47 minutos!
Depois de quase quinze dias sem correr, o treino de hoje foi duro. É certo que, durante estes últimos dias, fiz algumas caminhadas. Subidas acentuadas, descidas abruptas, quilómetros sob um sol quente. Mas caminhar não é a mesma coisa, se bem que os músculos se tenham ressentido e acusado o esforço. O objectivo também não era treinar. Era apenas descobrir, desfrutar, viver intensamente a paisagem que se oferecia diante dos olhos. Senti-la. E sentia. Como a senti! Imensa. Deslumbrante. Contrastante. Ora verde e fresca. Ora seca e árida. Em comum, o azul do céu confundindo-se com o azul do mar.
Subi acima das nuvens. Vi-as surgir do nada. Subiam do mar. Ganhavam forma trepando a montanha. Envolviam-na e corriam na outra vertente, encosta abaixo. Engrossavam tornando a luz do dia difusa, como um banco de nevoeiro. Uns metros à frente, os raios de sol. Atrás, num cume próximo o calor constante, mas aqui, neste ponto rasgado do maciço, o ar arrefecia rapidamente; a vegetação brilhava em pérolas de água; e o vento irado levantava-se em rajadas, talvez em protesto contra os assaltantes que aqui se aventuravam.
Desci em direcção ao mar. Serpenteando as montanhas em voltas rápidas como abraços dados de fugida.
Voltei a subir. De repente, a paisagem muda. De verde luxuriante transforma-se em tons ocres, cinzas e negros. A rocha escarpada ostenta as diferentes camadas de rocha e sedimentos, ilustrando o seu processo de formação. A grandeza das escarpas acentua a pequenez e a fragilidade da pessoa. Imponentes erguem-se sobranceiras ao mar. Abismos profundos que estonteiam o olhar. E eu ali, olhando, absorvendo a limpidez do meio, a pureza do ar, o silêncio envolvente.
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Caminhei...
Hoje corri. Amanhã voltarei (certamente) a correr. Trago em mim um pouco daquela magia. Momentos mágicos que se revivem correndo...