A primeira palavra que me ocorre é "Parabéns". Parabéns à organização. Uma prova extremamente bem organizada; sinalização; apoio; abastecimentos; percursos bem escolhidos e enquadramento histórico-cultural que promove, efectivamente, a região e os concelhos envolvidos.
A segunda palavra que me ocorre para transmitir o que sinto é "Felicidade". Sim, estou feliz. Corri com amigos e revi muitos rostos que já não via há algum tempo. O tempo em que estive afastada deste mundo maravilhoso que é a corrida.
Falando em tempo, resta dizer fui a 10º mulher (classificaram-se 18), que gastei 2h e 54 minutos para completar os 21 Km da prova. Mas neste tempo, incluo as minhas paragens para cumprimentar, conversar e deliciar-me com os gomos sumarentos das laranjas e as tostas com doce de morango.
Uma manhã algo fria que se revelou ideal para a prática da corrida.
Sou apaixonada por trail. Nada se compara à comunhão com a natureza. Ao sentimento de evasão e liberdade quando se corre por trilhos campestres e se tomam de "assalto" hortas cultivadas; Saltam-se riachos, sobe-se e desce-se por locais que, de outro modo, nunca seriam explorados nem conhecidos.
Partida dada em Constância. Que outro local mais emblemático para mim?
Saio no final de todos. Atraso-me a falar com uma amiga, a Vice Presidente da Câmara de Constância que tinha ido assistir à partida (mais tarde terei oportunidade, no Entroncamento, de partilhar com ela a satisfação pela prova magnífica que o CLAC com a colaboração de várias entidades promoveu).
Vejo o pelotão afastado uma distância razoável. Acelero um pouco, ultrapasso-os e vou dar um beijinho à minha filha. É também por ela que as provas continuam a fazer sentido. Retorno ao percurso da vila e integro-me no pelotão. Volto a parar para conversar uns instantes com duas pessoas de família. Depois, inicio, de facto, a prova. Acompanha-me o meu amigo António, companheiro inseparável e meu apoio nas corridas. Sigo com ele e a Susan, mas aos 5 Km opto por os deixar e avanço. Durante alguns quilómetros corro sozinha. Depois, começo a ultrapassar. E volto a correr sozinha. Uma sensação deliciosa.
Junto-me a amigos que conheço dos meus tempos da Sobreda. Conversamos. Tiramos fotografias. Frente ao Castelo de Almourol, um pequeno grupo, trajado à época quinhentista, promove as Pomonas Camonianas (a realizar por alturas do dia 10 de Junho em Constância). Falo-lhes desta iniciativa; do Mercado Quinhentista; da ligação de Camões à vila; das Pomonas (divindades ligadas ao florescimento das flores e dos frutos); falo das Cantigas de Cantar Diferente; falo com carinho da terra por quem tenho um imenso carinho.
Volto a avançar sozinha. Cerca do quilómetro 14, quando me sentia dona do mundo por ter vencido uma imensa subida, vejo o António que tinha ido no meu encalço. Juntos continuámos o percurso e, não fosse eu ter quebrado um pouco o ritmo, poderíamos ter conseguido um tempo mais "aceitável". Porém, nem eu nem ele corremos pelo tempo. Corremos apenas por prazer e pela emoção da corrida.
Adoro as partes mais técnicas. Subidas acentuadas, quase a pique, e descidas íngremes. Saltar os riachos e enlamear os pés no terreno encharcado.
Um percurso verde, romântico, fresco. Sentimos os rios por perto. Sentimos que corremos em páginas da nossa história. Sentimos que mergulhamos na Primavera; que fazemos parte deste ciclo maravilhoso que se renova cada ano. Não há morte, apenas transformação. O campo renova-se; revive. Inunda-se o ar de cheiros e chilreios. As giestas e as estevas estão floridas. As urzes - minha flor preferida - vestem-se de uma cor intensa. Intensa como a felicidade de quem é feliz com a simplicidade de uns passos de corrida.
Domingo, na Maratona de Paris, os meus colegas de Clube e amigos, Jorge Neto e António Pereira, irão correr em memória da Margaret. Pediram-me para usar a sua t-shirt. Lembraram-se do carinho que ela sentia por Paris... Obrigada, amigos. Levar o seu nome a Paris é levá-la a ela também...
Fica um beijinho especial também para o Luís Mota (Parabéns por mais uma prestação fantástica - 3º lugar da geral), ao António Almeida, Vitória e Isabel Almeida (vou esperar pelas fotos), ao Joaquim Adelino e ao Vítor Veloso.
Ao CLAC, sinceros parabéns. Fizeram um trabalho excepcional em prol do atletismo e da promoção dos concelhos, com especial relevo para o Entroncamento.
Para o ano, contem de novo comigo.
Foto "roubada" do Blog "Palavras de Corredor" do meu amigo António Almeida
As urzes... foto retirada do álbum
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