existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
28
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 18:37link do post | comentar | ver comentários (3)

Nem sempre é fácil falar aos jovens. Menos fácil ainda é, por vezes, que os jovens nos escutem.

Hoje, durante a manhã, falei com jovens e falei aos jovens. Sobre uma outra jovem, a minha filha.

Algumas escolas secundárias, têm-me endereçado convites para apresentar a minha "Estrelinha Azul". Hoje, estive na Escola Secundária Jácome Ratton, em Tomar.

Encontrei uns jovens maravilhosos. Numa atitude interessada, respeitosa quiseram saber mais sobre a vida da Margaret, sobre a sua luta contra o cancro e sobre a sua forma positiva de estar na vida.

Alguns choraram. Em todos vi olhares de ternura. Senti-me bem. Senti que a mensagem de amor e coragem da Estrelinha Azul contagia corações adultos e corações mais jovens.

Enquanto existirem pontes de afecto, os afectos não se desmoronam. E a linguagem dos afectos, é tão fácil...

 

 

Lembrei-me de umas palavras de 23 de março de 2010...

 

A Educação e a Força dos Afectos*


Falar de educação é falar de envolvimento, de afecto, de amor. Como é sabido, e o povo na sua imensa sabedoria confirma “amar nunca é demais”. Também se sabe que o amor não se compra e assim sendo, quantas vezes, é nas casas mais pobres que encontra as suas mais ricas expressões de afecto...

Porém, educar com afecto não é sinonimo de permissão absoluta, de omissão, de ausência ou regras ambíguas. Há limites e há fronteiras. Há definição de papéis. Há exigências. Há esforço.

Não é intenção, nesta “meia dúzia de linhas” abordar teorias, fazer apologias ou análises pedagógicas, psicológicas ou sociológicas sobre educação. É simplesmente uma partilha sobre algo tão complexo e delicado quanto é o acto educativo.

Educação pelos afectos pressupõe, obviamente, pensar-se na relação pais-filhos centrando a aprendizagem nos filhos e o ensinamento nos pais. Como é natural...

Por vezes, precisamos de situações extremas para que se reflicta em realidades que quase passam despercebidas; não fossem as tais situações extremas que chocam e fazem pensar...

Hoje, e porque importa (quantas vezes) chocar para reflectir, vamos inverter este paradigma. Falemos da educação dos pais, através dos filhos.

 

Tive uma filha. Muitas vezes, me interrogo se a terei ajudado a viver. Não sei. Mas sei que recebi dela os melhores ensinamentos que compêndio algum pode suplantar. Ensinou-me, na primeira pessoa, a importância de coisas tão simples como...

o Tempo – a brevidade e a relatividade do tempo...Que qualidade de tempo? Que quantidade de tempo? Que valorização do tempo para nós e para os outros?

a Palavra – o poder da palavra... Da palavra que magoa ou acalenta, da palavra que apoia ou critica; Da palavra que educa e corrige; Da palavra que acalma e compreende; Da verdadeira palavra que comunica e da palavra que ama;

a Escuta – ouvir o Outro... “Estou aqui para te ouvir...o que dizes, interessa-me; fala comigo” – é a linguagem silenciosa da atitude na escuta activa.

a Presença – Estou aqui...agora que tu sofres; agora que tu ris; agora que estás confuso; agora que estás com medo; E vou estar sempre aqui...nos teus sucessos e nos teus fracassos. Conta comigo.

A Confiança – confio em ti; nas tuas escolhas, nas tuas acções; se tu errares, sou eu que erro contigo;

Com ela aprendi muitas outras coisas, como a Coragem nas horas difíceis; a Alegria dos pequenos nadas; a Esperança quando nada resta.

Aprendi que os pais também recebem lições de vida. E na humildade de quem ama, se dá testemunho da mensagem recebida. Para outros pais. Para outros filhos.

Fernando Pessoa disse que “a morte é a curva na estrada; morrer é só não ser visto”.

A minha filha apenas se afastou para lá da curva da estrada. Foi um orgulho ter caminhado a seu lado.

 

Posso não ser o filho que desejaste, mas sou o filho que tens. Estou aqui.

* “A Força dos Afectos” é um livro da autoria de Torey Hayden. Recomenda-se. ...”com a dose certa de amor e compreensão não existem causas perdidas”

Ana Paula Pinto

in JORNAL SEGUNDO TOQUE - Agrupamento de Escolas de Sardoal


26
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 14:15link do post | comentar | ver comentários (2)

Queria dizer-te que corri…

Atravessei as ruas adormecidas. A manhã acordava no eco dos meus passos. E eu acordava neste dia que sorria.

