existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
31
Jan 09
publicado por alemvirtual, às 23:17link do post | comentar

Arde em mim, um amor eterno e puro

Sempre puro é este amor de mãe

Roubou-te a morte a vida do futuro,

Já te não vejo sorrir tão docemente.

Foi breve, brevemente esta passagem

Eis quão miserável é alguém

Se de ti não resta mais que a lembrança

Não te vejo, porém sinto

fortemente

A luz do teu olhar que foi de esperança

É essa a luz que iumina

cada dia e as noites tão sombrias

Sem te ver, revivo, pois que vivo

os dias e as noites em que morrias;

As tuas mãos pequenas afagavam

As mãos já cansadas desta mãe

Partiste, para além.

Onde estás? Longe? Perto? Aqui ao lado,

 Eu fiquei, desamparada, 

desenganada dos gritos de promessas incumpridas,

em palavras, fracamente sussurradas,

morria a voz em sopros de coragem

Quis ir. Não fui. Fiquei e tu a ir...

A partir sozinha,

e eu chorando,

nessa viagem

da qual nada sei, mas que anseio

partir do mesmo cais onde fechaste

o doce olhar à luta que travavas.

Fiquei ali olhando o corpo inerte,

as mãos de seda pura entrecruzadas

o teu rosto tão belo, tão sereno...

 

Que de tão etéreo me parecia

Olhar para um anjo das alturas.

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Há dias de sol, tal como ontem e dias sem sol, tal como hoje.

Há dias e pessoas com sol e dias tristes e sombrios como outras pessoas.

 Há vidas sem sol e vidas com sol. Sobretudo, há pessoas radiosas como o sol e pessoas que teimam em espalhar sombras na vida, como uma nuvem cinzenta encobrindo o sol. Há pessoas que vivem zangadas com a vida, com os outros e com elas próprias. Reclamam. Lamentam-se. Afundam-se em acessos de raiva mal contida, de frustração infundada e em egoísmo no seu reduzido mundo. Nada basta. Nada é suficiente. Nada é justo. E os dias escoam-se...e a vida passa...e arrastam consigo o travo amargo do descontentamento...

Eu tenho um sol na minha vida. Mesmo com o céu cinzento e escuro ela descortina sempre um raio de luz para alegrar o seu e o meu dia. No jovem firmamento dos seus dias, nuvens espessas, ancestrais no seu destino, teimam em mostrar a sua face sombria. Numa coragem indescritível ela acredita que, para além desse manto escuro, existe um pedaço azul à sua espera. Gosto de pessoas assim. Todos deviam ser assim. É maravilhoso partilhar a vida com alguém que continuamente agradece a dádiva de cada dia, apenas porque vive cada momento. Sem desistir, sem esmorecer, numa luta sem tréguas contra o desânimo. Inconformada...estóica, como só ela consegue ser.

Quando entrei no autocarro, chovia. Uma chuvinha persistente tombava do manto cerrado do céu. Chorava. Lágrimas caíam... discretamente, sulcavam a face da mãe. Chovia. As nuvens também choravam. Talvez fundidas na mesma dor... De mãos dadas, silenciosamente... No hospital, o sol brilhou. No olhar profundo de uns enormes olhos castanhos, a luz afugenta a sombra do dia.

O coração de mãe sossegou. E as nuvens deixaram de chorar...

 

A.P. Fevereiro de 2007

 


publicado por alemvirtual, às 21:11link do post | comentar | ver comentários (1)

 

Parque do Bonito - Entroncamento

 

 

Para além do virtual

 

 

Nem sempre o tempo permite concretizar o que se pretende fazer. Outras vezes, não é o tempo, seja ele climatérico ou o tempo que o relógio marca na marcha dos ponteiros. Talvez  seja antes a falta daquele "não sei quê" dentro de nós; a motivação, a determinação, a vontade de agir, ou simplesmente a força anímica para prosseguir. Assim sendo, esta "estória" das corridas não tem tido história nenhuma.

 

Ontem, fui até ao Bonito. O céu carregado de grossas nuvens cinzentas deixava adivinhar uma chuvada, daquelas que refrescam a mente, encharcam o corpo e inundam as bermas dos caminhos. Gosto de correr à chuva. Gostar, gosto, mas correr é coisa que se tornou quase impossível. Apenas uma volta ao Parque e esgotaram-se as forças.

