A meio da manhã, dissipado o nevoeiro, resplandece o sol num céu quase tão azul como o "mítico" Nilo Azul.
É hoje, decido. Visto uma roupa ligeira, calço umas velhas sapatilhas e vou em busca de um prazer quase esquecido: correr. Comungar com a Natureza, perder-me nos mesmos cheiros frescos de terra molhada e pisar caminhos lamacentos. Rosto virado ao sol, absorvo a energia única do cálido sol de Inverno.
Tudo estava quieto. O tempo não tinha tempo. Ao redor, árvores despidas, caídas as folhas, há muito amolecidas no chão; quase apodrecidas; quase, novamente, vida.
Pisei lama, musgo, pedras e folhas. Vi a represa de águas verdes e turvas. Vi os patos que resistiam ao Inverno. Vi o brilho do diamante das gotas de orvalho nas urzes e no rosmaninho por florir. Ouvi o chilreio de alguns pássaros e deixei-me guiar pelos caminhos abertos e pelos que se insinuavam no pinhal.
Durou um pouco menos que vinte minutos, mas valeu por todos estes meses de inactividade. Cada instante valeu mesmo por toda uma vida. Por cada vida ceifada no desabrochar da Primavera.
Sorri. Sorri muito.
E num jogo de luz e sombras, corri no Parque do Bonito. Um pedaço de sonho improvável, de mão dada às sólidas linhas de ferro. Um entroncamento de emoções.
Passos hesitantes...um pouco mais firmes...mais fortes ainda...decididos.
O ar que respiro, respiram os choupos também. Adormecidos, aguardam. Lua erguida no céu...sol no horizonte...repetidamente, até à explosão de vida.
Eu e a Natureza. Unidas. Assim será, até que se complete o meu ciclo.
Já nem me lembrava de como era bom...
foto retirada de http://static.panoramio.com/photos/original/3405612.jpg