existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
28
Abr 10
publicado por alemvirtual, às 22:58link do post | comentar

Esta tarde, o campo mostrava uma beleza especial. Nunca as urzes foram tão vivas nem o cheiro a seiva tão intenso. Para onde quer que olhasse...verde, amarelo, azul, lilás, branco....o branco de uma pureza diferente. A pureza imaculada das flores nunca colhidas. O campo veste-se de Maio...E de flores por colher...há contos de uma quase flor silvestre.

 

E há rosas nos canteiros. Estrelícias nos jardins. Glicínias sobre as arcadas. Há relva e risos. Folhas e aves. Há trilhos a percorrer e gritos para não "desistir".

 

Corri (sorrisos)...Tentei correr. Uma lentidão indizível, porque a vida estava lenta. E Maio espreita.

 

"Nunca desistas".

 

E quis correr. Apressei-me a vestir Maio...

 

(dedicado a uma pessoa especial e a uma corrida especial; as palavras, essas ficam por dizer; fica Maio)


24
Abr 10
publicado por alemvirtual, às 22:15link do post | comentar | ver comentários (2)

Gritar Liberdade. Grito de Mim. Grito de Ti.

 

Grita-se assim; como louca; como quem grita: "Vontade de Ti".

E neste verde, me perco assim. Sem rumo certo. Rumo de Ti...

Subi a serra. Desci aos vales. Enlacei os montes.

Ouvi o rio. Senti o sol. Olhei o céu (azul, sim; que o céu é sempre zul).

 

Corri na brisa...Engrandeci. Enrubesci. Pensei em Ti.

 

Cantei no verde. Ri no azul.

 

(Azul e Verde? Não há mais cores?)

 

Aqui, talvez...Na minha face...o tom vermelho.

Bochechas rubras? É de menina...

Face rosada? é de mulher...

 

Pensei em Ti. Gritei por ti.

 

Foges comigo?

 

(LIberdade)

 

(...24 de Abril de 1974. Menina... Nunca esqueço os meus "capitães" e aqueles que nunca o foram, mas que "lá foram". Por mim. Por ti. Por todos nós. Cresci com eles...Tancos Militar. Uma eternidade)

 

 

25 Abril de 2007 (esta recordação e não outra...sem ser por acaso)

 

Que pena, não haver outro registo aromático além do da memória dos nossos sentidos.

  

Na margem norte do Tejo, encastrada entre margens verdejantes e campos perfumados, ornados das roxas flores do rosmaninho, salpicado de giestas e estevas, surge a vila onde reside a minha mãe. Estes campos e montes que num passado recente foram solo fértil de pinheiros robustos e seculares são, hoje, túmulo dessa vida abundante. Apenas braços descarnados, inertes, secos, da cor negra do queimado se erguem em direcção ao céu. O verde das copas não existe, porque não existem copas. Resta o verde que cobre o chão. Este chão do meu país que, de vida renovada, se teima em cobrir...contra a mão de fogo que o destrói, contra o destino que lhe corrói as entranhas, meu país e estes meus campos resistem...

 

Cheguei. Sinto o pulsar do coração ribatejano...meu coração também bate, neste compasso especial, neste dia especial, como há mais de trinta anos atrás bateu...bateu num nervoso infantil, pressentiu, mais que compreendeu...Hoje, compreende...tenta não esquecer...

Olho a placa "Polígono de Tancos" , envelhecida e firme, tal como firme foi a coragem dos que daqui partiram e firmes serão as minhas rcordações ainda que envelhecidas....

Um sinal de mensagem no telemóvel, desperta-me do torpor em que mergulhei. "Saudações democráticas"- leio.

 

Minha mãe, idosa, curvada ao peso dos anos e da vida atribulada e sofrida, parece nem me reconhecer quando entro.

"Ah! És tu, minha querida!" , e é tudo quanto consegue dizer porque a emoção lhe prende a voz. Prende-me também num abraço interminável...Ali permanecemos, juntas, envoltas no aroma de flor de laranjeira que, do quintal, invade a casa. Chilreiam os pardais. Os pardais que ela alimenta diariamente com pão molhado ( como se não lhes bastasse o alimento farto que retiram do quintal...). "São a minha companhia" - repete.

