"Meu caminho pode não ser o teu caminho. Contudo, juntos marchamos de mãos dadas" Khalil Gibran
Há muitos caminhos. Demasiados, quando a doença responde por um único nome: cancro. O meu caminho pode não ser o teu caminho, mas na partilha deste terrenos desconhecido, qual demónio sanguinário, atenuam-se alguns receios. Outros nem tanto. Precisamente porque existem muitos caminhos e, ainda mais, perguntas por responder.
Os medos enfrentam-se. Não se desvanecem apenas porque se foge, ou desvia a atenção. Continuam lá. Latentes, silenciosos, terríveis. "Quebrar o silêncio" (LPCC) é desvendar alguns trilhos do caminho desconhecido que só se faz percorrendo. Alguns quebram o silêncio, desde a primeira hora. Outros permanecem em silêncio, mesmo para além da "hora"...
O mistério da morte continua por revelar. O mistério da vida revela-se a cada passo. E na vida, a necessidade de segurança, de certezas, ainda que, apenas o certo, seja somente incerteza, impera.
Na fragilidade humana, no imediatismo tangível, ou no desconhecido intangível, existe a necessidade de algumas constãncias. Ainda que se necessite na mesma proporção de desafios e projetos. De partidas e chegadas. De portos de abrigo, após batalhas travadas; com o "eu", ou com os "outros". Existe a necessidade de raízes, de símbolos, de ritos e rituais que nos remetam para o lugar aonde pertencemos, para a família de onde provimos, para o espaço a que chamamos lar. Por isso, celebramos datas e momentos. Por isso, comunicamos através de símbolos. Por isso, assumem importância os memoriais. Estes são uma forma encontrada para fazer presente quem partiu. Os memoriais podem expressar-se em melodias, em poesia, em qualquer forma de expressão, ou simplesmente, em passos de corrida.
A Margaret partiu, mas ficou a necessidade da sua presença. Ficou a necessidade de recordar a sua luta, a constância da sua determinação de viver e vencer. Não houve, nem há lugar à cedência ao fracasso, à desistencia, à incapacidade. Quando a doença lhe roubou "os passos", decidi que os meus passos seriam também os dela. Desde há 5 anos que o faço. Tenciono continuar a fazê-lo. No início foram poucos os que me acompanharam. Hoje, muitos me dizem "corro com ela no pensamento".
Não poderia celebrar a Páscoa sem correr "em nome da Margaret". Dias antes de partir, confidenciou-me um sonho que tivera. Dançava... "E sabes, mãe, a sensação melhor que tive? Foi a de me sentir de pé".
E de pé, de corpo e espírito vou correr em Constância em tua memória. Por ti e por todos aqueles que sabem "morrer de pé." Por todos aqueles que sabem "viver de pé". Com desassombro. Com transparência. Com coragem. Com honestidade. Sempre de pé, porque a vida não nos derruba. E a morte não nos faz esquecer a constância da necessidade de manter viva a tua memória.
Sempre de pé. E em passos de corrida, porque a única paragem será a derradeira. Até lá, temos muitas "Metas" para chegar e muitas "Provas" a vencer.