existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
24
Jul 10
publicado por alemvirtual, às 21:10link do post | comentar | ver comentários (3)

Se em cada dia nos interrogarmos sobre os motivos que nos levam a isto ou aquilo;

Se em cada dia nos interrogarmos sobre os motivos que nos afastam disto ou daquilo;

Se em cada dia apenas perguntarmos "porquê"...

Talvez encontremos respostas;

Talvez encontremos motivos;

Talvez reste apenas "porquê".

 

Interrogo-me. Tu interrogaste-te e interrogaste-me. Não soube dar-te respostas. Tu não exigiste respostas.

 

Restam os motivos. O que nos conduz por este ou aquele caminho. Uns conhecidos, outros nem tanto; Uns que se traçam, outros traçados desde sempre. Percorremo-los. Ainda que não se conheçam os motivos.

 

Eu corro. Nem sempre. Como todos. Como todas as pessoas fazem algo na vida. Umas vezes fazemos, outras nem por isso. Já fiz outras coisas. Ainda faço outras coisas. Os motivos, esses nem os conheço. Entrego-me apenas. Outras vezes, fico quieta a olhar para o tecto. Ou para a copa de uma árvore. Ou para o céu. Ou para além do horizonte.

Continuo a interrogar-me.

 

Em breve se completarão 3 anos sobre a data que partiste. Até que tiveste voz para falar e força para sonhar, sonhaste e falaste. Preparaste uma Festa, como dizias "A 4 em 1". Festejaríamos o teu casamento, o teu aniversário, a tua alta hospitalar e a entrada numa outra Faculdade e num curso diferente. Não sei se acreditavas que era possível...(hoje, penso que não, mas quiseste que acredtássemos até ao fim). No dia 2 de Setembro festejaríamos "4 em 1".  Um Domingo...um início de semana. Início de um ciclo de vida. Afinal, um ciclo encerrado apenas...

Pregaste-nos uma partida e partiste mesmo!

 

Continuo a assinalar o dia do teu aniversário. Agora, no dia seguinte assinalo também o dia do teu falecimento. Não é mórbido. Apenas quero que continues a existir para os outros, já que para mim sempre existirás. Que o teu testemunho de coragem nao seja esquecido. Que motives outros a seguir e a percorrer caminhos...

Uns correm. Outros....outros....

 

Por isso, há motivos que motivam...

Encontro de amigos em Constância, onde agora repousas, estrelinha azul.

 

Dia 30 de Agosto, dia do aniversário do teu nascimento, pelas 18 horas, na Casa Memória de Camões em Constância será apresentada uma parte da tua história de vida: Margot, Estrelinha Azul.

 

Dia 31 de Agosto, dia em que partiste, será celebrada missa em tua memória na Igreja Matriz de Constância (Igreja de Nª Srª dos Mártires), pelas 19 horas.

 

Continuo a interrogar-me sobre os motivos da Vida e da Morte. Continuo. Eu optei por correr. E corro porque não quero parar. Ainda que páre, por momentos, como todos...


22
Jul 10
publicado por alemvirtual, às 17:21link do post | comentar | ver comentários (4)

Não sei com que cor se escrevem as palavras emotivas. As palavras ditadas pela emoção. A emoção em forma de palavras.

Sei a cor do gelado que comi. Era uma taça grande, em forma de maçã, de vidro brihante, transparente. Enchia-a com umas bolas de gelado branco, cremoso, salpicado por pedaços de chocolate escuro. Depois, tirei uma chávena do armário. É uma chávena pequena, vermelha, com uma abelhinha amarela desenha. Expressão de espanto e asas abertas. Fiz um café forte, aromático, negro e enchi-a. O fundo branco, coberto por momentos de líquido espesso e quente, ocultou por breves instantes o vazio branco do interior da chávena. Vazios...Instantes...Momentos...

Continuei sem saber com que cor se escreve emoção.

Olhei pela janela. Aqui roupa que esvoaça ao vento. Uma planta que se agita. A parede que reflecte a luz desta tarde.

Ouço passos na calçada. Passa gente. Ouço vozes. Ouço risos. Passa vida.

