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Não levei "o sol na algibeira", mas levei o sol comigo. O meu sol. Caminhou a meu lado e o dia ficou iluminado embora as nuvens cobrissem o céu.
No imenso tapete verde do Parque da Paz ela sentou-se e eu corria e ela sorria e eu sentia-me em paz com Deus e com o mundo...
O meu sol tem sorrisos e o dia parecia sorrir...
Foi num final de tarde, num dia continuamente triste e escuro...O calendário diz-nos que o solstício de Verão está para breve, mas as temperaturas baixas e a chuva sem tréguas parecem desmentir este acontecimento.
Há momentos em que o cansaço é grande, mas a necessidade de quebrar rotinas é ainda maior; sobretudo quando a rotina nos obriga a deslocações diárias casa-hospital. Os dias ficam inteiramente preenchidos com esperas e angústias. Os rostos em redor estampam na pele a cor amarelada da doença, os olhos reflectem o conformismo de quem baixou os braços. A única paisagem que se vislumbra são aparelhos e instrumentos que desconhecemos...mostradores digitais, alarmes sonoros, agulhas e fios...a multidão que nos cerca, não é a da cidade, em massa colorida e anónima, mas uma uniforme brancura à qual já se atribuem nomes.
Uma vontade imensa de ruptura com este ambiente, seus sons e seus cheiros que se impregnam na pele e na alma, impele-nos e fechamos os olhos ao cansaço.
Urge mudar.
Onde ir? Para onde ir? Não há fuga e não é fuga. É sobrevivência, talvez uma fuga ou uma pausa momentânea, sim.
Nós não fugimos. Ela não foge. Levanta-se e sorri.
- Vamos. - diz-me.
E fomos. Ao encontro lenitivo do Parque da Paz.
Encontrei rostos conhecidos. Companheiros do mesmo clube, treinando...cada um ao seu ritmo. E nós fomos, apenas, mais dois seres naquele refúgio da cidade.
O dia para mim era de sol. Tudo estava iluminado. Ela sentada na relva fofa, sorrindo e eu correndo às voltas...senti-me pertença daquele espaço e confundi-me com a Natureza. O aroma húmido da caruma envolveu-me e o verde intenso coloriu-me. Já não sabia quem era. Talvez mais um elemento daquele quadro singelo...Creio que esvoaçei...
O tempo não conta. Contam as emoções vividas, os sentimentos sentidos, as memórias que perduram. Uma esperança imensa, avassaladora tomou de assalto a minha alma.
- Vamos. - disse-lhe eu.
- Não corres mais? Tens que treinar para os 30 Km. Vou estar em Portalegre com megafones a anunciar a campeã e com faixas e t-sirts com a tua cara.
- Hoje já corri o suficiente. Sorri.
Lentamente tomámos o caminho de regresso. Iríamos continuar a nossa outra corrida.
"Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
Cântico negro - José Régio
imagem retirada de:i5.photobucket.com/
Imagens de 2007 - Corrida de S. VIcente de Fora
O Panteão
Um arco sob a estrada: Mosteiro de S. Vicente de Fora. Ao longe, o Tejo...sempre o Tejo aos pés de Lisboa
O jardim sobranceiro ao local de partida - Campo de Santa Clara
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