 

Decepcionadas, as nuvens vingaram-se. Apenas uns pingos... A chuva não caiu e eu não corri.

 

Votei para casa frustrada comigo mesma. Ontem, nem toda a vontade do mundo pemitiu que corresse.

O corpo não obedece e a chuva só cai quando bem lhe apetece. E apeteceu, pouco depois. Uma tarde escura de chuva que deixaria qualquer um mais triste que o próprio dia. Um dia quase noite...

 

 

Recomeçar tem-se revelado mais difícil que começar. E até parecia fácil...O corpo pesa chumbo (e afinal estou tão magrita!!), a respiração é difícil (tenho fumado muito), as pernas cansam-se (só servem para segurar os pés e estes os sapatos)...

 

Hoje, pela manhã, lá fui eu mais uma vez.  Sem chuva, com um sol quase primaveril. Enquanto  me arrastava (consegui três voltas, com muito custo!!), recordava a outra Paula que corria.

Três ou quatro meses de inactividade não se recuperam de um dia para o outro. E foi com este pensamento que tentei reencontrar a leveza de outrora...claro que não consegui. Não se encontra na curva do caminho. É preciso insistir, insistir...quem me visse, ofegante, vermelha, com passinhos miudinhos, diria "coitada!!", mas eu limitava-me a sorrir para mim mesma, ou para as árvores despidas e dava um passo mais. Não desistir. É esta a força que uma "estrelinha azul" sopra dentro de mim.

 

Da próxima vez, os descarados dos patos bravos não vão ficar impávidos e serenos na beira do açude! Hão-de fugir, voando assustados, tal vai ser o intrépido dos meus passos de corrida! Ai vão, vão...

 

Domingo, dia 8 de Fevereiro, terá lugar o Grande Prémio do Atlântico, onde estive em 2007 e 2008.

Eu bem digo que 10 Km agora será "missão impossível", mas...

 Por onde corri...

imagem retirada de: http://www.cm-entroncamento.pt/NR/rdonlyres/00001d43/bmunirqtgmesnjutercbpsjodzdivpuq/Foto12.gif

 

Depois deste pseudo-treino fui mais uma vez a Constância, mas desta vez, parei o carro junto da Câmara Municipal. Andava há muito tempo a ganhar coragem para interpelar os serviços sobre a concessão de sepultura perpétua da campa onde repousa a minha filhota. Claro que os laços de amizade contam e, muitas vezez, contam para nos conter... Com calma (alguma) lá me dirigi aos serviços respectivos, na qualidade de cidadã. Não satisfeita com a resposta, pedi uma entrevista com o Presidente, o que prontamente me concedeu.

Afinal, parece que o impedimento não reside na autarquia, mas numa qualquer aprovação que uma qualquer Comissão Coordenadora de Lisboa e Vale do Tejo, demora em dar... Tanta Comissão neste país! Tantos estudos e projectos! Tanto tempo... A Câmara espera há 2 anos por essa resposta e eu espero há 17 meses! Tantos quantos os meses decorridos sobre o falecimento da minha "estrelinha azul". Vou insistir. Insisitir até tornar a sua última morada algo mais digno de si. Por enquanto, ela continua sob um pedaço de areia...

img507/7571/nve00029zj6.png

A minha "estrelinha azul"; minha força, minha vida, minha filha


17
Jan 09
publicado por alemvirtual, às 22:55link do post | comentar | ver comentários (5)

A meio da manhã, dissipado o nevoeiro, resplandece o sol num céu quase tão azul como o "mítico" Nilo Azul.

 

É hoje, decido. Visto uma roupa ligeira, calço umas velhas sapatilhas e vou em busca de um prazer quase esquecido: correr. Comungar com a Natureza, perder-me nos mesmos cheiros frescos de terra molhada e pisar caminhos lamacentos. Rosto virado ao sol, absorvo a energia única do cálido sol de Inverno.

 

Tudo estava quieto. O tempo não tinha tempo. Ao redor, árvores despidas, caídas as folhas, há muito amolecidas no chão; quase apodrecidas; quase, novamente, vida.

 

Pisei lama, musgo, pedras e folhas. Vi a represa de águas verdes e turvas. Vi os patos que resistiam ao Inverno. Vi o brilho do diamante das gotas de orvalho nas urzes e no rosmaninho por florir. Ouvi o chilreio de alguns pássaros e deixei-me guiar pelos caminhos abertos e pelos que se insinuavam no pinhal.

