existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
30
Jul 09
publicado por alemvirtual, às 18:49link do post | comentar | ver comentários (4)

As estradas que vão, são as estradas que vêm. Algumas são percorridas pela última vez e, a mesma estrada no mesmo sentido, pode ser ao mesmo tempo a estrada que vai e a estrada que vem.

 

Há poucos anos atrás, foi um outro capítulo, uma outra viagem...

Ela fez o caminho comigo. Depois foi ele quando as férias terminaram. Eu era três. Fomos. Eu e ela antes...

Passou pouco tempo, ou talvez uma eternidade; como páginas rasgadas em livros; como pano caído antes da peça terminada. 

Voltámos as duas juntas, depois. Ela pela última vez. Eu com ela. Ele antes de nós...

 

As personagens que ficam, adequam-se ao novo rumo da história. 

 

Hoje, fiz aquele  mesmo caminho, sozinha. O caminho de ida que agora foi o de volta.

  

Castelos de nuvens grossas adornavam a serra. Tudo o resto era azul platinado ao entardecer. O dia tinha sido luminoso e solarengo.

Estava cansada e queria chegar depressa a casa. Talvez para nada. Ninguém me espera. Ah! Mentira. Espera-me o cão com quem brinco às escondidas para espantar o silêncio. Ainda assim, conduzo como se chegar fosse urgente. E ele há-de chegar.

Olho pelo retrovisor e o cume da Serra de Candeeiros parece irreal. As nuvens teceram uma coroa no pico mais alto. O sol, declinando atrás delas, acendeu a serra de luz...

Esforço-me por olhar em frente. Surgem as primeiras sombras da noite, porém, atrás continua a luz. E a luz parece que me acompanha e ilumina o meu caminho de volta. 

 

29 de Julho de 2009... A ordem das coisas pouco importa.

 

Ela é a minha filha. Ele é o meu filho. Continuamos três dentro do peito.

 

Fixo de novo  espelho. A luz continua na serra...

 

 

 

 

 


27
Jul 09
publicado por alemvirtual, às 21:46link do post | comentar | ver comentários (5)

O mundo compreende-se à dimensão das fronteiras do nosso conhecimento. Da permissividade do "cepticismo" nascem crenças, mais ou menos místicas, intrincadas entre entre este e um outro mundo. Irreal? Sim, mas até onde vai a barreira do real. E, afinal, o que é existir? 

 

Por entre as serranias que a estrada atravessa, num mundo feito de azul e verde, trilhos e veredas convidavam a um treino que não fiz.

 

A luminosidade intensa obrigava-me a semicerrar os olhos.

 

Escutava a voz da minha mãe, que insiste em interpretar o presente e o futuro com a visão do passado (ou daquilo que foi o seu presente)... falava da ida do homem à Lua, da era de "conquista", ou pelo menos descoberta espacial, do acelerador de partículas e de um sem número de avanços científicos e tecnológicos. 

Incrível como se mantém actualizada, apesar da quase completa surdez e dos seus quase noventa anos. Vê, lê e interpreta à dimensão do seu mundo. Quantas vezes, antecipando factos e acontecimentos! Invejável... Mas continua a falar como presa a um passado...

 

"Quando o céu for habitado..."

 

Ainda lhe respondi, na ironia condescente de quem se julga mais sábio: "Já é. Por anjos. E eu conheço um deles". Depois, refugiei-me em corridas imaginárias nos trilhos sombrios pela folhagem. 

 

Quando o céu for habitado, talvez tenham desaparecido.

 

E ela continuava a falar num discurso oscilante entre o que é e existe e aquilo que julga (julgamos) ser e existir. No rádio do carro, num posto qualquer, eram notícia os fogos na Europa, as temperaturas tórridas a sul, as tempestades a norte, a queda de granizo e a neve nas Américas, as inundações e desabamento de terras na Ásia...

 

O carro avançava, os quilómetros sucediam-se, a velocidade muito acima de um tempo em que o tempo corria mais devagar...

 

Quando o céu for habitado, talvez se possa abrandar...

 

Até lá, o meu mundo vive um tempo sem tempo para ter tempo...

 

imagem retirada de: http://serramarao.blogs.sapo.pt 

 

(Já são trinta dias sem fumar) 


20
Jul 09
publicado por alemvirtual, às 15:21link do post | comentar | ver comentários (2)

...
Como os feixes de trigo, ele o mantém integro.
Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o, livrando-o de sua palha.
Tritura-o, até torná-lo branco.
Amassa-o, até deixá-lo macio e, então,
submeta-o ao fogo para que se transforme em pão,
no banquete sagrado de Deus.


Todas essa coisas pode o amor fazer
para que você conheça os segredos de seu coração e,
com esse conhecimento,
se torne um fragmento do coração da vida.


                                                                        Khalil Gibran
                                      
* Becharre, Líbano – 1883 d.C. + New York,Usa – 1931
                                   Está sepultado na cripta do Mosteiro de Mar Sarkis, em Becharre
.

 


14
Jul 09
publicado por alemvirtual, às 17:40link do post | comentar | ver comentários (4)

 

 

           Que pena, não haver outro registo aromático além da memória dos nossos sentidos.

