Se correr aos "lusco-fusco" já é aliciante, correr ao lado do sol e abrir a janela para a noite, é fascinante.
Fascinante, misterioso, mágico, tal como a prova, assim é a "fortaleza" de Óbidos. ´
http://www.portugalvirtual.pt/_tourism/costadeprata/obidos/ptindex.html.
Entrar em Óbidos é penetrar no mundo mágico do passado. Como livro escrito a tinta nos tons do fantástico e maravilhoso infantil, assim se desfolham as estórias e a história da sempre vila medieval.
A partida simbólica do páteo do castelo exalta a emoção que turva o olhar, qual cavaleiro que parte para conquistas incertas levando no peito ardente desejos de vitórias.
O dia esteve lindo. Céu azul, calor imenso, sem uma brisa sequer. Ao longe, ouvia-se o bramido do mar para além da forma arredondada da lagoa...
Parti com sol. "Assaltaria" o castelo noite dentro...
Receosa da "empresa" que abraçava, inscrevi-me no Trail mais curto, com a distância de 22,3 Km. Mas, fiquei com fome de trail...Apesar do tempo gasto (3 horas e 3 minutos) a prova decorreu sem dificuldade. Nada que se possa considerar "intransponível", nem sequer as escadas que rodeiam o castelo, ou a subida a pique cerca do quilómetro 16. O espírito de trail é diferente do espírito da "estrada". No trail saboreia-se cada metro, o olhar repousa na paisagem, o apoio mútuo é constante. Eu apoiei e fui apoiada. Sem frontal que me permitisse ver na escuridão, guiava-me pelas luzes do que corriam mais perto. Sim, mais perto que as estrelas, pois essas pareciam tão perto, mas tão longe afinal...Por vezes, tive a sensação de que lhes podia tocar...outras, parecia que me elevava até elas, ou que Marte corria ao meu encontro...
Entre amoras roubadas nos valados, um gracejo e um sorriso o percurso ia-se esgotando. Nos pinhais a areia fofa amortecia o impacto da corrida. Aqui e ali uma descida mais íngreme ou uma subida acentuada obrigavam a um maior cuidado. Os quilómetros assinalados aos 5, 10 e 20 eram recebidos por mim com uma salva de palmas que se estendia ao pequeno grupo que seguia perto.
E surgiu um cordão bordado de luz intensa roubando o brilho das estrelas. Porém, o brilho de quilómetros de prazer, em arrepios suaves na pele, permanecia. E permanece. Muito para além do virtual. Além das palavras. Além da objectividade dos números. Número de inscritos; número de quilómetros; números de horas e minutos...impera a subjectividade de quem correu ao lusco-fusco. E do dia se fez tarde e a tarde se fez noite. E na noite desceram estrelas trémulas e saltitantes no aroma intenso dos pinheiros, nos campos cultivados, nos silvados de amoras. Ao longe o mar rugia. Perto, tão perto dentro de nós, a acalmia de correr no entardecer de um dia perfeito e na suavidade de uma noite de veludo...
Uma prova a não perder. Uma organização excelente. Abastecimentos fartos, (os intermédios de líquidos e na Meta em sólidos e líquidos). Apenas uma pequena observação: as instalações sanitárias que ficam logo abaixo da muralha do páteo do castelo deveriam estar abertas até que todos tivessem chegado e partido...apoiaria atletas e acompanhantes.)
http://trailnocturnodalagoadeobidos.blogspot.com/
(Estive rodeada de pessoas fabulosas. Famílias onde impera a concórdia, a cumplicidade e a união. Comigo partilharam tudo quanto são e tudo quanto têm. E este "tudo" foi tudo. Obrigada Orlando e Leonor, Carlos e Lina, Mafalda e pais. Ao António também, meu amigo das corridas e destas "andanças" em que o "obrigo" a estar.
Gostei muito de conhecer alguns atletas pessoalmente, uma vez que só os conhecia da partilha neste mundo virtual, em especial José Xavier e Amélia. Pode ser que, um destes anos, seja viável uma Maratona na Holanda.
Ao casal Almeida, Mota, Dias, Fonseca e a muitos outros que em família, com amigos ou individualmente escolheram o aroma da ginja e do chocolate para pretexto de corrida, fica a promessa de novo encontro em Setembro)
As fotos são retiradas do álbum do José Xavier