5/6 anos, na Escola de Música do Entroncamento.

Flauta transversal e de bisel no Grupo Coral de Constância.

Violino a partir dos 14.

 

O seu sonho era um piano de cauda...nunca o concretizou ...

 


14
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 17:37link do post | comentar

 

À vinda para casa, depois de terminado o meu horário escolar, presenciei uma situação na rua que me levou a intervir e a ficar à beira de um "ataque cardíaco". Não costumo incomodar ninguém com telefonemas do género "desabafo urgente" (até porque a pessoa em questão não é muito receptiva a desabafos), mas hoje fi-lo. Ou isso ou tomava um calmante urgentemente, pois sentia-me à beira de uma descompensação. Optei por falar, falar...o único prejuízo foi o saldo do telemóvel.

 

 

Não sei se é pela profissão, pela formação pessoal, pela experiência de vida, ou por outro motivo qualquer, mas o que sei é que sou sensível a todos aqueles que considero pertencerem a um "grupo" mais frágil. Sinto a sua defesa meu dever moral e de cidadã. Afinal, são os mais fracos que precisam de protecção, não é?

 

Considero-me pacífica e muito calma, mas há situações que me alteram para além do que gostaria.

 

Vejo uma carrinha (um mini-autocarro) de transporte escolar parar alguns metros à minha frente e apitar (uma buzinadela sempre serviu para alertar que a criança chegou); é funcional e não custa nada, ou custa....???

Neste caso, o toque da buzina custa e muito. Não para o motorista, mas para uma pessoa que a ouve (ou pelo menos ouviu nesta vez) e não gostou nada do assunto.

Não gostar é pouco! Uma expressão muito suave para a reacção violenta a que assisti. Ficou indignadíssimo este "senhor". Podia lá ser, o motorista apitar à porta dele ( a moradia onde reside o tal "miúdo" parece ficar em frente)! Que nunca mais o fizesse! Vociferava palavrões, ofensas e ameças. Incluindo ameças de morte.

"Eu mato-o! Ouviu bem? Nunca mais apite aqui. Faço-lhe a folha!" (seja lá o que a folha signifique)

E em atitude violenta e de provocação abre a porta da carrinha (lugar do condutor) e tenta puxar o motorista. Este reage. Pareceu-me pacificamente, até que também se começou a exaltar. Arranca, não arrranca...A carrinha aos solavancos ia tentando arrancar e ia travando. Porta aberta. Motorista meio fora do veículo. Gritos e mais gritos. Braços levantados. Punhos cerrados.

Não aguentei. Já tinha passado pela carrinha e afastado alguns metros quando percebi que a situação tinha tendência a agravar. Inicialmente tinha lançado apenas um olhar reprovador quando passei lado a lado. Depois, percebi que não podia ficar apenas por isso.

Elevei a voz acima dos impropérios. Toquei no ombro do "senhor" ofendido com o toque da buzina.

- Isto - apontei na direcção das janelas onde se viam rostos aterrados - é um TRANSPORTE DE CRIANÇAS!

 

Consegui que a carrinha arrancasse. O "senhor" ainda tentava impedir o seu afastamento. Ficou na estrada a vociferar palavrões contra o motorista e eu tive que os ouvir...Afastei-me enervada e, sobretudo, indignada. Revoltada. Muitas outras palavras que devem existir terminadas em "ada" ou noutra terminação qualquer que exprimam o meu estado de espírito.

 

 

O motivo que originou aquela situação foi fácil compreender. O que o "importunou" não foi o toque que dura escassos segundos ou menos. O que ele não admite é que uma carrinha de transporte de crianças e adultos de uma instituição de ensino especial toque em frente à casa dele!

"O que pensarão os outros que não conhecem?"

"Ora agora, ser conotado com aquela gente"....

"Eu cá, sou uma pessoa NORMAL!"

 

 

Deve ser mais ou menos isto que o "senhor" pensa.

 

Não sei se amanhã, o motorista terá coragem para apitar.

 

Aquelas crianças e jovens como estão a reagir à cena de violência presenciada?


