existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
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Mar 10
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Segunda-feira, 5 de Fevereiro de 2007
Um abraço de dois rios...

 

 Constância com os rios Tejo e Zêzere

 

O dia amanheceu de mansinho…

Um manto de nevoeiro desceu sobre a terra… aqui e ali, um telhado, uma chaminé ou a copa de uma árvore, altivos e desafiantes, rompem a cortina branca…

A realidade torna-se difusa, esbatida, misteriosa, envolta no nevoeiro. Aos meus olhos parece que surge Constância… também ele (o nevoeiro) uma constância em Constância…Quando nessas manhãs, me aproximava de Constância, apenas via dois imensos braços brancos, serpenteantes…ondulantes…sabia que, abaixo deles, dois rios corriam e se abraçavam um pouco à frente. Ocultavam-se aos olhos de quem passava, mas eu sabia-os ali, conhecia-os, chamava-os pelo nome. Erguida acima desta brancura, vislumbrava-se o cimo da torre da Igreja Matriz. Apenas a torre denunciava a existência de obra humana, de mãos dadas com a beleza natural da “vila-poema”. Adivinha-se o casario disposto encosta acima, de olhos postos nos rios…

Os meus rios…

 

Recomecei a correr. Pouco, muito pouco porque ainda tenho dores. À tarde, irei correr mais um pouco e, estes poucos todos somados, espero que sejam os suficientes para regressar a Constância, não de visita a familiares e amigos, mas como participante no Grande Prémio da Páscoa.

Há muito tempo que conheço esta prova (mas só como parte integrante de um vasto programa festivo). Se Deus quiser, este ano, o meu nome integrará a lista dos inscritos na corrida. Sinto-me nervosa, excitada, ansiosa por esse dia. Saboreio antecipadamente a emoção de me sentir “em casa”, desta vez, desvendando aos outros, um outro pedaço do meu “eu”. Conheço cada curva do caminho, cada pedaço de rio… as escadinhas, as subidas, os recantos, as caras e os nomes…Colaborei tantos anos nas Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem (Festas do Concelho, nas quais se integra o G. P. Páscoa) e, ironicamente, não conheço o percurso da corrida. Apenas sei de onde parte e, de forma vaga, alguns locais de passagem.

Constância, nestes dias, veste-se de flores, milhares de flores de papel…um trabalho árduo, ao longo de muitos meses, para três dias de Festa. Ruas, arcadas, portas e janelas são decoradas, noite dentro, para que, pela manhã de sábado, surjam diante de nossos olhos vestidas a rigor. A arte nasce destas mãos hábeis…o papel ganha forma e vida…A azáfama é inimaginável, mas o carinho pela terra não permite lugar ao cansaço.

De olhar deleitado pela beleza das ruas, parte-se à descoberta dos sabores…peixe frito do rio, caldeirada à fragateiro, migas carvoeiras…e, suprema delícia, os divinais “Queijinhos do Céu”, acompanhados por um licor de fruta, preparado no segredo e no silêncio das Irmãs do convento de clausura…digno dos deuses.

Há mil e um motivos para descobrir Constância. Há mil e um motivos para querer voltar e outros tantos para não querer partir.

Constância seduz-nos e é um amor para sempre.

 

Como eu gostava de ir correr em Constância…

Vou treinar para ir, embora saiba que não depende só disso, infelizmente. Há coisas que não dependem de nós. Vou correr e desejar muito que o milagre que tanto anseio se realize. Acredito que tudo o que desejamos de bom, se desejarmos com muita força, mais tarde ou mais cedo, acontece. Já aconteceu muitas vezes, vai voltar a acontecer.

 

 

Mas se eu não for, quem correr nesse dia, em Constância, leve saudades minhas e a promessa de que nunca desistirei.

Ide. Sereis bem recebidos. Vereis que, em cada olhar e em cada sorriso, se poderá ler “Sejam bem vindos…”

Esta é Constância que tanto amo.

A.P.

 

 

 

 

 

 

 

Segunda-feira, 9 de Abril de 2007
Eis-me aqui...

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Parecia que sorria.

Engalanada, vestiu-se festiva para me receber. Agitava-se nas bandeiras ondulantes sobre o Zêzere.

"Chegaste"... pareceu sussurrar-me. E eu murmurei baixinho "cheguei". Voltei e foi como se fosse a primeira vez.

Olhei em redor. Creio que ninguém entendeu o que em silêncio, dizíamos uma à outra. Foi o encontro de duas almas, ansiando por esse dia...nesses momentos, o diálogo mais intenso e gritante acontece quando o olhar permite que o coração se revele.

 

A vila vive com alma. A alma tece poesia. E nasce a vila-poema...nas ruas, nas praças, nas janelas, nas fontes, em cada canto e recanto...

Na confluência dos rios, as ninfas desertoras do agitado reino de Neptuno, aqui encontraram refúgio e por cá permanecem em idílica união entre o sonho do poeta e a simplicidade das gentes...nós sentimo-las... dançando ao luar, encantando as margens, rodopiando nas sinuosidades do rio...

Aqui, a mitologia não é esquecida.

Aqui a astronomia ganha terreno.

Mais uma vez, se cruzam as fantásticas formas de entendimento do mundo e do universo com a visão rigorosa e precisa, nascida de séculos e séculos de observação e ciência. As constelações desceram à vila-poema e descansaram na Praça. Aqui, eram apregoados os régios editais em tempos idos e aqui em tempos de agora, se continua a sentir o pulsar desta terra viva.

 

Desci escadinhas...ruas estreitas...passei por este "céu nocturno" e encontrei-me  frente ao Jardim Horto de Camões.

Reinava a azáfama que precede um grande acontecimento.

Aos olhares mais distraídos pareciam formigas laboriosas, correndo velozes, evitando um tropeção aqui e ali, em busca do rumo certo. Mas não....tudo e todos estavam onde queriam estar. Tinham um lugar certo e um propósito definido.

Decorriam as provas dos escalões mais jovens. Tinham começado manhã cedo.

Encontrei a minha equipa e juntos começámos o habitual período de aquecimento. Escolhemos a margem do Tejo e por aí fomos correndo e conversando...

Ia encontrando gente conhecida. Acenos de mão, sorrisos, algumas paragens para um beijo ou um abraço fraterno, àquelas que me são mais queridas...

Chegou a hora. Soou o tiro. Foi a primeira vez que fiz a correr aquele percurso verdejante, lavando os olhos no Zêzere... Tinha-lhe prometido que o faria e aqui estava a cumprir.

Senti-me nervosa...era como se aquela simples corrida requeresse a maior das precisões, como numa incisão...a mão não podia tremer...eu não podia falhar...bisturi na mão...gotas de suor gelado afloraram a pele. Apenas eu sabia a importância deste acto. Árdua tarefa, feita com amor...

Vivi toda uma vida ao longo dos minutos que se arrastaram...O tempo é tudo e o tempo nada é... É a força, a intensidade com que se vive. O corpo não acompanhou essa torrente. Eu voei...estive no passado e no futuro...no sonho e na vida...no presente e no agora...Parti muitas vezes, cheguei apenas uma.

 Ficticiamente o cronómetro marcava 52´ 38´´...o meu tempo. O oficial não sei, não preciso saber. Esse tempo foi um tempo especial. Máquina nenhuma o poderá alterar.

Sou eu, Constância. Eis-me aqui.

 

 

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Quarta-feira, 25 de Março de 2009
Grande Prémio de Constância...

...ou correr por uma causa

 

A corrida, ou melhor, o prazer da corrida mobiliza multidões.

