…” Amanhecia um novo dia de trabalho.
Mas lá ao fundo, sozinho, longe do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota treinava. A trinta metros da superfície azul brilhante, baixou os seus pés com membranas, levantou o bico e tentou a todo custo manter as suas asas numa dolorosa curva.
A curva fazia com que voasse devagar, e então a sua velocidade diminuiu até que o vento não fosse mais que um ligeiro sopro, e o oceano como que tivesse parado, abaixo dele. Cerrou os olhos para se concentrar melhor, susteve a respiração e forçou ... só ... mais ... um ... centímetro ... de ... curva ... Mas as penas levantaram-se em turbilhão, atrapalhou-se e caiu.
Como se sabe, as gaivotas nunca se atrapalham, nunca caem. Atrapalhar-se no ar é para elas desgraça e desonra. Mas Fernão Capelo Gaivota - sem se envergonhar, abrindo outra vez as asas naquela trémula e difícil curva, parando, parando ... e atrapalhando-se outra vez! - não era um pássaro vulgar.
A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que os simples factos do voo - como ir da costa à comida e voltar. Para a maioria, o importante não é voar, mas comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar. Antes de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adorava voar...” (in, Fernão Capelo gaivota, BACH Richard)
Imortal e intemporal a obra de Richard Bach. Ainda que todos os livros se destruam, qual incêndio de Alexandria, R. Bach conquistou um lugar na História da Literatura e na história individual de quem mergulhou no seu vasto universo. Fernão Capelo Gaivota, Um, A Ponte para a Eternidade….alguns dos meus preferidos. Mas, de entre todos e de entre todos os outros “amigos de papel”, Fernão é, sem dúvida, uma referência e algo mais que a história de uma gaivota. É uma história de vida. Erguer as asas e voar… Cair e voltar a tentar…. Errar e não desistir… Conseguir e aperfeiçoar…Conhecer e partilhar… Vem-me à ideia os “meus meninos” (alguns, já não são nada meninos, mas é assim que, carinhosamente, gosto de os chamar). Com os “meus meninos” é preciso roubar tempo ao tempo…ao nosso tempo e dar-lhes tempo. É um dos nossos mais importantes aliados. Eles caminham exactamente ao seu ritmo; nem mais nem menos. Nós mantemos expectativas elevadas, sem contudo pedir o impossível…muitas vezes parece que o pedimos…como Fernão…e, eis que o impossível acontece. São pequenos passos, pequenas grandes vitórias…e nós exultamos com eles. Não sou Fernão, mas gostava de ser uma gaivota parecida. À semelhança dele, costumo dizer aos “meus meninos”: - Aqui há duas proibições: Nunca dizer, “não consigo” e “eu não sou capaz”. Também há duas obrigações: Dizer continuamente:“Eu consigo” e “Eu sou capaz”...e acreditar...acreditar sempre. É preciso repetir... repetir... repetir e nunca desistir. Um dia, voaremos juntos e ainda ensinaremos outros a voar… (De entre todos os meus meninos, a Paulinha foi o sol que iluminou os meus dias, a força de que necessitava. Mais do que eu a ela, foi ela quem me ajudou a mim. A minha relação com a Paulinha e as recordações que me deixou permanecerão intactas para sempre. Tenho saudades dela. Gostava de conseguir expressar a coragem, a força e a motivação daquela menina. Ela sim, assemelhava-se a uma gaivota….mas uma gaivota muito especial…) A.P.