  

Na margem norte do Tejo, encastrada entre margens verdejantes e campos perfumados, ornados das roxas flores do rosmaninho, salpicado de giestas e estevas, surge a vila onde reside a minha mãe. Estes campos e montes que num passado recente foram solo fértil de pinheiros robustos e seculares são, hoje, túmulo dessa vida abundante. Apenas braços descarnados, inertes, secos, da cor negra do queimado que se erguem em direcção ao céu. O verde das copas não existe, porque não existem copas. Resta o verde que cobre o chão. Este chão do meu país que de vida renovada se teima em cobrir, contra a mão de fogo que o destrói, contra o destino que lhe corrói as entranhas, resiste. Meu país e estes meus campos resistem...

 

Cheguei. Era a manhã do dia em que se celebra a Revolução dos Cravos. Sinto o pulsar do coração ribatejano. Meu coração também bate, neste compasso especial, neste dia especial, como há mais de trinta anos atrás bateu. Bateu num nervoso infantil. Pressentiu, mais que compreendeu. Hoje, compreende. Tenta não esquecer...

Olho a placa "Polígono de Tancos" , envelhecida e firme, tal como firme foi a coragem dos que daqui partiram e firmes serão as minhas recordações ainda que envelhecidas....

Um sinal de mensagem no telemóvel, desperta-me do torpor em que mergulhei. "Saudações democráticas"- leio.

 

Minha mãe, idosa, curvada ao peso dos anos e da vida atribulada e sofrida, parece nem me reconhecer quando entro.

 - Ah! És tu, minha querida! -  e é tudo quanto consegue dizer porque a emoção lhe prende a voz. Prende-me também num abraço interminável...Ali permanecemos, juntas, envoltas no aroma de flor de laranjeira que, do quintal, invade a casa. Chilreiam os pardais. Os pardais que ela alimenta diariamente com pão molhado (como se não lhes bastasse o alimento farto que retiram do quintal).

- São a minha companhia - repete.

 

O chão cobre-se de um tapete perfumado de flor de laranjeira. Passeio sobre ele. Agitados os ramos por alguns golpes de vento, lançam sobre mim uma chuva imensa de flores brancas. Inspiro profundamente este aroma inigualável.

Desce sobre mim uma chuva de pétalas.

Flor de laranjeira...

 

As árvores oferecem os  frutos carnudos aos nossos olhos...alguns nos ramos mais altos, parecem convidar a subir....

Eu subo. Trepo um pouco pelo tronco. Agarro-me a um ramo mais forte e estico-me para apanhar uma laranja enorme...sinto-me como uma princesa dentro de um castelo.

E aos meus ouvidos parece chegar uma voz, suave como num sussurro:" És a minha princesa". Essa voz que se silenciou há tantos anos quantos os que nasceu a voz da liberdade.

Meu país, meu castelo de flor de laranjeira...

Que saudade.

 


12
Jul 09
publicado por alemvirtual, às 21:15link do post | comentar | ver comentários (3)

 41 min 14 seg - 7 Km de uma quase corrida

Eu e o calor mantemos uma relação algo conflituosa...

 

 

 As fotos são de António Melro Pereira (ao centro da foto; à sua direita António Pereira e Ana Pereira; à esquerda, Fernando Sousa e "euzinha", Ana Pinto)

mais fotos em www.ammamagazine.com

 

 

Domingo, 12 de Julho

Este foi um daqueles dias em que não sei dizer se gostei mais do "antes", do "durante" ou do "depois da prova". Se tudo isto se somasse, confirmaria de novo que "o todo é maior que a soma das partes".

 

É bom ver provas a "crescer". Sobretudo aquelas que, por este ou aquele motivo, mesmo irrisório, as sentimos, um pouco, como "nossas". Assim, esta é também um "pouco minha".

Relativamente ao ano passado, achei que foi mais participada, o percurso alterado integrando mais a cidade "velha" na corrida e atravessando mais vezes o rio que dá o nome à prova. A organização, voltou a primar pelo rigor na orientação do percurso e no corte das vias que pudessem interferir com os atletas. Abundaram agentes de autoridade, escuteiros e bombeiros. A quilometragem encontrava-se assinalada no pavimento. O ambiente envolvente era festivo, com música, enfeites e decoração nas ruas.

A capacidade organizativa fica mais à prova com situações imprevistas e, reparei com orgulho, na rapidez com que se resolveu a questão de faltar água à chegada. Uma situação que poderia ser desagradável porque a necessidade de água era muita. Mas não esperámos mais que um ou dois minutos. A água apareceu quase por magia.

A entrega de prémios foi eficiente e rápida. As classificações disponibilizadas passadas poucas horas no site do Clube da Zona Alta: www.zonaalta.net

 

O Jardim das Rosas e as margem do Almonda com os canteiros de flores, árvores frondosas, latadas e varandins são um verdadeiro hino à beleza paisagística, mostrando como uma cidade com alguns recursos naturais e uma página de história pode acompanhar a evolução, privilegiando a relação do homem com a natureza e preservando o seu património histórico. Em Torres Novas, não há ruas sem flores, espaços sem relva, estradas sem árvores. Há bancos onde me posso sentar. Há parques para brincar. Há um convite silencioso ao prolongamento da estadia e ao retorno...porque onde nos sentimos bem temos vontade de voltar...

