Escrevi muito e apagou.se. Não é importante. Talvez só seja para que estas palavras evitem e substituam outras palavras.
Fica aqui a sapatilha. Triste e solitária. Sozinha, como eu.
Tal como chegou o gosto pelas corridas, assim partiu. A sapatilha e eu já trocámos umas palavras profundas. Temos uma relação de amor-ódio. Vou esquecê-la por uns tempo. O tempo não se pode predizer.
Sei que ela não me vai esquecer e mim. E eu não a vou esquecer. Éramos unidas. Eu ouvia as palmas e ela os gracejos.
A alma tornava-se mais leve e os pesadelos pareciam esfumar-se no ar.
Gostava de conviver com as caras conhecidas e sorrir aos desconhecidos; do esforço da subida e da dificuldade na descida.
Adorava ver a palavra "Partida" e, ainda mais, a palavra "META". Meta queria dizer "cheguei" e o primeiro tefelonema era para ela...depois, sem "telefonemas", continuei a correr, sempre em direcção à meta, com a uma estrelinha de cristal azul ao pescoço...
Não há certezas na vida. Mas duas existem. Duas certezas na vida, um ponto de partida e outro de chegada, preenchidos com aquilo a que chamamos vida. Nascer e morrer. Entre um e outro estiveram as minhas sapatilhas e muitas, muitas outras coisas...
Eu e as minhas sapatilhas
eu e um projecto de corrida
eu e uma promessa que queria cumpir
eu e os 30 km de Portalegre
Talvez não volte aos "saltos altos", mas sei que por enquanto "arrumei" as sapatilhas. Já tinham sido mandadas para um armário, há um tempo atrás. Porém, depressa voltaram a pisar alguns trilhos. Agora, voltam para a escuridão de uma porta fechada.
Gostei.
Talvez voltem a sair para a poeira de uma berma de estrada ou para a areia molhada da praia. Talvez me voltem a conduzir a um reino de fantasia e às histórias de "faz-de-conta". Não agora.