existe sempre alguém ...passo e fico como o universo...
27
Jul 11
publicado por alemvirtual, às 19:44link do post | comentar | ver comentários (1)

Como cão que é, claro! Não eu, mas ele. Chama-se Dharma. Tem um focinho "aterrador" com um olhar de uma imensa ternura. "Casca grossa" como a "dona". Por outras palavras, a brutalidade é mais aparente. Por fora parece bicho ruim. Por dentro, o bicho, em vez de coração, deve ter um favo de mel. O que de mais agressivo faz na vida é chorar como uma criança se, por acaso, fica só. Raio de cão este!

Adiante...

 

Já era tempo de voltar a correr. Hoje, pela manhã, ocorreu-me a brilhante ideia de arranjar companhia. Indecisa deixo passar algum tempo. O sol vai tomando força. A temperatura aumenta. Ora... nada que não seja suportável. Olho várias vezes para o cão.

Vou buscar a trela e os seus acessórios. Mal levanta a cabeça, dorminhoco. Pensando que vai dar apenas um passeio, decide-se a erguer, ainda meio trôpego; Abana o rabo satisfeito e olha para mim, como se visse a Madre Teresa de Calcutá (sem a mais leve ofensa, já que admiro porfundamente a sua obra e sou cristã, católica e assumo em todo o lado a minha fé).

 

A primeira meia hora foi fantástica. Eu sentia-me leve. Sem treinos dignos de registo, estava admirada comigo mesma. O cão, esse com menos treinos ainda, parecia não perceber que o ritmo se deve manter. Mas não. Puxava com força e corria feliz. Eu mal o podia acompanhar. Comecei, entretanto, a ouvir uma respiração ruidosa e ofegante. A língua atirada para um lado aumentava de tamanho a olhos vistos. Temi que arrojasse no chão. Tínhamos passado há uns minutos atrás pela zona relvada do Complexo Desportivo, onde os aspersores regavam a relva. Na altura pensei que, ao regressar aí nos iríamos refrescar. Eu e o Dharma. 

O ritmo do cão decrescia, até já não passar de um andar arrastado. Fez menção de parar, várias vezes. Incentivei-o a prosseguir. Até ao limte das suas forças (que são muitas).

Ao aproximarmo-nos, de novo, da zona relvada, mais fresca e aprazível, o pobre do bicho já caminhava lentamente. Arrastava-se com esforço. Resolvi andar. Solidariamente com ele, lá chegámos. mas os repuxos já não deitavam uma gota que fosse. Que decepção.

Eis-nos com os pés na relva. Molhada, encharcada, em alguns pontos. Foi demais para o bicho. Desistiu. Mandou-se para chão e aí ficou, patas esticadas, como frango no churrasco. Bebeu das poças de água que se tinham formado. Arrastou-se escassos centímetros para beber de novo. Os meus pés afundavam-se na água e os meus lábios abriam-se num enorme sorriso. Maior ainda que o dele. Aquela boca escancarada; os olhos suplicantes; o pedido mudo "Deixa-me aqui. Estou de rastos como um cão"...

E eu deixei...por longos minutos.

Mas tínhamos de chegar a casa. Pata aqui, pata ali, pata acolá... tropeções nas escadas. Engano na porta (queria entrar logo para o 1º andar). Por fim, a salvo! Fugiu de mim como Diabo da Cruz. Foi a minha vez de me arrastar. Melhor, de me arrastar porque o arrastava a ele até à banheira. Bem o puxei e empurrei. Pesa quase tanto como eu e, uma corpo em recusa, pesa ainda muito mais! Enfim, lá colaborou e saltou para dentro. Chuveirada no Dharma... Sacudidelas que me encharcaram... Inundações como se um cano tivesse rebentado...

E a esta hora ainda o pobre do cão está na posição "frango no churrasco".  

 

Corridas? Bahhh...não me revelo interessado....

O Dharma e o seu super sorriso (antes da corrida, evidentemente)


12
Jul 11
publicado por alemvirtual, às 14:59link do post | comentar | ver comentários (1)

Uma propriedade rural acolheu o II Acampamento eXmotiOn 2011, Juventude Popular, organizado pelo Bruno e Thomas Matafome. Dois jovens dinâmicos que induzem dinamismo, motivam e cativam. Vale a pena "alinhar" com eles! Ficamos enriquecidos pela partilha de experiências e surpreendidos com tanto que o jovens têm para nos dar. Com este grupo, o companheirismo, o sentido social, os valores tradicionalmente defendemos e a alegria imensa de viver, fascinam-nos. Reforçam a vontade de acreditar que o amanhã será, certamente, um futuro de certezas.