Corre-se apenas porque sim, corre-se  porque há motivos que nos impelem, corre-se também porque há causas que nos unem. Causas mais ou menos próximas, mais ou menos abrangentes, de carácter solidário e social; causas que apoiam e/ou sensibilizam para esta ou aquela problemática...não vale a pena enumerá-las, são de todos, sobejamente conhecidas. Eu também já corri por muitas causas. A que mais me sensibiliza é a Corrida Terry Fox porque revejo nesse jovem o exemplo vivido pela minha filha. Ambos foram vencidos pela doença, mas ficou a sua coragem e determinação.

 

Constância será brevemente, e  uma vez mais, a anfitriã de uma corrida emblemática. Correr junto aos braços verdes do Zêzere e do Tejo, passear pelas sinuosas ruas floridas, contemplar as arcadas e descobrir recantos, saborear as famosas migas carvoeiras, ou prolongar a estadia e participar nas Festas do Concelho (nas quais a prova de atletismo está integrada) e de Nossa Senhora da Boa Viagem, em que, invocando a protecção de Nª Senhora,  se abençoam embarcações e viaturas,  são sem dúvida atractivos suficientes para visitar a Vila-Poema, por alturas da Páscoa.

 

O ano passado não corri em Constância. Não tive coragem. Tinha corrido há dois anos. Este ano penso correr. Pensei também levar a efeito algo que já tinha pensado no outro ano...

 

Correr com a mesma t-shirt com que fiz a minha primeira Meia Maratona em memória da minha filha. Correr lembrando a Margaret em Constância tem um duplo significado: homenagear a sua coragem e a sua luta na luta contra o cancro e recordá-la a quem vir o seu rosto. Recordar ainda que esse rosto tão belo e suave está sob sete palmos de terra, lá no alto, junto à Igreja Matriz, num "amontoado" de areia à espera de sepultura mais digna.

 

Porque tarda tanto um pedido tão simples?

 

No Grande Prémio de Constância vou correr pela Margaret.

 

Haverá mais alguém?

 

 

 

Domingo, 14 de Março de 2010

 

Uma folha de papel é sempre uma folha. Pode nunca deixar de ser branca. Ainda que as palavras se atropelem. Ainda que não cheguem a ganhar sentido. Ou ser um emaranhado de letras, de riscos e rabisco. Uma folha de papel será sempre uma folha. 

 

As histórias, dizem, escrevem-se em folhas. E as histórias mais belas não são as do reino da fantasia, mas as que foram escritas com sorrisos (e lágrimas) na história da vida. E há histórias que não cabem nas folhas...

 

 

Pousei o livro.

 

Por muito tempo deixei que apenas o vento soprasse, voltando as folhas ao sabor dos seus caprichos. Avançava umas quantas, recuava ainda mais. Passava folhas unidas que ficaram para trás. Outras arrancadas em fúria. Umas esborrataram-se...uma gota aqui, outra acolá, de lágrimas caídas. Muitas permanecem nítidas. Algumas meio gastas de tanto se lerem...

Gosto de voltar às folhas dos sorrisos. O tempo e o vento nada podem contra as folhas de sorrisos. Por isso, os sorrisos ficam e duram para sempre. Assim como as folhas que os contêm.

 

Em breve virá uma nova Páscoa. Mais uma "passagem" por passagens que ainda desconheço. Será a terceira de muitas Páscoas que verás com outro olhar. 

 

 

Este ano continuarei a correr para ti. Quero encher folhas de sorrisos para ti. E folhas cheias com o teu sorriso. 

 

Este ano não correrei apenas com uma estrelinha azul ao peito, mas com os olhos verdes do teu irmão ao lado.

 

...às vezes vale a pena agarrar de novo no livro...

 

E ler.... A correr para ti é sempre correr por uma causa...

 

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                                    Constância 2009  

 

"...À frente de mim, atrás de mim e comigo ao lado, os amigos com a sua presença diziam no eco dos seus passos "estamos contigo". Não são precisas mais palavras. "

 

 

 


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