Enquanto escrevo, recordando o dia de ontem, chove. Vejo a chuva forte, cair na copa das árvores e deslizar na vidraça. Parece que ouço mil violinos e, de entre eles, um sobressai... Vejo o contorno elegante da Margot, vestido preto, comprido, nos seus modos delicados de colocar o violino, hesitar em arrancar as primeiras notas e depois mergulhar na magia do momento...
Não sei porque, hoje, me lembrei disto...deve existir uma razão para esta associação de ideias...chuva, cheiro de terra e música de violino...Sei que, de cada vez que chove, a avó se entristece "A chuva cai em cima da minha menina...". - "Mãe, onde a menina está, não chove"...
Talvez seja por isso... Não consegui evitar que partisse e que repouse agora à chuva, alguns metros abaixo...
Sempre tivemos um fascínio pelo Oriente. Eu e ela. O misticismo, o exotismo, os cheiros e as cores, a cultura, a beleza... Oriente do sol nascente e berço de mistérios prolongados em olhares escuros...
A Corrida do Oriente remeteu-me para terras longínquas e apenas imaginadas. Fantasias de mente que divaga enquanto as pernas correm.
Um sol, uma ponte unindo margens e a inscrição "Corrida do Oriente" transportaram-me por "mares nunca de antes navegados".
O sol ilumina e alenta a vontade de ir mais além. Para lá do conhecido, vencendo fronteiras criadas nas histórias aterradoras de mostros marinhos engolindo tripulações inteiras; de noites tenebrosas de borrasca; de vagas quebrando mastros; de sereias encantando a solidão de homens rudes...
Cada corrida é uma descoberta. Uma partida, uma aventura e um final incerto... Constante é a amizade de quem está sempre ao lado... e as "Tormentas" dão lugar à "Esperança" ... "metade já passou"... e mais à frente: "já só faltam 3 km....faltam 2...." "já chegámos..." e eu qual velha do Restelo, contrariando a sua energia positiva, já mereci o cognome de "Rabugenta"
8º Edição da Corrida do Oriente... corrida agradável e muito participada. O meu dorsal permitia-me imaginar cerca de dois mil...talvez um pouco menos. Um percurso citadino, mas num ambiente de tranquila quietude. Como se a paz e o verde dos campos se unissem às alturas das cidades.
O piso, muitas vezes, empedrado é o único factor de dificuldade, num percurso sem desníveis, quase tão plano como o mar-chão que se adivinha bem perto.
Terminámos a prova com o tempo oficial de 56 minutos.
Adorei a "caneca feliz" (baptizei- a assim). Gente risonha que corre,braços erguidos abraçando a vida que (re)começa, como o sol que se levanta...