Bem perto da bem conhecida Costa de Caparica (penso que todos os portugueses já ouviram falar ou conhecem a praia da Costa) eleva-se uma localidade: o Monte da Caparica. Nao consigo distinguir onde termina o Monte e começa o aglomerado populacional de Raposo, apesar de uma placa identificar esse "lugar". Nunca sei se estou em Raposo, no Pragal ou no Monte da Caparica.
É nesta localidade, urbana, com bairros marcadamente de subúrbio, a denotar carência a todos os níveis que se realiza a Corrida da Freguesia de Costa de Caparica ou do Raposense (nome do Clube desportivo e cultural que dinamiza esta prova em colaboração com a autarquia).
Importante cativar e reunir muitas dezenas de jovens (talvez mais de uma centena), motivando-os para a prática de desporto, quiça "roubando-os" a outros caminhos, aos desvios negativos a que a vida difícil do quotidiano os impele.
Nessa noite tinha dormido mal. Tive pesadelos. Sem perder a "noção" de que a minha filha tinha partido, sonhei com ela e falei-lhe. Um sonho afltivo que me deixou "em baixo". Pela manhã, não me apetecia nada e muito menos correr.
Cheguei cedo ao local da corrida. Muitas crianças e jovens (pois as suas provas começariam pelas 9h 30m), alguns alunos da minha escola, gente conhecida de outras provas, colegas de trabalho e outros de corridas (estes com nomes e significado afectivo para mim)...Isolei-me de todos. Sentei-me num muro e fiquei a observar a azáfama e os miúdos falando alto e alegremente.
Vi como alguns, que não pertenciam a clube nenhum, iam correr com uns calções de praia e uns ténis rotos e sem atacadores. A alma doeu ainda mais. Decididamente não me apetecia correr nem estar ali. Sozinha entre muitos. Deslocada.
Mas chegou a hora. A minha "chefe" (já se sabe que chamo chefe à Adelaide Rodrigues e ao Fernando Oliveira que coordenam o Clube do Sargento da Armada- secção de Atletismo) tinha-me dito para correr com ela e com a "super-corredora" (isto também é chamado com carinho à Magnífica) da nossa equipa, pois estavam ambas lesionadas e fariam a prova lentamente.
Fui com elas. Foi divertido ver como a ambulância nos acompanhava e os bombeiros iam falando connosco. Disparates engraçados, claro.
Nós ríamos e lá íamaos devagar, devagarinho...Eu ria com elas, mas só aparentemente. Na realidade estava muito longe dali.
A "chefe", entretanto "obrigou-me" a ir para a frente e a deixá-las. "Faz a tua prova" - disse-me. E eu fiz.. A partir desse ponto, acelerei para alcançar uma outra veterana que ia à frente. Pensei ir com ela toda a prova e disse-lhe. Mas ela também estava com problemas. Ao sair da localidade do Monte da Caparica deixei-a para trás (sei como é a sensação de nos sentirmos pressionadas a um ritmo que não conseguimos acompanhar). Pela frente uma subida até uma rotunda. Distanciei-me cada vez mais dela e vi a Ana cá em cima. Pensei chegar até ela, mas estava longe demais. A meio da subida uma jovem andava, ofegante. Agarrei-lhe na mão e incentivei-a. Ela, humilde dizia "Vou atrapalhar a senhora". "Não vais nada" - respondi-lhe. "Vem comigo".
Esta foi a melhor parte da corrida. Podia ter avançado um pouco mais e encurtado o meu tempo, mas não o fiz. Foi a melhor opção que tomei. Foi gratificante. Assim, vim com a Claúdia (era esse o seu nome) ajudando-a o melhor que sabia. Controlámos a respiração e o ritmo. Aproveitámos a pequena descida para arranjar forças para a nova subida (esta bem acentuada). Só a deixei quando vi que ela iria terminar a prova e que já nada mais podia fazer por ela.
Obrigada Cláudia, por aceitares a ajuda que te podia dar.
Há um ano atrás, esta prova foi a minha estreia por um Clube Desportivo e a minha segunda participação numa prova.A primeira, a título individual tinha sido a Corrida do Tejo.
Nitidamente, senti-me melhor este ano (em termos físicos, claro).
Uma garrafa de água, uma peça de fruta e uma medalha foi a recompensa pela participação. Mas houve outra. Essa deram-ma sem saber. Tinha pensado "Nunca mais corro". Mas no final da prova estava desejosa que chegassem os treinos prometidos por alguns amigos para continuara correr. Esta instabilidade talvez tenha vindo para ficar e é bem patente nas palavras e nos actos. Mas elo menos, por agora, a corrida não me vou deixar abandonar pela corrida (ou seria eu a abndonar a corrida?)
No final, recebi um miminho muito precioso.
Admirada ..."Já estão deste lado?"