13
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 18:05link do post | comentar

 

Sou (bem não sou, porque o ser não se resume à soma de uns quantos “sou”) aquilo que se pode chamar uma devoradora de livros. Não, não. Não os como, apenas os leio…

Tenho algumas “excentricidades” ou “manias”, como se queira chama. Leio em paralelo 3 ou 4 livros. Pelo menos mais que 1 tem que ser. Assim, esta semana, li “Ensaios de Amor” de Alain de Botton, “Profecia Celestina” de James Redfield, “A última Paragem” de Jay Parini (este é aquele que faço “render”…já é companhia de outros há, pelo menos um mês! Record de permanência.) e ainda vários pequeninos livros, do Correio da Manhã: “os Santos da nossa vida”. Ontem, à tarde, apenas com “A última paragem” por terminar, deitei mão de um livro, esquecido numa prateleira: “O homem da ultra-maratona”, de Dean Karnazes. Não tinha grandes expectativas. Era apenas uma leitura para ocupar o vazio deixado pelas obras terminadas. Isto de ter o vício de ler é coisa de ricos e eu não sou rica! Tenho, no entanto um sistema que funciona com sucesso. O que eu compro, leio e empresto. O mesmo sucede com a minha irmã e com as minhas amigas e colegas de trabalho, mais chegadas. Damos bastante “uso” às Bibliotecas Municipais ou Escolares e, juntando tudo isto, àqueles que me oferecem (aqui sou mesmo uma mulher de sorte; há quem me ofereça bastantes livros) nunca me faltam livros para ler (ou quase nunca).

Ora bem, agarrei no tal livrito e sentei-me para o ler. Convencida que o tédio chegaria no final da primeira ou segunda página, comecei sem grande entusiasmo a abri-lo. Foi o género de maratonas que pratico: ler quase ininterruptamente, até terminar. Apenas com duas pequenas pausas, a leitura durou até cerca das 23 horas. Nos primeiros parágrafos, já estava presa às folhas amareladas. Foi um prazer que gostaria de prolongar, mas num “ápice” o livro chegou ao fim.

Nunca esperei ver-me “retratada” (passem as diferenças abismais em termos de distâncias percorridas, de preparação e resistência) nas palavras e sentimentos de um corredor americano. Mas lá estava eu. O sentido de humor, os sentimentos, as emoções, os motivos…

A mim, não me falta a Pary, mas a Margaret.

As nossas vidas nunca voltarão a ser iguais ao que eram, antes das suas partidas…

Mas corremos e sentimo-las sorrirem orgulhosas…Independentemente da distância percorrida.

 

 

Não sou tão afortunada nos apoios e incentivos familiares como Dean. Na realidade até sou, mas esta tendência para valorizar o negativo parece querer sobrepor-se… Muitas vezes, quando queremos destacar algo, generaliza-se a toda o contexto de vida afectiva o que uma única pessoa faz ou diz, porque nos magoa demasiado. Acho que se passa isto com muita gente, mas se não passa, não importa. Passa-se comigo.

Assim, depois de uma noite e uma manhã indecisa, equipei-me e fui participar na Corrida dos Cariocas – Cruz de Pau – Seixal.

Tive o apoio inestimável do meu Clube, como sempre. Mais uma vez, tive amigos que correram comigo, lado a lado. Não lhes importa o meu ritmo “acaracolado”. Só a ler sou a versão feminina do Speedy Gonzalez. Na corrida sou mais o género “tartaruga”. São maratonistas a “sério”. Até ultra-maratonistas, mas, aos Domingos, nas provas em que participo, são apenas dois bons amigos. Aos olhos de quem vê, devem ser dois homens com o ritmo de uma velha senhora. Não os incomoda. Também por isso os admiro e gosto deles.

Gastei 34 ´ a completar 6,3 Km.

Recebi duas t-shirts (uma da edição de há 3 anos, tamanho XL e outra tamanho 12-14) e um boné. Não são os prémios materiais que contam. Mas achei engraçado, este ano darem-me uma t-shirt que me serve!!! A de tamanho grande vai ser para o meu filho.

Uma torneira com um copo ao lado matou a minha sede. É irrelevante não haver água engarrafada ou outros “pequenos luxos”. Sinto-me bem na simplicidade.

