No ano passado a Corrida da Charneca de Caparica foi assim: http://alemvirtual.blogs.sapo.pt/2008/02/
Amanhã não sei como será.
Ontem, à tarde, o meu curto, curtíssimo treino de 30 minutos...
Como que atraída por alguma força invisível, olhei para cima. Um manto azul intenso ofuscava o olhar. Percorreu-me uma sensação de vertigem como se mergulhasse naquele poço de luz.
Vejo, então, um casal de cegonhas. Alto, tão alto que vislumbrava apenas o recorte das suas silhuetas contra o azul celeste. Corria, olhando para aqueles pontos no céu. Fascinada pelas duas formas majestosas e esbeltas quedei-me a contemplá-las. Esquecida de correr deixei-me envolver na serenidade que transmitiam. Um casal com o mesmo rumo, desenhava trajectórias suaves... Planando...Unidos no mesmo caminho. Aliados na mesma jornada. Amantes neste fim de tarde.
Suave...tão suave.
Forte...tão forte.
Suave mas forte.
Como o amor que um dia uniu a minha filhota ao seu marido e que perdura para além da eternidade. Revejo-os claramente neste casal de cegonhas.
As copas das árvores tomam o tamanho de uma bola de criança. Os telhados são pinceladas vermelhas nas linhas escuras do fundo. Linhas geometricamentre traçadas. Deixo-me levar por uns passos tão leves e subo suaves colinas. Tal como se tivesse entrado numa história de magia e encantamento corro acima da cidade. Lá estão as linhas férreas cruzadas como veias em corpo dissecado e subo cada vez mais. Agora, corro ao lado das cegonhas.
Vejo distintamente a simplicidade do seu traje: branco e negro. A suavidade dos movimentos. A ternura cúmplice do casal. E sinto-me envolvida. Também eu visto de branco e negro. Ávida absorvo os reflexos daquele amor que sinto pairar no ar. Envolvo-me nele. Enebrio-me. Subo cada vez mais.
Uma porta linda, mais brilhante que o sol da manhã, ornada de grinaldas surge diante de mim. Estendo a mão para a abrir. É a Porta do Paraíso. Eternizar o momento. Este momento. Todos os momentos. E no momento em que os dedos quase a tocam vejo-me de novo a correr entre o pó da estrada. O braço ainda esticado...
De um lado casas e jardins. Do outro oliveiras e tufos de malmequeres. O mesmo céu intenso. Uma mulher que corre. E o casal de cegonhas que se afasta. Olho-os até se perderem de vista no horizonte. Pontos minúsculos que desaparecem...
Sinto os olhos húmidos e ouço uma voz que canta dentro de mim:
Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha...é bom sonhar!
( Carlos Paião)
Esboço um sorriso. E com esse sorriso ainda nos lábios regresso a casa, durmo e sonho com cegonhas e estrelinhas azuis. E é ainda com o mesmo sorriso e a ouvir a mesma canção que escrevo estas linhas.