existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
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Set 08
publicado por alemvirtual, às 01:22link do post | comentar

 

O pensamento voa alto. Não se fixa neste momento presente, nem naquela situação hilariante ocorrida há pouco tempo. Fugaz ou de "armas e bagagens" o pensamento emerge de um qualquer lugar recôndito do nosso esquecimento e faz-se presente. Muitas vezes, parece até brincar, saltitando de recordação em recordação, como se estas se unissem num perfeiro colar de pérolas que deliberadamente adorna o colo. E não fosse o resultado de uma aparente catadupa de lembranças soltas, angustiantes, catastróficas, desconexas.

Qual a lógica que superintende esta selecção involuntária de "flashes" do passado?

 

Fui correr na sexta-feira. Assim que enfiei o carro na garagem, a cerca de 140 km da casa onde agora habito e entrei naquela que carinhosamente continuo a chamar "minha casa", troquei a roupa pelo fato de treino, as sandálias pelas sapatilhas de corrida. "Adornei-me" com o cronómetro e com o iPOD e sai correndo. Ignorei o trânsito e os gazes do tupo de escape. Desci pela Barquinha velha até ao Parque Almourol e voltei pelo lado de cima, pela estrada nacional nº3, ou seja, fiz um circuito circular. À ida com o Tejo ao meu lado direito, bem perto, quase lhe podia tocar. Sentia-lhe a fescura das águas escuras e turvas e o cheiro do lodo agarrado aos seixos. À vinda, com o Tejo num plano muito mais baixo que eu, podia observá-lo melhor e numa grande extensão, nas suas caprichosas e sinuosas curvas. Com molduras verdes e canais espelhados de água tranquila.

Vi como o meu Tejo está diferente. Quase que me arriscava a dizer "em boca pequena, não vá ele ouvir o sussurro" que o Tejo está a morrer. Como moribundo também está o Zêzere, esventrado no seu leito sem que a água recubra com decoro as suas entranhas abertas e expostas.

E porque corria com o rio aos pés, rio que já foi símbolo, pontes de união, divisória, ganha-pão, abundância de planícies férteis, pareceu-me um rio decadente e fiquei triste. Agora tem duas margens ao lado direito e mais duas ao lado esquerdo e uma indecisão de envergonhados cursos de água cada vez mais distanciados da "maracha" (Canavial).

 O Tejo de águas fartas e traiçoeiras parece ter envelhecido tanto quanto eu....

 

E nada tendo uma coisa a ver com outra, vejo-me a olhar um outro rio. Um rio calmo. Um rio com outras história. Um rio que faz parte, também das minhas histórias e ele fez-se lembrado.

Coimbra e o Mondego.

Lembrei-me das ruas e ruelas estreitas e íngremes que subia apressadamente quando me dirigia para a faculdade. Aconteceu há tantos anos, mas foram tempos felizes. O meu coração batia mais excitado quando entrava naquele belo edifício identificado como Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra. Era um "quê" de especial...

Tal como um qualquer "quê" se apropriou de mim na corrida perto dos rios e nas corridas pelos rios da minha imaginação...Deliciei-me com este treino e deliciei-me ainda mais com a busca na internet de músicas especiais para mim. É sempre com algumas notas musicais que a emoção extravasa. Extravasa em catadupas. Ouvi e senti, revivi e chorei momentos especiais... she , cavalo à solta, Samaritana, Fado do Estudante, Oiça lá ó senhor vinho... confusão de sentimentos; mistura de sensações. Cada uma destas melodias me transportava para uma época diferente da minha vida. As lágrimas lavando o rosto, os dedos ecrevendo estas palavras enquanto cada canção me vai entrando na alma...

 

 Um dia, fui estudante de Coimbra. Não sei cantar.Mas vibro com uma Tuna ou uma noite de fados.

 

 Como dizia o Vasquinho


Que negra sina, ver-me assim
Que sorte vil e degradante
Ai que saudade eu sinto em mim
Do meu viver de estudante

http://www.youtube.com/watch?v=jwcVr1MWxx8

Fado do Estudante

Polo Norte

Composição: Indisponível

Que negra sina, ver-me assim
Que sorte vil e degradante
Ai que saudade eu sinto em mim
Do meu viver de estudante

Nesse fugaz tempo de amor
Que de um rapaz é o melhor
Era um audaz conquistador
Das raparigas

De capa ao ar, cabeça ao léu
Só para amar vivia eu
Sem me ralar
E tudo mais eram cantigas

Nenhuma delas me prendeu
Deixá-las eu era canja
Até ao dia em que apareceu
Essa traidora da franja

Sempre a tenir, sem um tostão
Batina a abrir, por um rasgão
Botas a rir
Um bengalão e ar descarado

A vadiar com outros mais
E a dançar nos arraiais
P'ra namorar, beber, folgar
Cantar o fado

Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores da faculdade
E a mesa de anatomia

Invoco em mim
Recordações que não têm fim
Dessas lições frente ao jardim
No velho campo de Santana

Aulas que eu dava
E se estudasse ainda estava
Nessa classe a que eu faltava
Sete dias por semana

O fado é toda a minha fé
Embala, encanta e enebria
Pois chega a ser bonito até
Na rádio telefonia

Quanto é tocado com calor
Bem ao cuidado e a rigor
É belo o fado
Ninguém há quem lhe resista

É a canção mais popular
Tem emoção faz-nos vibrar
E eis a razão
De eu ser Doutor e ser Fadista
 


  

 

 

 

 

 

 



São excelentes estes momentos que nos proporciona, Ana Paula.
Vinha notando o seu silêncio. Ainda bem que reapareceu neste seu espaço de visita obrigatória.
Continue a brindar-nos com a magia das letras.
Obrigado.

Fernando Andrade
Fernando Andrade a 2 de Outubro de 2008 às 10:43

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