Queria dizer-te que corri…
Atravessei as ruas adormecidas. A manhã acordava no eco dos meus passos. E eu acordava neste dia que sorria.
Manhã cedo, corri contigo. Levava no corpo o teu cansaço e no peito o teu nome. Eu corria. Tu, apenas, ias comigo…
As marcas da cidade ficaram para trás e mergulhei na quietude verde daquele espaço que conheces. Sereno e tão tranquilo. Sabes, é como se chegasse a um recanto mágico. Como se uma porta se abrisse para um mundo paralelo. De silêncio e paz. Não; de chilreios e de vida.
As aves despertam cedo. Saltitantes cruzavam o meu caminho, debicando, aqui e ali, alimentos que não via. Nada mais se mexia. Nem o verde dos pinheiros, nem a cor parda dos ramos nus erguidos nas margens do ribeiro. Era apenas eu e tu. Sob os pés a relva macia em pequenos tufos. Aqui e ali, malmequeres que despontam atrevidos. Onde a relva não venceu, um tapete de folhas que se fundem, pouco a pouco, com a terra. Numa união perfeita, as folhas morrendo, a terra ganhando vida.
Senti-me forte. Corajosa. Livre. Como há muito tempo não sentia, ou talvez nunca tivesse sentido. Corri pelo trilho habitual. Não hesitei quando saí da segurança do parque. Destemida embrenhei-me mais naquela solidão de mato orvalhado pelo frio da noite. Ia correndo...
A corrida é uma paixão. Uma chama que cresce em nós. Alastra, queima, mas não consome.
Por isso, queria dizer-te que corri. Que corro, mesmo quando não corro.
Sei que me cruzo com gente no regresso.
Parti com um brilho no olhar. Chego com um sorriso no rosto.