Manhã cedo, corri contigo. Levava no corpo o teu cansaço e no peito o teu nome. Eu corria. Tu, apenas, ias comigo…

As marcas da cidade ficaram para trás e mergulhei na quietude verde daquele espaço que conheces. Sereno e tão tranquilo. Sabes, é como se chegasse a um recanto mágico. Como se uma porta se abrisse para um mundo paralelo. De silêncio e paz. Não; de chilreios e de vida.

As aves despertam cedo. Saltitantes cruzavam o meu caminho, debicando, aqui e ali, alimentos que não via. Nada mais se mexia. Nem o verde dos pinheiros, nem a cor parda dos ramos nus erguidos nas margens do ribeiro. Era apenas eu e tu. Sob os pés a relva macia em pequenos tufos. Aqui e ali, malmequeres que despontam atrevidos. Onde a relva não venceu, um tapete de folhas que se fundem, pouco a pouco, com a terra. Numa união perfeita, as folhas morrendo, a terra ganhando vida.

Senti-me forte. Corajosa. Livre. Como há muito tempo não sentia, ou talvez nunca tivesse sentido. Corri pelo trilho habitual. Não hesitei quando saí da segurança do parque. Destemida embrenhei-me mais naquela solidão de mato orvalhado pelo frio da noite. Ia correndo...

 

A corrida é uma paixão. Uma chama que cresce em nós. Alastra, queima, mas não consome.

Por isso, queria dizer-te que corri. Que corro, mesmo quando não corro.

 

Sei que me cruzo com gente no regresso.

Parti com um brilho no olhar. Chego com um sorriso no rosto.


19
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 20:50link do post | comentar | ver comentários (3)

Para lá da arco suave da ponte, erguia-se uma lua imensa e cintilante. Os pequenos cristais dos blocos de pedra reflectiam infinitos pontos de brilho intenso; como se a força da luz emanasse do próprio ventre da terra, esgueirando-se por frestas invisíveis. Como um sorriso brilhante, assim era esse arco claro sobre as águas escuras do rio.

Era uma noite quieta, morna, com a suavidade que se embala um amor.

Na calçada da rua, entre as abóbodas de arcos antigos, pianos e violinos gemiam e sussuravam murmúrios de romance.

Tinha sido há muitos anos atrás, mas lembrava-se como se o tempo tivesse parado, na magia daquele tempo em Itália. Juntos, caminhavam em silêncio por entre artistas e boémios. A noite vestia-se de acordes suaves e traços negros de perfis.

Era Agosto. Mas podia ter sido em Janeiro. Uma noite como esta. A mesma lua. Cheia. Redonda. Intensa. Não mudou (O céu não tinha mudado). Talvez o mesmo caminho, por detrás das águas escuras. O rio tinha outro nome, outras musas, outra história. Muitas luas tinham nascido e morrido...

 

Naquela noite, há muitos anos atrás, não havia vozes. Apenas olhares. Era tudo. Bastava.

 

Parecia a mesma lua. Sim, exactamente a mesma lua...

 

Tacteou a mão esquerda, talvez esperando sentir a firmeza do ouro e a certeza da sua inscrição: "Para sempre".


15
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 12:40link do post | comentar | ver comentários (2)

Não se pode negar. Eu não posso negar. Nem quero! Ainda que feche os olhos, as janelas, as cortinas. Ainda que nada ouça e me atire para um canto, ou para a berma da estrada, ou fuja desatinada sem rumo certo.

Sei que está sem mim. Sinto-te. Como sinto este ar húmido que me envolve. Desejo-te. Como se deseja esta seiva que corre em ti.

Liberto-me. E um frémito, um pulsar agita, como ondas, o ser em que me encerro. Além dele. Para além dele. Estendem-se, de novo, os nossos mesmos velhos sonhos do passado.

 

Falo dos sonhos. Dizia que, sem sonhos, deixa-se de viver. É verdade. Vive o corpo. Morreu a alma. Uma morte aparente ou a aparência de uma vida? Os dias passam e nada se quer dessa passagem. Deixam-se escoar. Como se, olhando a vida de uma janela, desprezasse quem dela se avista. Por isso, os sonhos fazem parte da vida. Os sonhos afugentam a cor pardacenta do anoitecer. Sonhos que limam arestas; que congregam esperanças; que encorajam. Sonhando até a falésia mais abrupta se oferece como colina suave; caminha-se ao lado do precipício com a segurança de duas mãos entrelaçadas.

 

Pela manhã, fui correr. Apenas 20 minutos. Doeu-me o pé. Dói ainda. Estou com gelo sobre a zona lesionada, enquanto partilho a sensação maravilhosa de ter voltado a correr.

 

Que prazer. Uma manhã húmida, mas clara. O chão enlameado. O ar sereno. As águas rompendo barreiras de ramos quebrados. A música dos passos no caminho.

Sim, uma dor que não se esquece, mas uma alma renascida.

 

Sonhos simples. Como simples é a forma de ser feliz. É-se apenas. Vivo. Sonho. Corro.

