Nem sempre é fácil falar aos jovens. Menos fácil ainda é, por vezes, que os jovens nos escutem.
Hoje, durante a manhã, falei com jovens e falei aos jovens. Sobre uma outra jovem, a minha filha.
Algumas escolas secundárias, têm-me endereçado convites para apresentar a minha "Estrelinha Azul". Hoje, estive na Escola Secundária Jácome Ratton, em Tomar.
Encontrei uns jovens maravilhosos. Numa atitude interessada, respeitosa quiseram saber mais sobre a vida da Margaret, sobre a sua luta contra o cancro e sobre a sua forma positiva de estar na vida.
Alguns choraram. Em todos vi olhares de ternura. Senti-me bem. Senti que a mensagem de amor e coragem da Estrelinha Azul contagia corações adultos e corações mais jovens.
Enquanto existirem pontes de afecto, os afectos não se desmoronam. E a linguagem dos afectos, é tão fácil...
Lembrei-me de umas palavras de 23 de março de 2010...
A Educação e a Força dos Afectos*
Falar de educação é falar de envolvimento, de afecto, de amor. Como é sabido, e o povo na sua imensa sabedoria confirma “amar nunca é demais”. Também se sabe que o amor não se compra e assim sendo, quantas vezes, é nas casas mais pobres que encontra as suas mais ricas expressões de afecto...
Porém, educar com afecto não é sinonimo de permissão absoluta, de omissão, de ausência ou regras ambíguas. Há limites e há fronteiras. Há definição de papéis. Há exigências. Há esforço.
Não é intenção, nesta “meia dúzia de linhas” abordar teorias, fazer apologias ou análises pedagógicas, psicológicas ou sociológicas sobre educação. É simplesmente uma partilha sobre algo tão complexo e delicado quanto é o acto educativo.
Educação pelos afectos pressupõe, obviamente, pensar-se na relação pais-filhos centrando a aprendizagem nos filhos e o ensinamento nos pais. Como é natural...
Por vezes, precisamos de situações extremas para que se reflicta em realidades que quase passam despercebidas; não fossem as tais situações extremas que chocam e fazem pensar...
Hoje, e porque importa (quantas vezes) chocar para reflectir, vamos inverter este paradigma. Falemos da educação dos pais, através dos filhos.
Tive uma filha. Muitas vezes, me interrogo se a terei ajudado a viver. Não sei. Mas sei que recebi dela os melhores ensinamentos que compêndio algum pode suplantar. Ensinou-me, na primeira pessoa, a importância de coisas tão simples como...
o Tempo – a brevidade e a relatividade do tempo...Que qualidade de tempo? Que quantidade de tempo? Que valorização do tempo para nós e para os outros?
a Palavra – o poder da palavra... Da palavra que magoa ou acalenta, da palavra que apoia ou critica; Da palavra que educa e corrige; Da palavra que acalma e compreende; Da verdadeira palavra que comunica e da palavra que ama;
a Escuta – ouvir o Outro... “Estou aqui para te ouvir...o que dizes, interessa-me; fala comigo” – é a linguagem silenciosa da atitude na escuta activa.
a Presença – Estou aqui...agora que tu sofres; agora que tu ris; agora que estás confuso; agora que estás com medo; E vou estar sempre aqui...nos teus sucessos e nos teus fracassos. Conta comigo.
A Confiança – confio em ti; nas tuas escolhas, nas tuas acções; se tu errares, sou eu que erro contigo;
Com ela aprendi muitas outras coisas, como a Coragem nas horas difíceis; a Alegria dos pequenos nadas; a Esperança quando nada resta.
Aprendi que os pais também recebem lições de vida. E na humildade de quem ama, se dá testemunho da mensagem recebida. Para outros pais. Para outros filhos.
Fernando Pessoa disse que “a morte é a curva na estrada; morrer é só não ser visto”.
A minha filha apenas se afastou para lá da curva da estrada. Foi um orgulho ter caminhado a seu lado.
Posso não ser o filho que desejaste, mas sou o filho que tens. Estou aqui.
* “A Força dos Afectos” é um livro da autoria de Torey Hayden. Recomenda-se. ...”com a dose certa de amor e compreensão não existem causas perdidas”
Ana Paula Pinto
in JORNAL SEGUNDO TOQUE - Agrupamento de Escolas de Sardoal