Permaneço ali, na cozinha. De pé. Ao lado a taça de gelado vazia (aprendi a gostar de gelado; esforço-me por gostar de coisas banais como uma taça de gelado). Ao lado a chávena suja do café.

E penso que não sei a cor com que se escreve emoção.

Continuo sem ver a sua cor. Sem a saber; sem a distinguir; mas com que cor se escreve emoção?

Olho para a mesa da cozinha. É uma mesa redonda. Não há lugares marcados nas mesas redondas. Apenas rumos, direcções que se tornam habituias. Tenho de substituir esta mesa. Quero uma com ângulos. Gosto de quadrados perfeitos. Quero lugares vazios que nunca tenham sido ocupados. Esta mesa redonda não tinha lugares marcados, mas tinha lugares preenchidos. Está vazia. A taça de gelado está vazia. A chávena do café está vazia. As palavras não têm cor ou eu não a conheço. Será que, também, as palavras são vazias?

 

Hoje não corro. Ontem não corri. Nem no dia antes. Nem no dia antes de antes. Antes era tudo diferente. Agora tudo mudou.

 

Mas por que razão eu não sei com que cor se escreve emoção?

 

Um dia, em breve, vou buscar os estojos de pintura. Deitar fora os pincéis endurecidos. Abrir tubos de tinta fresca. Rasgar plásticos que cobrem telas.

Um dia, em breve, vou buscar os meus sapatinhos de danças de salão. Limpar o pó. Colocá-los nos pés.

Um dia, voltarei a calçar as sapatilhas que é o passado mais presente e mais permanente em mim.

Hoje, apenas me inquieto porque não conheço com que cor se escreve emoção.


12
Jul 10
publicado por alemvirtual, às 17:47link do post | comentar | ver comentários (6)

 

Os três AP chegaram à meta decorrida 1h 05min sobre a partida. O Clube do Sargento da Armada "correu" com 8 elementos no dia 10 de Julho de 2010, muitos amigos e família, pois quem não corre também importa.

 


(Pre)texto de corrida

A Corrida da Lagoa de Santo André sempre foi pretexto para encontro de amigos num outro encontro perpétuo da planície com o mar, num abraço de azul bravio com a calmaria verde da lagoa.
E a pretexto da corrida se toma o rumo do sul. Nesta costa alentejana muito serão os pretextos para ficar, depois de ir.
Refresca-se a manhã na água tépida da lagoa. Passeia-se o olhar na sua margem. Alonga-se o passo até ao recorte agreste do mar. Retorna-se à protecção da pequena baía e nada-se lado a lado com inúmeros cardumes de minúsculos peixinhos.
Sob os pés cascas soltas de amêijoa e berbigão tentam o espírito infantil. Agarro numa e noutra e em outra ainda para mais à frente soltar um gritinho excitado por uma outra mais bonita e brilhante, encontrada meia enterrada na areia como tesouro perdido há muito...
Uma descoberta. Um achado. Uma insignificância. Mas de conchas insignificantes se constroem momentos de evasão.
Lembro-me de outro ano na lagoa. Não Há muitos. Um passado recente em que me extasiava com a beleza que via enquanto me recriminava de a ver, por que alguém a estava a perder de vista...
Por isso importam as conchinhas. As pedrinhas. As algas que roçam as pernas. O sol que doura o corpo. A areia que acolhe o cansaço. E importa o verde dos pinheiros e a manta que se estende.
Cheira a seiva e a caruma seca. Ouve-se ao longe a canção do mar. Mar em fúria que se enrola na areia num ímpeto sem tréguas, como a fúria e a revolta se enrolam e se desafazem porque nada mais posso fazer. Estas são as almas de quem quer ver além do mar e da terra.  Almas insignificantes em busca de significado para a vida.
Mas encontra-se. Encontra-se no pretexto de uma corrida e num punhado de conchas vazias. Conchas que se guardam como se com elas guardasse momentos que preciso e que respiro.

Conheço cada metro do percurso. As pessoas que aplaudem têm rostos familiares. Habituei-me às fatias de melancia e aos gracejos de quem por aqui mora.