 

No próximo fim-de-semana, esperam-me no Corre Praia. Vamos ver se consigo ter força de vontade para ir e se consigo correr 14 Km.

Sei de uma estrelinha azul que, no bico de uma gaivota, me acompanhará pelo areal.

É com ela e por ela que eu corro.

 

Talvez seja na corrida que queira encontrar um sentido para a vida, apesar de fumar! Sim, de fumar. Sem orgulho, antes pelo contrário. Ainda assim, vou continuar a correr. Sozinha…

Prefiro até ser solitária….

 

“Felizmente, foi um dos teus filhos, não foi nenhum dos meus”. (referindo-se à morte da Margaret)

 

É uma frase que não se apagará jamais dos meus ouvidos nem do meu coração. Ficou sem resposta. Que se poderia responder?

 

Como dizia a Margaret “mãe, tu és muito à frente”. E estes 7 meses mostram, o quão atrás, algumas pessoas vivem….


09
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 23:57link do post | comentar

Quando parece que tudo decorre dentro da normalidade que determinámos, que os dias se sucedem iguais e previsíveis e os gestos, os hábitos e os pensamentos obedecem rotineiros ao nosso autodeterminismo, acontece isto ou aquilo que quebra esta corrente.

Palavras, encontros ou acontecimentos insignificantes são eles que desencadeiam um novo rumo. Um rumo não planeado. Os porquês são respondidos. As causas encontradas. Os horizontes revelados.

 

Afinal, não há coincidências e o acaso não existe.

 

Para tanto, basta estarmos atentos. Ver e ouvir. Deixar a porta aberta. Tudo o resto se desenrolará naturalmente. Nem sempre encontramos felicidade. Há muitas passagens da vida que desejaríamos evitar. Porém, nunca estamos totalmente sós. Nunca estamos desamparados. Há sempre alguém que nos guia.

 

Depois de um dia normal recebi um telefonema. Um pequeno "nada" que pode interferir em muito. Da troca inicial de palavras ao desafio "anda daí" não passaram mais que uns breves segundos. E ela veio.

Abri-lhe a porta sorridente e ouvi o comentário "não parece estares em baixo".

Quando se afirma bem-estar é inevitável que a sensação de bem-estar ocorra (mesmo tenuemente). E o bem-estar é algo que se propaga e contagia. A energia positiva atrai mais energia positiva. Pelo menos, é bom sentirmos que os outros estão bem na nossa companhia.

 

E este jantar de improviso evitou que ouvisse uma mensagem. Não assisti a uma determinada reportagem (onde o IPO estava envolvido) que, alguém de quem gosto muito, recomendou, via sms. Soube agora que, mal tinha enviado a mensagem, se tinha arrependido. Afinal, não tinha sido boa idéia eu assistir.

 

Ainda por causa deste encontro de amigas vi-me envolvida, de novo, em planos e projectos de corridas. Esta noite recebi três convites para participar em provas.

 

O que farei neste ou naquele dia, não sei. Se fiz planos e os tenciono cumprir, não sei. Mas sei que não há acasos. Sei que vou continuar vivendo de coração aberto e deixar a vida acontecer.  Sei, também, que me cabe a mim encontrar o sítio certo para encaixar estas peças do puzzle da existência. Atribuir-lhes significado. E sei sobretudo que não estou só. Existe alguém que vela por mim e me dá a mão sempre que caio e, certamente, outras vezes em que não chego a cair. Por isso, confio, acredito e espero. Espero que os "acasos" da vida justifiquem a razão da própria vida; de uma vida que não compreendo.

 

 

No dia 9 de Outubro tinha escrito isto...

Há algum tempo atrás- parece ter decorrido uma eternidade, mas passaram apenas umas semanas- quando a minha filha trocou o Instituto Português de Oncologia pelo Hospital de Nª Srª do Rosário no Barreiro, trouxe-me um papel escrito que tinha retirado de uma caixinha, onde se podia ler "Pode levar". Estava na Unidade de Quimioterapia. Entregou-me esse papel, dizendo-me apenas: "Acho que vais gostar de ler".

