No desporto, como em todas as "faces" da vida, o "nós" deveria vir antes do "eu", sendo que do "eu" depende o "nós". Assim, o que eu faço, o que eu digo, o que eu sinto, condiciona o agir, o dizer e o sentir do nós. Determina, muitas vezes, o comportamento e o desempenho do outro.
Somos "nós" que importamos. Muito mais que "eu"; "eu" só existo e faço sentido porque sinto o "nós" como parte integrante deste "eu" e sobre o qual sou responsável.
Nunca como numa estafeta, o receio de comprometer o grupo, de falhar, de não corresponder às expectativas, de sentir a interferência no colectivo da minha acção individual foi tão intenso. Dependerá também de mim, um resultado...
São momentos ansiosos e expectantes, os que antecedem a nossa prestação. Quando chega a minha parceira? Como virá? Manterei eu a posição conseguida com o esforços das que correram antes? Conseguirei cumprir o meu percurso? Sim, posso sentir-me mal...desmaiar com o calor...tropeçar...deixar cair o Testemunho... entre uma outra infinidade de perguntas e um nunca acabar de possibilidades.
Lá se vai a aparente segurança e o coração receoso desmente a despreocupação das palavras "farei o melhor que puder; importa é participar".
O sol mostrava-se impiedoso. Ardente, cada vez mais sufocante, à medida que se elevava no céu limpo de nuvens.
Tinha escolhido o 3º percurso da prova. O ano passado tinha corrido o 4º (e último, pois a estafeta é uma sequência de 2 voltas a um percurso com 10 km 700 m, repartido por 4 segmentos), mas nesse dia estava agradável a temperatura, tendo caído até um forte aguaceiro, durante o almoço.
O relógio deveria marcar cerca de 11h 30m quando a nossa "chefe" Adelaide grita: "Vem lá a Ana, vem lá a Ana"!
Para mim era o equivalente ao grito de guerra: "Ao ataque".
Assustei-me quando a vi. Em esforço, suada, agitava triunfante o Testemunho...braço erguido, como um troféu; como uma mensagem..."Vai e entrega-o. Eu defendi-o. Agora, és tu!"
Na realidade, apenas sorriu e disse qualquer coisa de incentivo...
O meu colega de Clube, António, tinha partido momentos antes com o Testemunho da Equipa B, Masculina.
Sentia-me à mercê dos raios quentes...parecia que o alcatrão se incendiava e eu com ele...
Rectas, que pareciam não ter fim, sucediam-se...Os metros pareciam quilómetros, mal deixei para trás a sombra protectora dos pinheiros que se projectava na berma da estrada. A força começou a faltar e a passada a ser cada vez mais lenta. Quando as instalações da Autoeuropa já se viam, e a passagem do 3º para o 4º percurso também, a temperatura subiu repentinamente. Foi com muito esforço que cheguei e um imenso alívio que passei o Testemunho à Magnífica. Mas, logo após o alívio inicial assalta-me novamente o receio, desta vez pela minha amiga. Ela estava incumbida da tarefa mais difícil da prova...
Voltámos de autocarro, a tempo de a ver chegar.
E foi assim, a Estafeta...pensando em mim e nas amigas. Primeiro a Sandra - 1º percurso (que ainda teve coragem para fazer o retorno correndo com dois colegas do clube), depois a Ana - 2º percurso e por fim a Magnífica. Sofremos em conjunto e alegrámo-nos em conjunto.
O 5º lugar, foi a recompensa do esforço. Mas a amizade é o nosso maior tesouro...
Para descontrair, um banho geladinho (uiiiii!!!) e um almoço muiiiiiiito saboroso....
A minha equipa
O Chefe com o Troféu da Equipa
O Troféu individual