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Minha Casinha (versão original) - 1943
Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.
O meu quarto lembra um ninho
e o seu tecto é tão baixinho
que eu, ao ir para me deitar,
abro a porta em tom discreto,
digo sempre: «Senhor tecto,
por favor deixe-me entrar.»
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
De manhã salto da cama
e ao som dos pregões de Alfama
trato de me levantar,
porque o sol, meu namorado,
rompe as frestas no telhado
e a sorrir vem-me acordar.
Corro então toda ladina
na casa pequenina,
bem dizendo, eu sou cristão,
“deitar cedo e cedo erguer
dá saude e faz crescer”
diz o povo e tem razão.
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
Autores: Silva Tavares e António Melo
A nossa casa é o nosso lar. Mais que quatro paredes onde encontramos refúgio contra as intempéries é o porto de abrigo onde encontramos segurança afectiva, onde readquirimos ou mantemos a estabilidade emociona e onde repousamos da vida atribulada do "fora de casa". É o nosso espaço de partilha. O nosso ponto de encontro. O tanque das nossas mágoas. A fonte que mitiga a nossa sede. A nossa casa é a nossa família. Onde quer que se esteja. Para onde quer que se vá. A nossa casa está onde estivermos unidos. Por isso lhe chamamos lar. É ao aconchego do lar que ansiamos retornar. É no bulício do lar que descansamos da labuta. É na alegria do lar que afogamos as tristezas.
O nosso lar não sãos as paredes caidas de branco ou pintadas de qualquer cor. São os alicerces do que somos.
A minha casa é o coração com que cresci.
A minha casa é a alma que passeio nas vielas mais sombrias.
A minha casa é o sorriso com que brinco no jardim do meu bairro.
A minha casa é o poço das minhas recordações.
Aqui, ao alcance da chave que não força a fechadura.
A minha casa sou eu e o meu mundo. Sou eu e quem me espera. Sou eu e quem existe. Sou eu e quem não está lá. Sou eu e essa presença que distingue a "minha casa" de outra casa qualquer.
Eu quero voltar a casa.
E nem sequer tenho casa. Mas tenho outras casas. E o sonho que respira nas casas onde habito.