Desde logo, pensei transcrever as palavras que ele continha, mas o tempo (Ah! esse maldito tempo que não se agarra, não retrocede e não pára) não permitiu fazê-lo antes.

 

Tudo tem um propósito. Hoje, ao transcrevê-las e, ao relê-las antes de o fazer, verifico como tudo o que dizem é a cópia fiel da degradação física dos últimos tempos da minha filha. A única diferença é a longevidade daquele que as escreveu, contrastando com a sua "meninice." A grandeza do seu autor, só é possível comparar à suprema grandiosidade da minha filha.

 

 

 

"Quando parece que nada mais resta

Admira-me ver tantas pessoas espantadas com a calma e que dou provas, neste estado miserável a que me reduziu a doença.

Perdi o uso das pernas, dos braços, das mãos e estou quase cego e mudo. Não poderei mais andar nem apertar a mão de um amigo, nem tão pouco posso escrever o meu nome. Não posso ler e quase não consigo conversar e ditar...

Mas é preciso ter em conta o que me resta.

É bem certo que as coisas e as pessoas me aparecem como formas vagas e imprecisas, mas eu posso gozar ainda a felicidade que me traz a luz do sol. (*)

Eu posso ainda adivinhar, quando as aproximo muito perto do meu olho direito(**), as manchas de cor das flores ou os traços de um rosto...

E tudo isso não é nada em comparação com os dons divinos que Deus permitiu que eu gozasse.

Através das lutas de todos os dias eu pude salvarguardar em mim a fé, a inteligência, a memória, a imaginação, a paixão da meditação e do raciocínio, e esta luz interior que se chama intuição ou inspiração...

A juventude reconhece-se em três sinais essenciais: o desejo de amar, a curiosidade intelectual e o espírito de luta. Apesar da minha idade e dos meus sofrimentos, sinto em mim uma necessidade irreprimível de amar e ser amado, experimento um desejo insaciável de novidades em todos os domínios do saber e da arte, e não fujo à polémica e ao ataque, quando se trata da defesa de valores supremos.

Tenho a ousadia de afirmar que, mesmo hoje, sinto-me conduzido, neste mar imenso da vida, pela grande maré da juventude..."

 

Giovani Papini

Capelania do HNSR, SA

 

 

(*) A única luz do sol que ela sentia era a filtrada pelos vidros, no piso 0, no pequeno corredor para a ala da radioterapia. E que felicidade quando lá passava na sua cama de rodinhas!! Eram cerca de 4 metros saboreados com um deleite que comovia...Nunca mais sentiu o vento, nem os raios de sol...

(**) O dela, o único com alguma visão era precisamente o direito


 

Quanta coincidência, filha...

 


08
Abr 08
publicado por alemvirtual, às 18:24link do post | comentar

 

Não sei até que ponto se pode lutar quando este "bichinho" resolve vencer. Não sei quais as probabilidades de vencer ou ser vencido. Até porque já não quero saber das probabilidades para nada. Apenas sei que lhe devemos declarar "guerra". Lutar sempre, ainda que seja uma luta desigual.

 

Não pergunta de quem é a "casa". Não pergunta se pode entrar. Não pergunta se pode ficar. Parece-me que escolhe ao acaso sem olhar a nada nem a ninguém. Pode ser meu hóspede. Teu hóspede. Nosso hóspede.

Odeio-o.

 

Quem alojou este "diabinho" transmitiu-me a mensagem da não desistência. Da esperança. Da coragem. Do sorriso.

 

Não esqueçamos esta luta. Sobretudo por aqueles que não podem ser esquecidos; os nosso entes queridos, os nossos amigos, os nossos vizinhos, os nossos colegas de trabalho e aqueles que não conhecemos...

 

Há muitos nomes que lhe podemos chamar, mas se dissermos cancro, sentimos todos o mesmo calafrio...

 

Hoje, por mim, amanhã por ti...há dias que têm que ser assinalados...

 

 

Hoje, coloco de novo um rosto muito amado (como serão os outros filhos, os pais, os tios...) para que possam olhar os olhos de quem nunca os fechou na luta contra o cancro...até ao fim.

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