Corrida curta, mas prazer prolongado e esforço acrescido...
No Domingo, primeiro dia de Julho, corri na Póvoa de Santo Adrião. Prova excelente, num percurso de 4,5 Km com duas "rampas" de nos roubar o fôlego...em contrapartida brindavam-nos com músculos retesados e rígidos e salgadas gotas de suor, rolando sobre a pele escaldante. Valeu-me a temperatura amena, apesar do sol que às 10h da manhã brilhava em todo o seu esplendor.
Demorei 23´e 46´´ a completar o percurso. Ao fim do primeiro quilómetro considero o meu desempenho como "muito bom". O cronómetro marcava 4´30´´, após uma subida descomunal. Tenho que o avaliar em função do treino (que não tem sido regular e só em corrida lenta) e das condições físicas e psicológicas nesse momento.
Consegui um segundo lugar que, francamente, foi merecido pelo esforço dispendido. O tempo, esse terei que melhorar...
Como sempre encontra-se gente solidária e afável. Na segunda "rampa" contei com o apoio de um desconhecido que sentia estar há algum tempo atrás de mim. Colocou-se a meu lado e acompanhou-me em quase toda a subida...fui ficando para trás à medida que a rampa se aproximava do fim. Chegada ao topo, a minha diferença era já de alguns metros. Recuperei em estrada quase plana e na descida acentuada que se lhe seguiu. Ultrapassei-o e mantive a distância até cerca de 150 metros da Meta. Já com o recinto festivo à vista, eis que o meu "companheiro" surge de novo a meu lado e juntos chegámos ao fim. Ele, cavalheiro, cedeu-me a passagem (a senhora sempre primeiro).
Enquanto aguardávamos a distribuição dos prémios encetámos conversa e soube da Milha Nocturna em que iria participar, no próximo fim-de-semana. Fiquei com vontade de ir.
Despedimo-nos com um abraço.
Devolvi a um outro desconhecido os alfinetes que me tinha emprestado, com um sincero "obrigada".
Gente boa, pensei. Nas corridas só encontro gente de bom coração. E motivos para sorrir, também, se não quiser reflectir um pouco (não é preciso muito) para perceber que a cultura desportiva e a sua prática como forma e estilo de vida mais saudável, numa verdadeira promoção da saúde ainda está a anos-luz de se conseguir para uma grande camada da população portuguesa. Há uma franja social, resistente à mudança e arreigada a normativos e estereótipos adquiridos e transmitidos de geração em geração, neste nosso Portugal tão faminto de formação e iinformação: as mulheres.
Sim, as mulheres, minhas iguais que também eu sou mulher. As mulheres de 40 ou 50 anos. Este escalão etário é "terrível" guardião de preconceitos...mulher fica em casa e prepara o almoço, não corre ao Domingo e muito menos, nos outros dias da semana quando tem a roupa, o marido e os filhos para cuidar. Eu consigo cuidar disso tudo e corro. É posssível e não sou nenhuma super-mulher. Antes pelo contrário. Necessito somente de planificar e estabelecer prioridades e quando não consigo cumprir tudo, lembro-me da máxima de um meu professor de administração: "Primeiro as tarefas importantes e só depois as urgentes". Posto isto, verificamos que engomar um lençol que pode bem transitar para a próxima leva é bem menos urgente que sair meia hora para correr, enquanto há sol... que bem nos faz o sol à mente e à alma...
Pois, na Póvoa de Santo Adrião, uma senhora resmungava bem alto para ser ouvida, enquanto descia a estrada onde os atletas se concentravam:"Vão mas é trabalhar! Não têm nada para fazer??"". Ao que eu, não me contive e retorqui:"Tenho muito que fazer, mas estou aqui!" E logo ela, irada, proferiu uma série de impropérios contra mim, contra todas (as poucas mulheres) que ali estavam e contra todos aqueles que pacificamente se concentravam para uma prova desportiva.
Há um grande trabalho a fazer, sim senhora....
Parabéns à organização da prova, aos órgãos autárquicos e às entidades que a apoiaram. Esteve tudo "5 estrelas" para os miúdos e graúdes. Houve ainda o sorteio de uma bicicleta que fez as delícias do jovem a quem a sorte ditou a sua entrega.
Conheci mais uma localidade da cintura urbana de Lisboa e em boa hora desfiz um falso pressuposto, próprio de quem está habituado à pacata vida de província: os arredores da capital, não são locais perigosos, nem hostis. Podem e são, até, sítios agradáveis para viver com uma rede de vida social e comunitária bem estabelecida.