Sinais
Há algum tempo que sinto necessidade, quase uma obrigação, de escrever sobre as campanhas de sensibilização que proliferam com a chegada do Verão sobre o “uso e abuso” do sol. São campanhas que alertam para os perigos à exposição solar em horários inadequados e para a necessidade de uso de protector.
Sempre que entro numa farmácia, lá está um folheto informativo patrocinado por uma qualquer marca de cosméticos…são avisos nos meios de comunicação social…são entrevistas a médicos da especialidade….
Tudo isto está muito certo, mas quanto a mim, insuficiente. Claro que a minha opinião é meramente pessoal e baseada na experiência vivida. Não possuo formação clínica, apenas alguns conhecimentos que fui adquirindo, via da doença que nos “bateu à porta”. E é por isso que volto a afirmar: as campanhas são insuficientes pois não referem claramente os riscos, melhor dizendo, os riscos não deixam antever a gravidade da situação.
Falar em cancro da pele (para maioria da população que não tem formação na área da saúde), parece algo muito ligeiro, ou não será a pele superficial? Assim pensava eu. Nunca imaginei que o cancro da pele, na sua pior “versão” dá pelo nome de Melanoma Maligno e é apenas o tipo de cancro de pior prognóstico! Parece não assustar tanto como “cancro dos pulmões” ou “cancro da mama”…mas é uma das mais terríveis formas de doença oncológica.
Não vou escrever sobre isso, pois existem vários sites em língua portuguesa ou inglesa com ampla informação nesta matéria.
Quero reforçar contudo a ideia de que “cancro da pele” é grave, muito grave e não é facilmente curável (apenas pode ser nas fases iniciais da doença, se for melanoma). É um tipo de cancro com alto índice de mortalidade, para o qual não existe tratamento a não ser a cirurgia quando é operável ou quando as suas metástases se localizam em órgãos operáveis ou sensíveis a tratamentos sistémicos como a quimioterapia ou localizado como a radioterapia.
Ainda assim, tudo pode falhar…
A minha filha tem melanoma maligno cutâneo. O melanoma já teve recidivas e espalhou-se em metástases…
Ela não se enquadra no perfil do “grupo de risco” tão divulgado nas campanhas de sensibilização:
Não tem pele clara.
Não tem sardas ou muitos sinais (contudo teve um que se está a revelar uma ameaça de morte)
Não tem antecedentes familiares com historial de melanoma.
Não fazia exposições ao sol.
Usava protector solar.
Ia à praia pela manhã cedo ou ao final do dia.
Assim, prevenir é muito mais que cumprir os cuidados recomendados. Ela cumpria-os.
Um dia, nos seus 19 anos apareceu-lhe um sinal na face…era bonito, regular e preto. Ficava-lhe muito bem.
Com o passar do tempo, o sinal alterou a cor, forma e tamanho. Eu pensava que apenas estava “feio”. Nunca imaginei que para além do factor estético (que não era nada de especial, pois continuava bonita mesmo com o sinal mais “gordo”) pudesse haver perigo de vida.
Quando fez a excisão do sinal, soube o diagnóstico: melanoma maligno. Mas nem assim eu podia imaginar o dramático que viria a ser este resultado. Com o passar do tempo, percebemos que era uma sentença.
Que a minha ignorância na matéria, da qual resultou o drama pessoal que vivemos, sirva para alertar outras pessoas e impedir que situações semelhantes se repitam.
Não descurem os sinais. Não descurem os conselhos médicos no Verão, mas pensem que poderão ser insuficientes. Só uma intervenção atempada poderá evitar grandes sofrimentos. Não façam como eu. A mim, nunca ninguém me disse o que, hoje, digo a quem quiser perder uns minutos a ler estas linhas. Como eu lamento não ter sabido a tempo. Como eu me arrependo de ter tardado uns meses. Como eu maldigo a ignorância que tinha.
Não descurem a vossa pele (não falo em termos estéticos…não importam as rugas ou as cicatrizes…a flacidez ou as manchas de idade).
Ao mínimo sinal de alerta consultem um dermatologista. O tempo pode ser um bom aliado ou um inimigo fatal…com ela bastaram uns meses.
Previnam para que nunca cheguem à conclusão de que não se pode remediar.