 

O chão cobre-se de um tapete perfumado de flor de laranjeira. Passeio sobre ele. Agitados os ramos por alguns golpes de vento, lançam sobre mim uma chuva imensa de flores brancas. Inspiro profundamente este aroma inigualável.

Desce sobre mim uma chuva de pétalas.

Flor de laranjeira...

 

As árvores oferecem os  frutos carnudos aos nossos olhos...alguns nos ramos mais altos, parecem convidar a subir....

Eu subo. Trepo um pouco pelo tronco. Agarro-me a um ramo mais forte e estico-me para apanhar uma laranja enorme...sinto-me como uma princesa dentro de um castelo.

E aos meus ouvidos parece chegar uma voz, suave como num sussurro:" És a minha princesa". Essa voz que se silenciou há tantos anos quantos os que nasceu a voz da liberdade.

Meu país, meu castelo de flor de laranjeira...

Que saudade.


09
Abr 10
publicado por alemvirtual, às 15:56link do post | comentar | ver comentários (2)

Depois de uma curva surge do nada. Irreal, altaneiro sobre as águas, como se supenso descido do céu, desvenda-se o castelo aos olhos de quem passa. Este é o meu Castelo. Castelo de mouras encantadas, de lendas, de lutas e de vitórias. Sempre vitórias...

 

O rio vai calmo. O leito voltou ao curso normal. As margens são verdes, bordadas a ponto de malmequer, de cardos e giestas e cheiro de flor de laranjeira.

 

Há quem seja dono das estrelas. Seja dono de sonhos. Eu sou dona de um castelo. Um castelo feito de sonhos e um sonho em forma de estrela. A minha estrela é única. Não ocupa lugar fixo na abóbada celeste. É uma estrela mágica. De manhã cedo, muito cedo, pinta o céu de azul... E assim fica, em tons de cristal azul. O Sol ri-se. Acho que gracejam todo o dia. A estrela-sol e a estrela-azul (sei disso, porque foi  a moura do castelo que me contou...). À noite, disfarça-se no meio das outras. Escolhe um lugar do negro profundo, das entranhas do infinito para continuar a sorrir. Eu vejo-a. Outras vezes, brinca comigo à escondidas (porque o sol se foi deitar) e brilha, ainda mais, em alguma constelação distante.

 

Quando se corre na margem do rio, dá-se a mão à fantasia. Lá ao longe, emergindo da rocha, é o castelo sólido que nos olha. Aqui perto, tão perto que não se vê, a forma difusa da ninfa diáfana que brinca na margem.

Continuo correndo, enebriando-me com a flor de laranjeira, as papoilas e os malmequeres; As azedas, as giestas, as estevas, os cardos e o lilás florido de uma árvores cujo nome já esqueci...Tanta cor. O mundo é feito de cor. E depois há a cor da água, a cor da rocha, a cor da terra, a cor das aves, a cor verde que cobre os campos, este mesmo verde que corre em direcção ao céu e se transforma em azul profundo. E há a cor dos sonhos e dos castelos. A cor da carne e a cor da viva.

Vejo os meus braços que oscilam no ritmo da corrida. Ouço os passos no caminho; a água que corre também, os pássaros lá nos ramitos, uma voz perdida ao longe...

E da cor perco-me no som. Um violino toca para mim. Apenas um, mas com ele toda uma sinfonia...

Por ali fico, olhando o castelo. Apenas uns instantes.

 

Voltando as costas ao castelo, corre-se na direcção inversa. É voltar as costas ao sonho, mas sei que ele espera por mim. Todas as vezes que quiser vir. Em cada dia que quiser correr. O castelo e os sonho... As estrelas e a moura...

 

É assim. O castelo alberga história. As histórias tornam-se lendas. Eu ouço-as no eco dos passos de corrida.

 

Não sei por que se corre, mas eu gosto de correr. Não sei por que se gosta, mas sei que quero correr...


07
Abr 10
publicado por alemvirtual, às 07:07link do post | comentar

Um pouco cansada, mas só um pouco! Qualquer semelhança com a realidade (não) será mera coincidência

 

Segunda-feira de Páscoa, Festa em honra de Nª Srª da Boa Viagem.

 

Constância, Vila_Poema. No abraço de dois rios, a sedução do encontro...