 

Durou um pouco menos que vinte minutos, mas valeu por todos estes meses de inactividade. Cada instante valeu mesmo por toda uma vida. Por cada vida ceifada no desabrochar da Primavera.

 

Sorri. Sorri muito.

 

E num jogo de luz e sombras, corri no Parque do Bonito. Um pedaço de sonho improvável, de mão dada às sólidas linhas de ferro. Um entroncamento de emoções.

Passos hesitantes...um pouco mais firmes...mais fortes ainda...decididos.

 

O ar que respiro, respiram os choupos também. Adormecidos, aguardam. Lua erguida no céu...sol no horizonte...repetidamente, até à explosão de vida.

Eu e a Natureza. Unidas. Assim será, até que se complete o meu ciclo.

 

Já nem me lembrava de como era bom...

foto retirada de http://static.panoramio.com/photos/original/3405612.jpg

 


11
Jan 09
publicado por alemvirtual, às 10:26link do post | comentar

Hoje, de clic em clic, cheguei a este endereço:

 

http://runblogosfera.blogspot.com/

 

 

Há uns tempos atrás, vi que este meu blogue (uns quantos desabafos singelos, pois o "mundo" inteiro que existe para além do virtual, não cabe, nem se destina à divulgação na blogosfera), dizia eu, que há uns tempos atrás, apareceu numa revista ou num site brasileiro de blogues de atletismo - como outros, aliás, bem mais vocacionados apenas para o mundo das corridas. O meu, além de uns quantos relatos de provas e treinos que transmitem as emoções vividas nesses momentos, logo, relatos subjectivos, contém outros "momentos", outras páginas de vida. Por tudo isso, é gratificante vê-lo reconhecido por quem se dedica à prática da corrida.

 

No endereço acima indicado, existe uma lista de blogues portugueses e brasileiros concorrentes ao Prémio Blogosfera, iniciativa do autor do blogue Correndo na Chuva  http://www.correndonachuva.net/

Para quem ainda não tinha conhecimento, aqui fica a informação.

 

Ao Bruno Thomaz, parabéns pela iniciativa. 

 

 

 


10
Jan 09
publicado por alemvirtual, às 09:33link do post | comentar | ver comentários (2)

 

Não foi assim este ano, mas aconteceu há muitos anos atrás: Fevereiro de 1983.

A manhã amanheceu fria. Nada de insólito, nas terras mais interiores do Ribatejo. Verdadeiros mantos brancos de geada cobriam os campos e teias de gelo, como fios tecidos por aranhas, derrubavam os ramos das árvores. Era como se a natureza tivesse mergulhado gulosa numa bola de algodão doce. Da roupa, hirta, estendida nas cordas, pendiam autênticas estalactites, ou pérolas suspensas de belos cristais.

 

"Batem leve, levemente, como quem chama por mim"; e fui à janela. "Suavemente a neve caía do azul cinzento do céu"...

A natureza vestia-se de branco puro, como pura era a vida que crescia dentro de mim.

 

Naquele tempo, não se sabia antecipadamente o sexo do bebé. Porém, tinha decidido que, sendo uma menina (e sentia que seria), chamar-se-ia Margaret: Margot; a minha Rainha Margot.

 

Em Dezembro de 1981 tinha subido as escadas que se vêem na foto, num radioso dia de sol de Inverno, vestida de branco e de sonhos. Casei os meus muitos jovens dezoito anos na Charola deste belo monumento (Convento de Cristo de Tomar). Um casamento diferente, como diferente das demais seria a vida...

 

A vida que se prolonga, arrasta, malgrado os traços de juventude que teimam em permanecer no rosto e ocultam as rugas que a alma transporta...dia após dia...sonho após sonho. A vida que quase tudo dá e já quase tudo levou. Resta ainda um amor imenso, infinito, como é o amor de mãe. E uma vontade férrea...

 

Depois de mim, ficará a história. Hstória escrita em sorrisos e lágrimas. Ainda assim, uma história. De quem não desiste. De quem resiste. Orguhosamente convencida de que, um dia, todo o destino estará cumprido. Sem nunca lhe voltar as costas. Virá o descanso merecido. Por agora, é tempo de caminhar.

 

(Em breve, o tempo será de corrida. De mais outra corrida, nesta corrida da Vida)

 

 

 Na expectativa da neve que não chegou, fica a certeza de mais um despertar e de um dia imenso por viver...

Demos graças por esse bem.

 


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