 

O dia estava quente e a prova, apesar de curta, tornou-se difícil para mim. Três ou quatro subidas sob um sol impiedoso, fizeram com que me arrastasse lentamente. Género caracol em modo de velocidade lenta. Valeram-me as sombras junto ao rio e a paciência dos meus amigos e companheiros de Clube.

O relógio marcou um tempo miserável com quilómetros a seis minutos!! Porém, isso não me perturbou minimamente. O importante é mesmo participar e voltar ao mundo da corrida. Esta semana, tinha feito dois treinos: um na areia dourada da Costa de Caparica, outro na frescura verde do Parque do Bonito.

 

Entre nós, ficou o desejo de voltar para o próximo ano.

Espero que volte também. 

 

 

Três AP´s na prova.  

 


08
Jul 09
publicado por alemvirtual, às 09:10link do post | comentar | ver comentários (3)

É quando a praia se esvazia de pessoas e enche de gaivotas, o sol descendo no horizonte, torna metálica a superfície do mar e o azul celeste se transforma numa paleta de matizes indescritíveis que chega a hora da magia. Ontem, quis estar lá quando chegasse esta hora mágica.

Há muito tempo que não corria. Há mais tempo ainda que não corria na praia. E há muito, muito tempo que não corria em paz, sozinha na areia.

Era tudo dourado ao redor. Lembra filmes de desenhos animados em que uma fada agita a varinha de condão desencadeando uma chuva de estrelinhas brilhantes e grãos dourados. É assim que a praia fica ao entardecer. Cores mágicas. Sons mágicos. E a magia da paz da corrida junto ao mar.

 

Aqui e ali bandos de gaivotas agrupam-se na areia. Formam círculos. Outras voam graciosamente junto à água, gráceis como bailarinas.  Há quem manobre acrobaticamente as asas subindo repentinamente para descer de forma ainda mais imprevista. São as trapezistas. Algumas esperam quietas, pacientemente, não sei bem o quê. Qualquer coisa que o bando decida, ou então que o nascer do novo dia as faça cumprir as rotinas que não questionam. Poucas aventuram-se para mais para longe, andando de forma ondulante, olhos confiantes, fixos na imensidão que se estende à sua frente e no infinito ao qual voltam costas. O horizonte fica mais perto e o mundo mais pequeno quando abandonam o ar.  Decidem caminhar na areia macia, enfrentando as dificuldades. Avançam a custo, desprezando a leveza do voo. São as que rasgam caminhos, as temerárias, as conquistadoras.

Procurei com o olhar aquelas que mais aprecio. Sei que encontro sempre uma ou duas. As marginais. As que se esquecem que uns quantos peixes são deixados na areia pelas redes, que as ondas se revoltam, que o sol perde o brilho e que a noite avança vinda não se sabe de onde. Esquecem isso tudo porque tudo isso  já não chega. São as que esperam mais. Sempre mais. Não basta o céu azul. Não basta a imensidão do mar.

Na hora mágica da praia quando todas se aquietam estas agitam-se. Interiormente. Em momentos de busca desesperada dos porquês, de revolta contra a monotonia plácida dos dias, lançam-se em voos picados e abruptos. Sem rumo. Perseguindo sonhos que se desfazem como as nuvens que se dissipam ao redor. Outras vezes, estão sós. Paradas. Diferentes. Apenas uma gaivota (diferente) sobre a areia.

 

Sob os meus pés, quebram-se pequenas conchas. Crac...crac...crac... Corro junto à água, na areia molhada que ainda borbulha de uma vida que não vejo, mas adivinho. Tenho vontade de me despir e entrar na água. Adoro a sensação de fescura. Sinto-me parte do oceano. Como me sinto parte do bando que deixei para trás.

 

Agora a praia está deserta. Ao longe o horizonte fica difuso. Sem contornos definidos. Espuma branca, azul do céu, areia dourada, dunas e pontos verdes. Tudo se confunde. Este é o destino que tracei. O percurso já antigo, tantas vezes percorrido, testemunha silenciosa dos dias que vão passando. Passadas mais fáceis. Outras difíceis. Momentos de desistência e de sentar na areia. Paragens de cansaço. Levantar com alento. Sorrir com sorrisos de alma. Voltar a parar. Deixar que o sal das lágrimas se confunda com o salgado das ondas.

E uma pergunta constante. Como se soprada pelo vento que varre o mar: Porquê? Porquê? E continuo a correr sem olhar para trás. Não preciso. Passado e presente confundem-se como este horizonte que se afasta à medida que me aproximo.

 

Volto antes que a noite cubra o mar. Faça dele o abismo escuro, temível no qual se afundam esperanças e escondem monstros e temores.

 

A hora mágica passou. Amanhã haverá outra. Todos os dias, a magia se repete. Para mim, ao entardecer. Mas a magia acontece a qualquer hora. Basta querer.

 

 


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