Nasci e cresci perto da confluência de dois rios. Cenário idílico de uma paisagem bucólica e romântica... O verde das margens concorre com a transparência das águas e o azul do céu.
Sou parte integrante desta natureza. Foi aqui que fui criança e me tornei mulher. Sentada no tapete fofo dos campos ou sob a copa de um salgueiro, ouvindo o rumorejar das águas, olhava o horizonte e deleitava-me. Deleite puro, feito de sonhos criados e vividos em breves instantes que desejava serem eternos... Nesse tempo, ainda não conhecia o gosto amargo dos sonhos destruídos, desvanecidos, usurpados pela amargura de uma existência sofrida. Afinal, quando se sonha, sonha-se em cores alegres como paleta de artista...
Eu sonhava e vivia.
Terra de poetas e pintores de ontem e de hoje...de gente simples, de sorrisos fáceis, de palavras amigas... Terra com história, terra de saberes e de sabores.
Foi na confluência dos rios que se cruzaram destinos...Unidos como estas águas claras, lançando-se num abraço inseparável, assim um olhar buscou o outro, as mãos alcançaram-se... entrelaçaram-se em silêncio.
Quebra-se o silêncio para dar testemunho de uma vida...tantas vezes é o silêncio que fala...
Palavras sempre poucas, sempre pobres perante a imensidão dos sentimentos. O coração sussura, afaga, acalenta, grita, angustia-se, desespera...O coração vive, mas nem sempre há palavras.
Há sonhos e palavras por desvendar. Para além do virtual continua alguém teimando em sonhar...
A.P.