Um obrigada ao António Pinho que foi o "meu aguadeiro" (partilhando a sua água nos intervalos dos abastecimentos)
As fotos são propriedade da AMMA - http://www.ammamagazine.com/
Lisboa vista de dentro
Por que não correr? Uma forma de assinalar a luta dos trabalhadores pelo direito a uma vida laboral mais digna, iniciada em 1886.
Mais de oitocentas pessoas dispuseram-se a correr. Eu fui uma delas. Prova emblemática no calendário desportivo da "corrida", num dia de grande simbolismo para quem, com suor, ganha o pão de cada dia.
Vimos Lisboa com outros olhos. Um novo olhar sobre a "Princesa do Tejo"...o bulício da cidade cedendo lugar à paz de uma manhã soalheira, com o tempo escorrendo devagar, ao compasso dos passos de corrida.
Por momentos, as Avenidas foram apenas abertas à luz e ao colorido dos que as tomavam de "assalto". Contidos os roncos surdos dos motores e a agitação de quem passa sem ver, na pressa no dia-a-dia.
Lisboa das sete colinas, Lisboa do Tejo, recordando uma Lisboa de outras eras, com o espelho azul ao fundo.
Com partida e chegada no Estádio 1º de Maio, correu-se no coração da cidade.
Organizada pela União dos Sindicatos de Lisboa, a prova percorre as principais avenidas e praças. Ponto alto, sem dúvida, é a visão da Rotunda do Marquês de Pombal, a descida da Avenida da Liberdade e a passagem pelo Rossio. Lisboa dá-nos a dimensão da sua grandeza, da "história" falada das fachadas antigas, das mansardas sobranceiras às copas frondosas de árvores seculares, dos nichos e azulejos, das fontes e das estátuas. Cheira a fado e a boémia...
Não é uma prova difícil. Apesar do conceito de dificuldade ser tão subjectivo... Além de uma pequena subida à saída de um túnel, apenas a Avenida Almirante Reis representa uma subida (muito suave apesar de longa).
O Trânsito esteve cortado com muitos agentes policiais, da organização e voluntários a orientarem o percurso. Os abastecimentos de água funcionaram na perfeição, prolongando os seus pontos de entrega ao longo de vários metros.
À chegada, houve lembanças para todos: uma t-shirt, uma garrafa de água e uma medalha alusiva à prova.
Para os melhores atletas, troféus vistosos, expostos à entrada do Estádio, junto ao pódium, faziam desejar a qualquer um, uma melhor classificação.
Eu, "pseudo-atleta", apenas posso almejar chegar ao fim de cada prova. Mas nem por isso, a minha corrida é fonte de menos prazer.
Prazer partilhado no convívio com os amigos antes, durante e depois da prova. Neste "durante" tive a agradável companhia dos atletas António Pereira e António Pinho.
Esta era a canção que ecoava no Rossio.
(Fala do Homem Nascido)
Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
..............
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
...................
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
António Gedeão