Esta corrida foi a minha corrida de excessos.
Corri com uma dor muscular que me obrigava a coxear. Desistir? Só no limite....
Corri com vinho verde, azeitonas e pimentos que acompanharam um sargo grelhado e umas horas em agradável encontro de amigos.
Corri com alegria para espantar amargura.
Ele e eu. Eu e ela. Ele ao lado e eu com ela dentro do peito. Sim, ele, o amigo que é o eco dos meus passos e ela a estrelinha azul que habita já não sei onde.

Quando já muitos deram por encerrada a sua época desportiva surge a prova da Lagoa de Santo André. Uma corrida de 10 Km (que este ano se transformaram em mais de 11, mercê de um trilho incorrecto no pinhal) e uma caminhada são o pretexto ideal para comparecer nesta festa em que se transformou a corrida ou na corrida feita festa. Arraial popular, música, sardinhas, febras e vinho.
Termina a prova. Começa a festa. Acendem-se fogareiros. O calor do dia cede lugar ao fresco da noite.

Uma noite sem vento, sem maresia, sem lua. Uma noite de veludo escuro com "luzeiros" acesos no céu. São mais intensas as estrelas sobre a planície alentejana e sobre o mar que se oculta para lá da escuridão.

Em cada ano, um medalhão de barro pintado à mão, apela à preservação dos eco-sistemas. Sem alarde. Num silêncio profundo, apenas a identificação de uma espécie de ave rapina: a águia de asa redonda. No Ano Internacional da Biodiversidade, a Lagoa de Santo André é exemplo da riqueza que nos envolve e que começa a escassear...

A pretexto da corrida, há (pre)textos de palavras...




07
Jul 10
publicado por alemvirtual, às 11:22link do post | comentar | ver comentários (6)

Qui ti aspetterò
E rubero I baci al tempo
Tempo che non basta a cancellare
Coi ricordi il desiderio che
Resta chiuso nelle mani
Che ti porti al viso
Ripensando a me
E ti accompagnerà passando le città da me
Da me che sono ancora qui
E sogno cose che non so di te
Dove sara che strada farà il tuo ritorno
Sogno

 

(de Andrea Bocelli)

 

 

O céu prenuncia tempestade. Cinzento, carregado, quente como sopro febril. Já antes de olhar o céu havia prenúncio de tempestade por aqui. Cá dentro. Dentro do peito e da alma. As tempestades emotivas são as que mais me aterrorizam agora. Os raios e trovões ficaram guardados para momentos mais reais, não estes dos quais teimo em fugir.

 

É uma revolta muda que me invade. Uma dor surda que cresce. Cresce à medida que me interrogo qual a estrada que te trará de regresso.

Sei que não voltas. Sei que não partiste por uns dias. Sei que é inútil esperar-te. Mas continuo à espera que voltes.

 

Tinha ligado o teu leitor de cd assim que entrei no quarto. Coloquei-o no chão, perto do teu violino e do órgão que esperam o teu regresso. Tal como eu. Lá dentro permanece quase sempre o sogno. Ouço-o de vez em quando. Este e outros. Mas este (e uns outros) em especial. Tu sabes.

Abri a janela. Abri as gavetas. Abri os armários e algumas caixas. Percorro com o olhar o teu espaço. Continua tudo pronto à espera que regresses. Tens os vestidos pendurados nos cabides. Os sapatos arumados. Os fios e os brincos, as pulseiras e as flores do cabelo nas caixinhas. Os livros novos à espera que os abras. Os cadernos à espera que os escrevas. As canetas à espera que as use. Tudo te espera. E todos te esperam. Eu mais que ninguém, acho eu. Não sei. Talvez seja pretensão de mãe. Mas espero-te. Espero-te nos dias em que rio e nas mannhãs em que choro. Espero-te nas noites em que sonho e nas tardes que me atormentam. Espero-te quando corro e espero-te quando não tenho força para correr.

 

Não sei porque partiste. Nem acredito que tenhas partido. Deixei de te ver apenas. Sei que te escondes de mim. Talvez estejas aqui ao lado. Um dia, uma gargalhada tua há-de denunciar a tua presença. Sei que não irás conter o riso muito mais tempo. Eu espero...

 

Limpo o pó aos móveis. Um pó fino e escuro, aquele pó invasivo que só existe nas casas desabitadas. Estúpido pó. Não sabe que aqui mora gente. Moras tu. Moro eu que te espero. Esta é a nossa casa.