 

Cumpre-se a tradição com alguns séculos de levar a imagem em procissão até ao encontro com os rios. A um e a outro rio. Primeiro, ao último braço de Zêzere. Depois ao Tejo, na curva do seu "caminho". Tal como na confluência as águas de um e outro se misturam, também nos homens a fé e o floclore dão as mãos e enchem as ruas de gente. Apinham-se nas margens do rio.

Um rio engalanado de festivas embarcações, relembrando os "marítimos" de outras eras. Quando a rio era "o caminho".

A vila em arte colorida acolhendo os viajantes.

E porque os "caminhos" agora são diversos, abençoam-se os viajantes. 

"Guardai-nos Senhora, em todos os caminhos da vida".

Em uníssonos viaturas aqui e ali estacionadas tocam bam alto as suas buzinas. As sirene das ambulâncias, tantas vezes em "viagens" finais irrompem em altos brados, os carros dos bombeiros "atacam" um fogo imaginário. Um fogo que se sente no coração de cada um, só controlado na emoção de uma lágrima furtiva. Como "VIvas" à Senhora que, por aqui, se venera. Nª Srª da Boa Viagem. Para todos as nossas viagens. Para todos os nossos caminhos. O momento da benção, do encontro da Virgem com as gentes e o rio, é um momento mágico... 

 

Ouvi-lhes o som. Posso adivinhar momento a momento o descanso dos andores. As paragens em oração. Percorri cada passo dos passos que são feitos por outros neste dia. Percorri-os com um "meio caminho" percorrido para ser Mãe. Era com ela. Percorri-os com um bebé ao colo. Era com ele.

Ela foi anjo da Boa Vagem e promessa de Santa Filomena. Eternizados esses momentos no testeumnho do Museu dos Rios. Hoje, ela é uma estrela azul que me guia...

Continuarei a fazer esta "Viagem", mas hoje não.

 

Afasto-me e espero que a Mãe me guie. Que continue guiando, hoje que corro em trilhos diferentes. Para que, também eu, nunca deixe de "correr". Sobretudo, para que eu possa ser "Boa Viagem" a quem ainda conduzo...

 

Calcei as sapatilhas e fui até ao Paqrue do Bonito. Corri 45 minutos. Por entre o verde e o cheiro intenso dos malmequeres. Corri leve. Corri ágil. Corri de coração aberto e um sorriso nos lábios. Cá em baixo, no meio do verde, esperava-me alguém que também conta com a luz em forma de estrela.

São jeitos de ser.

Nós somos assim.

Não sei ser Mãe diferente. Por isso, Nª Srª da Boa Viagem nos guie em todos os caminhos da vida, porque há corridas que às vezes cansam...

 

Com a Yasha. Amiga...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

Os meus outros dois "meninos". E dela também.


03
Abr 10
publicado por alemvirtual, às 20:15link do post | comentar | ver comentários (7)

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Não tenho imagens daquelas que se partilham. Ou talvez tenha. Imagens parecidas com as imagens dos que lá estiveram. E, neste caso, estar é mais muito mais que transitório. Durante, pelo menos uma manhã, muitos passos e muitos nomes dizem o nome de "Margaret". Por isso, não "estão". São parte da sua mensagem e da sua memória.

 

Há passos não percorridos. Passos interrompidos. Passos em forma de sonho. De um sonho ainda mais simples que um passo. O sonho de "estar de pé"´(o dela).

 

Não são precisas mais palavras (tal como disse há um ano atrás. E há mais que um ano atrás).

 

Hoje, coloquei mais uma "lembrança", um pouco acima do rio.  Lá no alto. Muito no alto. Desta vez, um pequeno troféu que pode ficar à superfície. Até que o vento o quebre vai estar "de pé". Em homenagem à pessoa a quem tive o privilégio de chamar filha.

 

Há "estrelinhas azuis" que correm por nós. E nós corremos por elas. Há uma estrela azul com flores e laços nos cabelos que sorri...

 

Bem hajam.

 

Fotos de Joaquim Adelino (Pára que não Pára), do Orlando Duarte e da AMMA

 

Aleatoriamente colocadas

(A)braço do rio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

...e a chegada. Molhada. De chuva e emoção

 

 

(Muitos rostos não estão aqui. Por isso, Constância teve outros passos. Aqui e em muitos outros lugares. Obrigada, a todos)


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