Já não me sinto "atleta". Deixei de me sentir "corredora".
Os treinos deixaram de fazer parte da rotina e as provas são, cada vez mais, esporádicas.
Voltei para casa ao final da tarde. Frequentemente, encontro no caminho homens e mulheres que correm na berma da estrada. Devem ser jovens militares que, entre Tancos e Praia do Ribatejo, correm em pequenos grupos, ou isoladamente. Costumo abrandar o carro e ficar a olhar pelo retrovisor. Ao início, sorria-lhes. Sentia-me "companheira" do seu esforço, cúmplice do prazer que se adivinhava, em cada gota de suor.
Perdi a vontade de sorrir-lhes, porque perdi, não sei onde, a motivação para correr. Agora, o meu sorriso seria intruso num grupo de quem, pouco a pouco me, vou desligando.
Durante a semana, adio de segunda para terça, o treino projectado. Depois de terça para quarta... para quinta...para sexta...
A semana é preenchida com muitas "corridas" sempre em "contra-relógio". Quando ao entardecer, ultrapassados todos os "controles" (ou controlos, como preferirem), a "meta" se aproxima, sinto-me exausta. Exausta fisica e emocionalmente, sobretudo. Gastei as energias e sinto-me como, quando em dias quentes numa prova maior, tinha uma quebra de açúcar. Anseio pela paragem e pela "reposição" dos "valores" em quebra.
E assim, dia a dia, vou voltando costas ao prazer antecipado de calçar as sapatilhas e sair ao encontro da corrida.
Não tenho emoções de provas para partilhar, nem sínteses de treino para fazer. Mas tenho uma tristeza imensa por não correr.
Vou esforçar-me por voltar a sentir legítimo o sorriso quando me cruzo com quem corre.
Continuo a "acompanhar" os meus amigos deste mundo da corrida, embora "espreite" discretamente...
Boas Corridas!