Por vezes, fechamo-nos tanto nos nossos pequenos casulos que qualquer esforço, ainda que mínimo, para sair deles, se assemelha a vencer falésias escarpardas...
Creio que, uma vez mais, eu estava a cristalizar-me no meu casulo. Lutei comigo e a "outra alma", aquela que não desiste, venceu. Parabéns à "tipa".
Hoje, treinei no Parque da Paz.
Ainda bem que existe este óasis verde, perdido na selva de cimento.
Encosta acima, o arvoredo e as flores transportam-nos para um autêntico cenário campestre. O esvoaçar de melros, pardais e gaios completa o quadro...Acima, no céu azul cegonhas planam, majestosas...
Nos imensos espaços relvados e nas imediações dos lagos, patos bravos e garças passeiam calmamente, indiferentes às muitas famílias que aqui vieram com os seus pequenitos.
Escolho as veredas circundantes do Parque, aquelas que mais fazem lembrar o campo e corro...sinto o cheiro dos pinheiros e das giestas...subo até ao alto, até onde é possível chegar...ao subir, é o verde que nos guia...
Desço...Tenho que treinar as descidas. Dói-me a coxa. Esta dor, permanece. Teima em prender-me os movimentos. Sinto-me presa, não consigo...dói cada vez mais. Receio pela Corrida dos Sinos. Ah! Como eu quero imaginar que os sinos a repicar alegremente, numa saudação de vitória à minha corrida e ao meu esforço! (Pois, não pode ser menos que os carrilhões de Mafra a prestrar tributo, aqui à "meia-lesma")
Emociono-me sempre ao ver os braços estendidos do Cristo-Rei. Ele vela por nós, por esta e por "aquela margem"...
Vejo-O ao descer e desço com os olhos Nele.
Vejo-O da minha janela ao levantar-me.
Vejo-O do terraço quando me deito.
Ele lá está, sempre. Numa postura um pouco curvada, como se quisesse colocar-se ao nível dos homens, como um amigo mais alto faz para ouvir as confidências do seu amiguito mais baixo...Dele transborda carinho e ternura...
Vou pensando nestas coisas e elevo uma prece até Ele.
Termino o treino com cansaço e com algum esforço. Quando volto para o carro, sinto-me irritada e frustrada. Afinal, porque a minha performance mudou tanto? Claro que sei a resposta. Mas não tenho paciência para este "devagar se vai ao longe". Quando quero, quero e pronto. Porque não há-de ser assim também na corrida?
Sempre achei que uma vida é muito pouco para fazer tudo o que queria e cada vez me dou mais razão a mim própria. A vida deve ser como o chocolate. É mais rico, recheado...
Por favor, alguém invente uma maneira de viajar no tempo! Eu quero voltar atrás quando estiver prestes a ver a "linha de chegada". Tenho tanta coisa que fazer...