Manhã de Outono parecendo o entardecer de um dia estival. A luz, a temperatura, o céu azul sem nuvens, intensificavam-se naquelas "línguas de fogo" de um laranja, forte, como os raios de sol, beijando o horizonte em tade de Verão.
Tudo organizado, tudo muito "comercial". A prova de 2006 vivi-a de maneira diferente, intensamente.
Não, não foi pelo estado de espírito com que corri.
Este ano, achei tudo muito bem, tudo tão bem quanto o ano passado, no entanto...No entanto, faltou o ingrediente mais importante: calor humano.
De uma grande organização, espera-se um grande evento. Assim foi e assim será (espero).
Mas à medida que se "cresce", transformamo-nos. E podemo-nos transformar, valorizando e desenvolvendo aspectos positivos ou até assumir alguns negativos que se tomam como "naturais" nesse processo de crescimento. Veja-se o exemplo das pequenas mercearias do comércio tradicional versus hipermercado ou outra grande superfície comercial.
Senti-me sozinha a correr os 10 Km, apesar dos 8.500 inscritos e participantes.
A poucos metros da Meta encontrei uma cara conhecida, a Sandra, foi o único momento bom da corrida. Não por desconhecer os outros. Na edição anterior também não conhecia ninguém, no entanto, senti-me a correr entre amigos, numa prova alegre, organizada, apelativa. Por isso, este ano quis repetir, mas ficou uma sensação de "vazio". Para o próximo ano, procurarei uma prova mais "rústica", mais "caseira" em menor "escala" onde possa sentir o que mais aprecio no mundo da corrida: calor humano.
Na nossa sociedade, cada vez mais desumanizada, importa preservar e fomentar estes nichos de autênticos valores humanistas. Atrever-me-ia a afirmar, de valores judaico-cristãos, pois sãos os pilares da nossa sociedade. Ao voltar costas à sua ancestralidade ética e moral, entrou numa crise de valores (a todos os níveis), da qual resulta a sensação de vertigem, de desconforto e desorientação. Falta pautar a vida por ideais comuns e formas colectivas de gratificação pessoal. Urge descobrir de novo que a individualidade não nos deve remeter para um individualismo egoísta, mas sim para a acção, de expressão conjunta, onde cada um seja e valha, exactamente, por aquilo que é na sua essência.
Bem, eu não sou grande corredora. Sou uma corredora. Tenho capacidade para isso. Tenho funcionalidade nos dois membros inferiores e capacidade para a executar.
Dei por mim, ridiculamente, a desenhar cenários de corrida, colocando hipóteses de tempo gasto.
Depois, chorei. Senti raiva de mim mesma, pois apercebi-me dessa forma inconformista de ser. Não soube ainda aprender a valorizar as pequenas coisas da vida e tive uma tão grande lição de vida!. Que importava o tempo que faria? O importante era poder correr. A minha filha tinha perdido o andar.
Fui, apenas para correr. Mas não consegui desligar-me do cronómetro, nem de ir fazendo contas ao longo do percurso, nem de me esforçar por reduzir ao máximo o tempo em cada quilómetro. Logo, o meu propósito foi uma farsa. Não fui apenas para correr. Fui para me testar e saber até onde me podiam "levar as minha pernas". Ainda sonhos com sucessos...
Corri com ela no pensamento e numa foto que coloquei na t-shirt. Corri com raiva e com desespero.
Mas só quero aprender a correr, apenas porque posso correr. É esse o caminho que me falta e o treino a concretizar.
Ontem, nos 10 Km gastei 54´ 54´´. Quero interiorizar que o tempo é relativo e assumir isso como verdade na minha vida. Quero desvalorizar o que não tem valor... Por enquanto não consigo. Mas vou tentar...
Tenda no Palácio Ribamar (entrega chip e t-shirt)
A "nossa" Vanessa
O meu aquecimento (não, não estava a chorar; era alergia)
A partida
À chegada.
Santo Amaro de Oeiras
Lisboa (zona de Santa Apolónia e Terreiro do Paço), fotografada no dia anterior à corrida, quando fui levantar o chip