 

 


10
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 19:42link do post | comentar | ver comentários (1)

Gosto de escrever. Algumas vezes, sobre sobre isto ou aquilo. Outras, mais sobre isto. Muitas, sobre aquilo. Ainda mais, sobre coisa nenhuma. Não importa. Gosto de escrever e ponto final.

As palavras ganham vida. É a magia das palavras. Apenas umas letras que se juntam. De um montinho se faz um pensamento, como se de um canteiro de sementes se tratasse. Juntam-se outras letrinhas. Mais umas bem juntinhas e outras mais para além. Separadas mas não muito. E assim nasce um jardim. Semente a semente. Com carinho, com ternura se cuidam em cada dia. Nascem contos e histórias. Nascem vidas e tragédias. Glórias. Relatos e epopeias. Guerras, amores e conquistas.

 

As palavras nascem assim. Da vontade da razão. Dos sonhos e emoções. Nascem apenas porque sim. Morrem outras porque não.

 

Gosto de escrever sobre, a maior parte das vezes, nenhuma coisa em especial.

 

E enquanto as frases se vão formando, ganhando uma vida própria, dou por mim a pensar em coisas mesmo especiais. Momentos únicos. Pessoais. E noto que as palavras, nem sempre traduzem o que se sente. Podem encerrar caminhos, conter amarras, alargar horizontes. Rir e chorar. Podem cantar. E o pensamento pode errar. Divagar. Ir além do que se escreve. As palavras são volúveis, infiéis.

 

Se tantas vezes gosto de escrever sobre coisa nenhuma, este é um desses momentos.

As palavras surgem e o pensamento voa.

Assim, como papagaio de papel. Um pássaro colorido que ganha vida ao sabor do capricho do vento e das mãos de uma criança.


09
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 17:00link do post | comentar | ver comentários (2)

Muito se fala do "império" materialista. Muito se discute a crise de (alguns) valores. Parece tudo, ou quase, condenado à frieza de quem passa pelo outro sem o ver. Olhares apressados, vazios, apáticos. Passos que se afastam do próprio eco, como se o "eu" escondido fugisse de si.

Hoje, alguém parou. Andou uns metros. Hesitou. Voltou atrás. Umas palavras. Para sossegar a inquietude.

-Precisa de ajuda?

 

Assim. Simplesmente.

 

Olhei para a pessoa que ali estava, parada, confiante, pacífica. Percebi que ainda há quem abrande o passo. Quem volte atrás. Quem se importe.

-Precisa de ajuda? - repetiu.

E tudo quanto consegui fazer foi continuar a olhar. Depois, senti as lágrimas chegarem, mais repentinas que aquela mão estendida. Desviei o olhar para o motor do carro calado. Para o telemóvel inutilizado. Para a estrada deserta.

- Obrigada.

 

(obrigada;)

 

 


08
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 18:24link do post | comentar | ver comentários (7)

Não são brisas suaves que afagam cabelos. Não são rajadas agrestes que gelam a face. Não são assomos de catástrofe. Não são tormentos. Não são, obviamente, venturas. Por si só, apenas, são ventos.

 

Há ventos de mudança. Agitam os ares. Expulsam bafios. Sacodem folhas velhas. Levantam poeira. Renovam.

Sim, sopra um vento de mudança.

 

E é como se as palavras ganhassem vida na vida infinita da poesia...

 

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

 

Nem todas. Há vontades que permanecem. Em breve voltarei a correr...

 

Mas sopra um vento de mudança. Como todos, surgiu de forma imprevisível. Não há portas cerradas. Não há feno recolhido. Não há roupa segura no estendal. O vento sopra. Varre os cantos. Leva o pouco firme. Deixa o consistente. Recolhe-se o trigo escolhido. Ajeitam-se as cortinas da janela.

 

Os ventos de mudança, surgem, e nada fica como antes. Vêm não sei de onde e sopram não sei porquê.

Muda-se.

 

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Vento - para quem quiser saber mais sobre (e)ventos:-)...)

 


01
Jan 11
publicado por alemvirtual, às 01:06link do post | comentar | ver comentários (2)

Hoje, que o ano começa,

e para que comece bem,

vou fazer uma promessa

ao meu pai e à minha mãe.

 

E para não a esquecer

e que ninguém me desminta,

nesta folha de papel

aqui fica escrita a tinta.

 

Prometo solenemente

não brincar com o meu irmão,

repartir com toda agente

brinquedos, bolos ou pão;

 

ter sempre tanto juízo

quer de dia, quer de noite,

que nunca há-de ser preciso

apanhar nenhum açoite.

 

Se assim fizer, hei-de ter

muitos amigos e amigas

porque a amizade se pega

mais que o sarampo e as bexigas.

(Maria Isabel de Mendonça Soares)

 

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