Qui ti aspetterò

E porque importa fazer tudo como se estivesses apenas ausente, tinha corrido pela manhã. Foram 43 minutos entre o verde das árvores e o azul habitual dos meus sonhos. Hoje sonhei a Maratona. Sim, sim....sei que já sorris.


04
Jul 10
publicado por alemvirtual, às 15:58link do post | comentar | ver comentários (7)

"...Tenho um sonho..."(Martin Luther King)

 

Sempre fui apaixonada por sonhos. Mesmo quando a vida transformou os dias em pesadelos e as horas em angústia. Mesmo nessas horas tinha sonhos. E eram sonhos lindos. 

Há sonhos que não se podem viver. Por isso se chamam sonhos. E também por isso permanecem em nós, como se o real não tivesse acontecido, como se a vida pudesse ser apenas a cor dos sonhos que se buscam. Eu sonho em tons de azul. Do azul da minha estrelinha que passou na vida sonhando com a própria vida. Continuo a sonhar com ela. Continuo a sonhar por ela. Sonho com aqueles que estão aqui, com outros que estão além, com aqueles que nem conheço. E com todos eles e por todos eles se sonha...

 

Também eu continuo a acreditar que, um dia, a minha terra, o meu país e o meu mundo tornarão possível os sonhos das gentes simples. Daqueles que sem terem voz ousam gritar, dos que sem terem vez ousam esperar, dos que sem terem força nunca fraquejam. Por esses, por todos os que sonham e por todos os que já não ousam sonhar, correu-se esta manhã na cidade. Contra a pobreza, a exclusão, a dor e a solidão.

 

Há causas que nos ligam à vida. Há vidas que nos ligam a causas.

 

"Correr pela Inclusão Social", nos 512 anos das Misericórdias de Portugal. Eu, entre, cerca de 6 mil rostos que ainda acreditam que há causas que valem a pena. São múltiplas as contidas na frase "Pela Inclusão Social". Aqui cabem todas as diferenças, contra todas as indiferenças. Há algumas a que sou particularmente sensível: a integração social da pessoa com doença ou deficiência mental; a pobreza disfarçada; a solidão em fim de vida...

 

E há pessoas que pautam a sua vida pela ajuda a quem precisa. Hoje ouvi dois nomes que muito me sensiblizam: um, o da Drª Maria Barroso, o outro, um ícone do Atletismo, Rosa Mota. Se a um associamos imediatamente uma acção profunda no campo social, ao outro associamos conquistas e vitórias, esforço e sorrisos. E é este misto de serenidade e humanismo, de lutas e ternura, de lágrimas veladas e afectos algo contidos que emana dos nomes e das figuras. E elas, simbolicamente, marcaram presença em Lisboa.

 

Lisboa, cidade que já transpirava nos 30º pelas 10 horas da manhã. Cidade cosmopolita que se vestiu de verde luminoso como a esperança das gentes que têm sonhos. Um evento desportivo com uma excelente organização. Se não nos cativasse a causa, cativar-nos-ia o ambiente festivo, o colorido dos milhares de atletas nas ruas, os prémios atractivos, a facilidade do percurso. E claro, a sensação gratificante que se sente ao chegar como se de um dever cumprido se tratasse. 

Corri lado a lado com cadeiras de rodas, com referências a Centros de Reabilitação Física e Social. Com meninos e idosos. Corri com eles por que não posso correr por eles. Mas, todos juntos, podemos continuar a gritar, do cimo de uma varanda (que podia muito bem ser uma varanda de Lisboa): "Tenho um sonho".

Para que nunca sejam esquecidos. Para que sempre sejam lembrados. Correr pela inclusão social.

 

Eu, o António, o José Magro e a Maggui demos as mãos e cortámos a Meta aos 55 minutos e alguns segundos.

 

Eu tenho um sonho...dar as mãos é parte dele.

 

                                Vista do Parque Eduardo VII - Lisboa

Adelaide

 

A chegar à meta

António e José Magro

Drª Maria Barroso e Rosa Mota

Fotos em http://www.ammamagazine.com/


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