 

O local é paradisíaco. Recantos deste Portugal interior, de contrastes entre o tom ocre da terra, o azul profundo da água e o verde eterno dos campos. Cheira a seiva de pinheiro e a caruma seca no chão; a sobreiros e a amoras maduras que se oferecem às mãos ávidas e tingem a boca de um roxo quase negro. Cheira a lodo que vem do rio. É um mundo de aromas que se misturam. Um mundo de cor e de frescura. A tranquilidade da vida calma feita ao ritmo da natureza. Absorve-se como este ar que dizem “forte”. Respira-se serenidade.

Oferecem-se inúmeras atividades. A maior parte, desportos aquáticos, desde a canoagem ao pólo. Podia, igualmente, optar pelo descanso na quinta. Caminhar pelos trilhos ou aventurar-me na solidão aparente da floresta.

Fala-se, no grupo, de vida selvagem, mas também dos rebanhos aos cuidados do pastor. Contam-se incursões de javalis às hortas em quintas vizinhas. Ouço o canto de inúmeras aves que não distingo. Algumas, ocultam-se entre as copas das árvores, outras cruzam audazes o meu caminho. Destacam-se os altos ninhos das cegonhas, a majestade do seu voo elegante e os ensaios tímidos dos mais jovens. Recordo-me da cor rosada dos flamingos, mais perto da foz, e do branco imaculado das garças, a montante. Decido que, numa outra vez, irei observar a vida das aves. Hoje, quero viver o rio por dentro. Dentro da água, dentro de si.

Os jovens montaram tendas junto de uma lagoa que as nascentes alimentam todo o ano. Mais abaixo, num desnível acentuado, corre o rio. Num futuro próximo, poderei ocupar uma das casas palafíticas de madeira que aqui se irão construir. Dormirei de olhos postos no rio.

 

A tarde está quente. Sopra uma brisa suave. O céu, de tão azul, tornou a água quase platinada. Uma das infinitas variações de cor que oferece um rio sempre diferente.

Os jovens dividem-se por duas carrinhas de apoio. Subo para um jipe que aguarda e parte-se para mais longe. Atrás, levanta-se uma nuvem de poeira que torna difuso o caminho. À frente, a nitidez dos contornos da aventura que aqui iniciava. Ia fazer canoagem.

 

Parámos numa enseada, uns bons quilómetros depois.

Alinham-se as canoas. Agrupam-se os pares. Aperta-se o colete. Pega-se na pagaia. Ouvem-se as instruções dos monitores. E partimos. Deslizamos suavemente no rio. E é nesse momento, quando se vê o rio de “dentro” que a beleza do seu leito e o encanto das suas margens se revelam.

Neste percurso, o Tejo nem sempre corre aberto nos campos. Nem sempre os salgueiros o aconchegam nos seus braços. Nem sempre as suas águas desnudam os seixos redondos do fundo. Surpreendentemente, o rio afunda-se em abismos de zonas escuras. Outras vezes, trava uma luta contra rochas pontiagudas, ou enreda-se em remoinhos estranhos. Revolto, parece correr contra o próprio destino que o aguarda na foz. Nestes pontos, rochas escarpadas e abruptas descem até ao rio. Sem margens suaves para se alargar, aperta-se nesses corredores de pedra.

As canoas saltam e sua progressão lenta, cede lugar a uma rápida descida. Salpicos refrescam o corpo, ou massas de água atingem-nos de rompante. Depois, tão depressa como se iniciou, tudo volta a ficar sereno. De novo, as pagaias impulsionam delicadamente a canoa. Em movimentos ritmados progride-se rio abaixo.

Olho para trás. As canoas reagrupam-se. São pinceladas coloridas como pingos de tinta caídos na água.

 

O sol começa a descer no horizonte. O rio assume tonalidades fortes de azul e prata. A luz refletida, ofusca o olhar.

Ao entardecer, as aves regressam aos ninhos em chilreios estridentes. Nos mouchões, para os lados de Salvaterra, será a hora de milhares de garças brancas se empoleirarem nos ramos onde pernoitam. Mais à frente, flamingos rosados procurarão a última refeição do dia. Toda a Natureza descansará nos tons púrpuras da tarde. E o rio, pouco a pouco voltará a encerrar os seus segredos aos visitantes.

 

 

No dia seguinte, experimentarei uma sessão de esgrima. Mas isso será uma outra história, também ela de olhos postos no rio. Por hoje, depois do convívio ao jantar, deixo-me envolver pela escuridão da noite. Olho para o céu de um negro profundo, tão cintilante de estrelas como nunca tinha visto. É o céu que se vislumbra longe das luzes artificiais dos candeeiros das ruas. Aqui, há apenas paz e a ilusão de se poder tocar no firmamento; E a certeza do rio que corre perto.  

 

Ana Paula Pinto

Julho de 2011

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


mais sobre mim
Julho 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
13
14
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
28
29
30

31


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO