Muito se fala do "império" materialista. Muito se discute a crise de (alguns) valores. Parece tudo, ou quase, condenado à frieza de quem passa pelo outro sem o ver. Olhares apressados, vazios, apáticos. Passos que se afastam do próprio eco, como se o "eu" escondido fugisse de si.
Hoje, alguém parou. Andou uns metros. Hesitou. Voltou atrás. Umas palavras. Para sossegar a inquietude.
-Precisa de ajuda?
Assim. Simplesmente.
Olhei para a pessoa que ali estava, parada, confiante, pacífica. Percebi que ainda há quem abrande o passo. Quem volte atrás. Quem se importe.
-Precisa de ajuda? - repetiu.
E tudo quanto consegui fazer foi continuar a olhar. Depois, senti as lágrimas chegarem, mais repentinas que aquela mão estendida. Desviei o olhar para o motor do carro calado. Para o telemóvel inutilizado. Para a estrada deserta.
- Obrigada.
(obrigada;)