São as vinhas em socalcos. As videiras em latadas, com cachos entrelaçados, subindo a encosta do Douro. São memórias aromáticas de visitas fugidias aos avós paternos...
Minha avó Beatriz era loura, alta, de olhos verdes como a minha irmã. Meu avó José era moreno, lábios carnundos e olhar profundo, como o meu pai. Dizem que me assemelho a eles.
Da avó, a minha irmã herdou a elegância, o porte altivo que nem os anos subjugaram.
Eu, acho que herdei o temperamento brejeiro e a teimosia de quem ri de si mesmo.
Por lá ficaram as vinhas, as cerejeiras, os castanheiros e as nascente de água fresca.
... recordo o cheiro intenso da terra abençoada; do vinho verde intenso e escuro; do arroz no forno;
... rrecordo o uivo perdido ao longe, na névoa da serra;
... recordo o tom pardo da pedra das ruas e das casas, com o branco à mistura...
... recordo a alegria de chegar...noite alta, mais altas as estrelas e a lua branca, no negrume do céu...
... recordo ainda, anos depois, menina e moça, uma serenata que alguém cantou e tocou numa viola, sentado num muro de pedra, debaixo da janela do quarto onde dormia.
... recordo o toque áspero dos lençóis de linho e um cheiro a pureza...
... talvez a pureza da infância...
Há muitos anos que não vou ao Douro. As raízes estão lá, como as memórias de cheiros, de cores e de sabores que teimam em não morrer aqui.
A prova? Bem, a Meia Maratona já será outra história...
(mas dúvido que haja história...)